Capítulo 1 - Então eu vi você e eu soube

317 24 4
                                    


Runaan era o elfo da Sombra da Lua mais admirado entre seu povo, um assassino exímio, com um talento natural, hábil com o arco e a flecha, veloz e discreto. Ele era perigoso com suas espadas, mas terrível com seu arco e flecha – seus alvos nunca souberam quem o acertara. Era um jovem adulto muito bonito, com o corpo esguio e forte, embelezado ainda mais por seus longos cabelos brancos. Os mais jovens aspirantes a assassinos o invejavam, ele tinha o respeito dos mais velhos que não duvidavam que ele se tornaria o maior dentre todos eles, pois seu pragmatismo e lealdade eram valores dignos de um líder, e atraía os olhares não somente dos elfos da Lua no Bosque de Prata, mas também de alguns elfos do Sol, nas raras ocasiões em que ele e os outros partiam para a Montanha da Tempestade – os domínios do Rei Dragão.

Os elfos da Lua eram os melhores assassinos de Xadia, o que significava que suas vidas também duravam pouco. Portanto, não era de se estranhar que todos aguardassem ansiosos pelo festival da Lua Azul. Este era um evento anual em Xadia, a segunda lua cheia no mesmo mês. O poder dos elfos da Lua se tornava tão forte nessa ocasião, que os sacerdotes e sacerdotisas do Bosque de Prata podiam usar seus poderes para adivinhar o "par perfeito" entre os elfos. A união entre os escolhidos resultava em crianças com grandes habilidades.

Mas os efeitos não se resumiam a apenas um ritual para escolher um companheiro, as flores desabrochavam por toda Xadia – as perfumadas e as fedidas –, insetos brilhavam com cores bonitas de branco, rosa, amarelo, azul, roxo e verde. Elfos e elfas aposentavam as armaduras e roupas simples, para vestidos bonitos e camisas bordadas, a magia deixava o ar elétrico e os hormônios a flor da pele.

Era o Dia do Amor para os elfos, portanto as armas eram guardadas e um lindo festival era realizado, com música, dança, brincadeiras para as crianças e para os adultos, que riam e corriam como se fossem crianças outra vez, a comida era farta, e o vinho dos elfos afrodisíaco. A festa era tão popular, que era comum que muitos outros elfos viessem até o Bosque de Prata para participar do ritual e descobrir quem era o seu par perfeito.

Bom, esse ritual na verdade encontrava o elfo mais compatível possível, mas nem sempre seu amor verdadeiro. Isso era um evento raro, e muito celebrado no Bosque de Prata quando acontecia. Runaan era um desses casos, seus pais eram muito compatíveis, e muito respeitosos um com o outro em vida, e ensinaram ao filho tudo o que um elfo precisava saber sobre honra. Mas infelizmente, não souberam ensinar-lhe sobre amor. Do jeito que os pais explicavam, parecia ser mais um mito de histórias antigas do que um sentimento real.

E por isso, Runaan achou que tinha contraído uma doença fatal quando conheceu Ethari.

Algum tempo atrás, no finzinho de sua adolescência, os elfos da Lua prestavam um exame para selecionar quais deles seguiriam como assassinos. Para todos os outros, Runaan prestar o exame era apenas uma formalidade, mas ele estava ansioso e com um pouco de medo de reprovar, por trás de sua face indecifrável. Indecifrável para todos menos para Tiadrin.

- Por que essa cara de quem comeu comida humana? – perguntou ela, que havia parado ao seu lado, arrumando as braçadeiras.

- Vá se catar, Tia. – respondeu ele secamente, sabia que a amiga odiava ser chamada assim.

Tiadrin era uma elfa baixinha – pelo menos perto de Runaan – e dona de uma língua desaforada. Ela fingiu tossir, enquanto resmungava um "magrelo", mas ele não lhe deu atenção.

Naquele instante, um elfo que ele nunca tinha visto antes entrava na clareira, com uma espada presa às costas. Era o elfo mais lindo que Runaan já tinha visto na vida, sua pele era morena, e suas marcas de um roxo claro. Runaan nunca gostara das marcas grossas que atravessavam seu nariz, mas agora ele as odiava, comparando com as marcas ondulantes e delicadas que o elfo tinha nas orelhas e no maxilar, e apesar do cachecol, ele tinha certeza que haviam marcas em seu pescoço também.

Você é perfeito, Lua GuiaOnde histórias criam vida. Descubra agora