Dez

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Encarando o visor do meu celular que indicava que já eram 8:30 AM e eu ainda estava deitado na cama. Era o segundo dia de aula e eu não queria levantar da cama e enfrentar mais um dia. Fechei os olhos e tentei voltar a dormir.

Sua mão escorregava pelo meu cabelo, sua voz era calma e doce, podia jurar que a minha mãe era um anjo. Seus olhos fixaram-se nos meus e eu pude ouvir ela dizer "tudo irá ficar bem, meu amor". Aquelas foi a primeira vez que eu tinha tido uma crise de ansiedade e ela estava ali para cuidar de mim, eu sinto que metade de mim foi embora com ela.

Acordei horas depois com o meu celular tocando, era a Chaewon, provavelmente preocupada por eu não ter ido para aula. Apenas recusei a ligação e fui para a cozinha procurar alguma coisa para comer. Não demorou muito e o som da campainha ecoou pelo apê pequeno, sabia que era a Chaewon e então apenas abri a porta.

— Soyeon? — Franzi as sobrancelhas surpreso.

— Oi — Abriu um sorriso amarelo enquanto levantava e abaixava seus ombros.

— O que está fazendo aqui? — Perguntei ainda encarando ela.

— Chaewon pediu para que eu viesse, ela teve uma emergência com o pai dela então não pôde vir — Colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Mas...

— Vai me deixar entrar? — Me encarou.

— Não, tchau — Fui fechando a porta.

— Younghoon, por favor...eu estou preocupada com você! — Segurou a porta.

Eu queria muito fechar a porta e ignorar ela mas o que a Chaewon tinha me dito no dia passado, me fez dar essa chance para a Soyeon.

— Droga, entra — Suspirei abrindo a porta e dando espaço para ela.

— Obrigada — Entrou.

Depois de fechar a porta fui para a cozinha e continuei a procurar alguma coisa para comer. Tenho que arrumar um emprego, a comida que recebi de doação dos pais da Chaewon já estavam acabando e eu não poderia aceitar viver de doação deles para sempre. Encontrei um pacote de miojo e comecei a pegar as coisas para fazer.

— A quanto tempo você não come alguma coisa saudável? — Soyeon perguntou se aproximando.

— A quanto tempo você se preocupa comigo? — Debochei.

— Precisa se alimentar bem — Pegou o pacote de miojo que estava em minha mão — Senta lá, vou fazer algo que não seja tão prejudicial pra sua saúde — Sorriu sínica me encarando.

— E você sabe cozinhar? — Soltei um riso nasal encarando ela.

— Espere e verá — Continuou sorrindo.

Deixei que ela fizesse o que estava disposta a fazer, apenas a observei. Soyeon estava diferente, não era a mesma garota que tinha acabado com a nossa amizade, ela realmente parecia estar se importando.

— Por que de repente começou a se importar? — Perguntei olhando para as minhas mãos apoiadas no balcão.

— Eu sempre me importei — Falou pegando um prato em um dos armários.

— Não parecia, você dizia que só tinha sido a minha amiga por pena e isso quando você não dizia que nem me conhecia — Olhei ela.

— Younghoon, nós éramos crianças quando eu falei que não queria mais a sua amizade, não entendia nada do que realmente era importante — Suspirou — Eu via o quanto a minha irmã era popular no colégio, o quanto meu pai estava orgulhoso por ela ser a filha perfeita e eu só queria ser como ela e naquele momento eu acreditei que você era um impasse pra que isso acontecesse, você era todo tímido e não gostava de ficar perto de outras pessoas. Eu fui muito egoísta em não entender que nada era mais importante do que estar do seu lado, não foi como se eu tivesse mentido sobre gostar de ser sua melhor amiga, você sempre cuidava de mim e quando eu deixei você, percebi que ninguém iria fazer isso como você fazia, ninguém se importava comigo e demorou muito pra mim vencer o meu orgulho e admitir que eu precisava de você — Ela falou deixando o prato no balcão enquanto seu rosto parecia estar molhado com lágrimas.

Eu culpei a Soyeon pelos meus problemas psicológicos, culpei ela por me sentir sozinho e não conseguir confiar em mais ninguém. Esquecendo que ela também tinha seus problemas, ela estava certa, éramos apenas crianças.

— Sabe o quanto foi difícil ver você dizer para as pessoas que eu era esquisito e que você tinha nojo de mim? — Continuei encarando ela.

— Uma parte de mim só fez isso por saber que se eles te conhecessem verdadeiramente saberiam o quanto você é um garoto legal e inteligente, não queria que ninguém tomasse o meu lugar — Me olhou — Mas isso mudou quando a Chaewon apareceu, ela até conseguiu fazer você ir para o baile, coisa que você nunca fez — Revirou os olhos se sentando.

— Como assim? — Perguntei confuso.

— Só consegui vencer meu orgulho por causa que eu percebi que a Chaewon estava se tornando tudo aquilo que eu já tinha sido pra você — Abaixou o seu olhar lentamente.

— Se ela não tivesse aparecido, continuaria sendo daquele jeito para sempre?

— Não sei, me perdoa, por tudo — Mordeu o lábio, ela fazia isso na tentativa de segurar o choro — Quando eu soube da sua mãe eu não aguentei, durante muito tempo ela foi como uma mãe pra mim e eu sabia que você tinha perdido tudo, ela era o seu tudo e você a perdeu — Sua voz saía trêmula — Eu só queria estar do seu lado, só queria apagar toda a dor que eu fiz você passar...então me perdoa por ter sido tão egoísta — Falava em meio as lágrimas.

— Soyeon... — Levantei sua cabeça devagar.

— Ela me odiava por eu ter magoado você e eu nem pude pedir perdão pra ela também — Continuou falando.

— Ei! Ela nunca te odiou, ela me falava que você só estava confusa e que logo iria perceber — Sequei seu rosto — Eu perdôo você, obrigado por ser sincera — Abri um sorriso pequeno.

— Obrigada! — Me abraçou forte.

Aquele abraço me fez sentir que estávamos voltando ao passado, onde Soyeon corria até os meus braços chorando por ter caído e meu abraço fazia ela se sentir mais segura. Eu tentei manter ela o mais distante possível mas a minha mãe estava certa, nosso sentimentos e dores nos enganam e quando menos esperarmos tudo está se alinhando, basta que a gente permita isso acontecer.

Depois daquela conversa, Soyeon terminou de preparar a comida. Comemos juntos e conversamos sobre algumas coisas até dar o horário dela ir embora. No final foi até bom, sentia que todo aquele sentimento de rejeição havia ido embora e o sorriso da Soyeon antes de sair pela porta reanimou o meu coração que parecia ter parado nos últimos dias.

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