Nove

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Você já perdeu alguém especial ou alguém que você daria a vida? Se você já perdeu sabe como é perder todos os sentidos. Após trinta dias o corpo da minha mãe foi encontrado sem vida, e toda a minha esperança foi embora. Saber que eu nunca mais vou poder sentir o seu abraço ou ouvir ela reclamar sobre qualquer coisa que eu tenha feito, me faz querer desistir de tudo.

Disseram que ela tinha escorregado e caído no rio e assim acabou se afogando. Claramente não acreditei nisso, mas eu nem conseguia pensar muito.
Não fui no velório dela e eu sei que muitos estavam me julgando por isso, eu só não queria ter a imagem dela ali.

Meus parentes vieram e tentaram me convencer a ficar com eles mas eu preferi ficar sozinho, os pais da Chaewon estão me ajudando com o aluguel por enquanto.

Foram meses longos e doloridos. O ano passou e eu acabei perdendo uma série então teria que repetir ela. A família da Chaewon me acolheu bastante durante esse tempo e eu posso dizer que não surtei totalmente por conta deles.

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Era o primeiro dia de aula e eu estava bem preocupado de como seria, desde que tudo aconteceu eu não havia pisado no colégio e fazer a mesma série com certeza não seria nada muito empolgante.

Enquanto pegava minhas coisas no armário senti alguém se aproximar. Olhei para o lado e pude ver Soyeon me encarando com um olhar sem jeito.

— Oi...eu — Ela tentava falar.

Apenas fechei o armário e desviei da garota saindo andando para a sala.

— Eu sinto muito! — Ela falou em um tom apressado para que eu ouvisse.

Parei os meus passos e me virei para trás a encarando. Ela parecia estar nervosa.

— Obrigado — Falei brevemente e logo voltei a ir para a sala.

Entrando na sala notei alguns olhares sobre mim mas apenas ignorei me sentando em qualquer mesa que estava ali. Podia ouvir cochichos sobre mim e isso me deixava totalmente desconfortável, não tinha como ser pior.

Pude ver Soyeon adentrar a sala e se sentar em uma mesa vazia ao meu lado. Estranho ela estar ali, para ela estar na mesma sala que a minha ela teria que ter perdido a série também. Será possível que ela realmente repetiu?

— Parece que nós dois vamos ter que passar por isso de novo — Soyeon falou se virando para a minha direção.

— Por que reprovou? — Perguntei surpreso.

— Você não soube? — Me olhou sem jeito.

— Do que? — Franzi a sobrancelhas.

— Meu pai, ele sofreu um acidente um mês antes das provas finais e eu passei esse tempo no hospital com ele — Suspirou.

— Eu não sabia, ele está bem? — Engoli a seco.

— Sim, ele está se recuperando. — Ela sorriu parecendo aliviada.

— Que ótimo — Olhei para frente aliviado também.

— Como você está? — Falou ainda me olhando.

— A aula já vai começar — Abri meu caderno ignorando sua pergunta.

Soyeon estava tentando se aproximar novamente de mim e eu não conseguia evitar os fechos que eu dava nela. Por mais que pareça bobo o que aconteceu quando éramos crianças, teve um grande impacto no meu psicológico.

Tentando prestar atenção na aula notei que algumas vezes Soyeon me olhava fazendo com que trocássemos olhares. Não via a hora da aula acabar e eu poder sair de lá.

As três primeiras aulas pareciam infinitas mas finalmente veio o intervalo e eu pude sair de lá. Assim que pisei fora da sala senti os braços da Chaewon envolveram meu corpo e sua voz alta ecoar pelo corredor.

— Me desculpa! — Ela falava me apertando no abraço.

— Calma, primeiro me solta — Falei rindo baixo tentando pegar fôlego.

Seus braços soltaram meu corpo e ela me olhava emplorando por perdão.

— Você se atrasou né? — Cruzei os braços a olhando querendo rir.

— Sim, me desculpa. Eu prometi estar aqui com você quando chegasse — Olhou para baixo.

— Fica tranquila, não foi tão ruim — Baguncei seu cabelo.

— Ei! — Me empurrou fraco.

— É por você ter chegado atrasada — Soltei um riso breve.

— Vem, eu tô com fome — Envolveu seu braço no meu.

Caminhamos até o refeitório. Era tão estranho estar ali, os olhares ainda eram bem notáveis sobre mim. Não culpo eles, mas que me incomodava um pouco, sim. Apenas acompanhei a Chaewon, enquanto ela comia fiquei em silêncio pensando na sensação que estava sentindo naquele momento, era como se eu estivesse tentando evitar uma possível crise de ansiedade mas todos sabemos que isso é algo inevitável.

— A Soyeon, ela falou com você? — Chaewon perguntou enquanto comia seu lanche.

— Falou. — Respondi dando um breve suspiro.

— O que ela disse? — Me encarou.

— Que sentia muito pela a minha mãe e sobre o acidente do pai dela. Inclusive, por que não me contou? — Olhei para ela.

— Você estava, quer dizer, está passando por algo muito difícil, não queria trazer mais problema — Se explicou.

— Pelo menos ele está bem — Desviei meu olhar para a Soyeon que estava sentada em uma mesa próxima.

— Acho que deveria conversar com ela, sei que ela magoou você quando eram crianças mas isso já faz bastante tempo, da uma chance pra ela. — Chaewon sorria me olhando.

— Não é tão simples assim, é como se eu não conseguiria confiar nela. — Suspirei.

— Quando você estava fora por conta do que aconteceu com a sua mãe, ela tentou fazer com que você não reprovasse mas acabou que o pai dela sofreu acidente e ela também reprovou.

— Ela fez isso? — Olhei para ela.

— Sim, ela também sempre me perguntava de você e queria muito ir falar com você na minha casa, mas achei melhor não, falei para ela esperar o momento certo.

Não fazia idéia o porquê da Soyeon estar agindo daquela forma, se importando tanto, a Chaewon estava quase me convencendo de que a Soyeon merecia uma chance.

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O dia foi longo, não queria ter que voltar para casa, eu sempre tenho flashbacks da minha mãe. Os remédios tem me ajudado mas é como se eu nem estivesse vivo. Enfim voltei para casa, chegando lá apenas fui direto para o meu quarto me deitar.

A parte mais difícil é saber que tudo aquilo realmente aconteceu e que não era só um grande pesadelo.

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