Apenas nós dois querida

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Nuvens escuras pairavam no céu de São Francisco na tarde de sexta-feira. O ar parecia denso, frio e penetrantemente úmido. Durante todo o velório, eu chorei abertamente e incontrolavelmente, com Hope em meu colo e parado diante daquele caixão escuro.

O mundo ao meu redor parecia me esmagar com a dor, mesmo sabendo que isso estava por vir, não facilitou nada quando senhora Miller finalmente partiu. Aquela cadeira terrivelmente desconfortável era a extensão de minha consciência no momento, visto que outra parte do meu mundo foi arrancado.

O lugar completamente vazio, o silêncio misturado com as palavras do padre rezando a última missa.

Todo o cenário era quase demais para mim. O último funeral em que eu estive foi de Alisson, a morte dela deixou um enorme buraco em meu coração. Agora outra pessoa estava sendo enterrada diante de meus olhos, era tão doloroso viver isso de novo, eu relembrei do funeral da minha mãe. Eu tinha apenas oito anos quando ela morreu. Foi tão difícil dizer adeus, eu me lembro do meu pai me pegando em seus braços e dizendo que tudo ficaria bem, mesmo não tendo certeza se realmente ficaríamos.

Eu me lembro vagamente do choro fraco e baixo do meu pai todos os dias durante várias semanas seguintes, ele tentou esconde sua dor de mim e me proteger de vê-lo tão quebrado, mais a casa tinha ficado tão silenciosa depois que mamãe morreu. Meu pai tentou amenizar as coisas para mim, ele guardou quase todos os retratos que tínhamos com ela, ele segurou tudo sozinho enquanto lidava com a perda.

A bebida tinha sido seu escape durante um tempo, mas isso nunca fez a dor ir embora realmente. Então o tempo passou e ele ficou estável. Tudo foi resolvido, e ele era meu pai novamente.

Fui retirado de meus pensamentos quando o padre deu suas palavras finais antes que o caixão fosse baixado a quase dois metros de profundidade com a ajuda do coveiro. Ergui uma única rosa amassada, parecendo cada vez pior. As pétalas estavam ligeiramente murchas e faltavam algumas, mas mesmo assim era uma linda rosa.

O padre jogou sua própria rosa e pétalas no chão, então eu fiz o mesmo. A rosa desapareceu na sepultura quando pousou frouxamente no caixão.

Paralisado na lápide, não percebi quando o velho homem se despediu e foi embora acompanhado com o coveiro. O tempo passou, o sol lançando seus raios alaranjados sobre a cova semi-iluminada, lançando uma longa sombra sobre a grama. As estrelas começaram a brilhar, tornando o céu uma mistura de claro e escuro, mas eu ainda não havia me movido um centímetro.

— Vamos embora — falei, sem emoção em minha voz enquanto me dirigia calmamente até a entrada do cemitério.

Hope já estava dormindo em meus braços, ela estava tão alheia sobre o que estava acontecendo.

Caminhei lentamente até o estacionamento e fui em direção do Fiat Mobi branco estacionado perto do portão de entrada, com a mão livre destravei o alarme e ajeitei Hope no banco de trás em sua cadeirinha com a trava de segurança, por fim dei a volta e entrei no banco do motorista. E pela primeira vez naquele dia parecia que tudo era real, eu podia sentir meu coração apertando no peito enquanto mais e mais lágrimas desciam pelo rosto e se transformavam em soluços completos.

Novamente, era só eu e Hope sozinhos.

................

Alguns meses depois...

— Oh, olhe para você! — Gritei animadamente, a câmera em minhas mãos estava apontada para um tapete antes de focar em Hope de apenas 1 aninho e poucos meses.

— Isso querida, venha até o papai — chamei enquanto capturava a imagem perfeita de Hope tentando se levantar com suas perninhas bambas. Ela parecia um filhote de girafa tentando se manter em pé com suas pernas.

Hope conseguiu seu primeiro passo antes de cair de bunda no tapete, sua risada ecoando enquanto tentava levantar. Gargalhei por trás da câmera.

— Vamos meu amor, você consegue — encorajei observando minha filha se apoiar com as mãos minúsculas no chão e tentar levantar de novo.

Observei com admiração enquanto a criança andava desajustada em minha direção, os pés correndo rapidamente enquanto ria mostrando seus únicos três dentes de leite.

— Papa — ela dizia, sua língua enrolada tentando pronunciar a palavra que tinha aprendido a pouco tempo — Papai —

Me iluminei com os olhos escuros de amor 

— Isso Hope, você está conseguindo — minha voz era um fio enquanto chorava de emoção, Hope gargalhou e conseguiu alcançar minha perna, suas mãozinhas agarrou as barra da calça e enterrando o rosto perto do meu joelhos.

— Papa — a risada de Hope ecoou por toda sala. Ela estava olhando pra mim, seus grandes olhos verdes estão iluminados, mostrando sua outra origem.

Criar Hope é a coisa mais incrível que eu poderia fazer, vê-la crescer era fascinante e incrivelmente satisfatório. Em cada etapa de seu desenvolvimento é como se o mundo fosse uma bola de felicidade. Ensinar Hope a andar, falar e até comer sozinha era incrível, e como pai de primeira viagem isso parece ser muito mais emocionante.

Mas, acima de tudo, eu vou ensina-la como lidar com seus poderes de lobisomem, assim como ensine Scott a lidar. Eu suspiro, sabendo que não será uma tarefa fácil. Mas, com o tempo, Hope aprenderá a se controlar e viverá sabendo que não terá problemas em ser quem é, assim como Derek.

Me deixe ficar ( Stlaus )Onde histórias criam vida. Descubra agora