Você é perfeito, Lua Guia

Capítulo 4 - O Arqueiro busca pelo Artesão

Os examinadores acharam melhor dar aos candidatos uma folga depois do fiasco que fora o último exame, pois eles não ficaram nem um pouquinho satisfeitos com os métodos que Lain e Ethari usaram para se livrar de seus oponentes. A declaração que eles deram era que "todos os elfos se mostraram incapazes de executar feitiços simples" e isso incluía o elfo gentil de belas marcas, pois o esperado era que os oponentes ficassem incapacitados de prosseguir de forma digna, em uma luta, ou até mesmo que fossem assassinados para que ele e Lain prosseguissem, e não brincassem com eles com tintas coloridas – mesmo que a intenção fosse expô-los para detecção dos examinadores – e menos digno ainda era atacá-los com flores fedidas.

Runaan e Tiadrin passaram com um pouco mais de dignidade, pois apesar da elfa também ter manchas de tintas em suas vestes e armadura, ela pelo menos surrara Lain, o que garantiu a ela e a Runaan alguns pontos extras.

Por mais que Runaan agora se esforçasse mais para manter a cabeça no treino e nos testes, seus pensamentos eram constantemente invadidos pela voz serena do elfo, pelo brilho caloroso de seus olhos castanhos claros e por aquele perfume... e pela Lua, que perfume! Flores das Estrelas e carregavam o cheiro do sereno de uma madrugada de primavera. Runaan se sentia aflito procurando Ethari com o olhar a cada instante que podia. Ele queria falar com ele novamente, e de preferência acordado, e agora tinha até mesmo uma boa desculpa: estava com as coisas dele e queria devolvê-las.

Mas não importava o quanto tentasse não conseguia encontra-lo em lugar algum. Será que ele havia desistido de prestar o restante do exame? Fazer uma coisa dessas era tão vergonhoso que ele seria um pária para o resto da vida. Será que ele se machucara? Por via das dúvidas Runaan inventou uma desculpa para checar a enfermaria, mas ele não estava lá.

- Vai ver você assustou ele. – disse Tiadrin, adivinhando seus pensamentos não ditos e pondo reparo que ela também não vira o elfo por aquelas bandas.

- De onde você o conhece? – perguntou, depois de muuuuito tempo se coçando para perguntar.

Ele ainda estava apreensivo em perguntar, pois nunca sabia quando Tiadrin o infernizaria ou o deixaria em paz, mas resolveu se arriscar e aproveitar que ela estava de bom humor.

- De vista apenas, quando estava de passagem pelo outro lado do Bosque pelo mercado. Eu ouvi outros comerciantes falando o nome dele, e às vezes ele me cumprimentava e eu cumprimentava de volta. Ele parece ser bem sociável. – disse ela, mas se arrependeu no mesmo instante ao ver uma sombra de tristeza passar pelo rosto do amigo.

Ela não queria fazê-lo pensar que Ethari não falara com ele antes porque não fora com a cara dele por algum motivo, pois, para dizer a verdade, não havia motivos para que alguém não gostasse de Runaan. Ele tinha aquela fechada durona, e às vezes era um pouco áspero, mas quem o conhecia de verdade sabia que ele era uma pessoa incrível e que tinha um jeito próprio de demonstrar carinho.

- Ei, seu bobão. Se quiser eu te mostro onde eu acho que ele mora, mas tem duas condições. – ela não esperou que ele respondesse se queria ou não, ele iria e pronto. – Primeiro e mais importante, vai me deixar experimentar aquela espada pelo menos uma vezinha. Segundo, vai falar com ele e dizer que quer conhecê-lo, mas pela Lua, não se atreva a ficar só na amizade porque vocês são o par perfeito, me entendeu?

Ela apontava o dedo bem perto do nariz dele, com seu melhor ar mandão e uma cara decidida e fechada, que era até fofa já que ela era mais baixinha.

Do outro lado do Bosque de Prata Ethari havia ficado enfunado na sua oficina pelos últimos dias, com um sorriso bobo e bonito de se ver, enquanto trabalhava incansavelmente na sua mais nova criação, martelando a prata da lua sem descanso contra a bigorna.