Você é perfeito, Lua Guia

Capítulo 7 - Decisões incertas para incertezas

Tiadrin estava indo até a casa de Runaan em um dia qualquer, esperançosa porque era quase hora do almoço e parou com a mão na maçaneta, ouvindo vozes dentro da casa, a fazendo parar antes que pudesse entrar, deixando-a apreensiva, pensando que eram ladrões – cujas caras iam conhecer as solas de suas lindas botinhas se estivessem roubando de seu amigo.

Ela foi até uma janela, e seu queixo caiu ao ver que Ethari estava ali, segurando um copo e se fartando de comida enquanto ela passava fome, com um sorriso bonito que fazia seus olhos quase se fecharem. Tiadrin gesticulou para chamar a atenção de Runaan, que arregalou ligeiramente os olhos, e fingiu não vê-la, respondendo a alguma pergunta que o outro havia feito.

Tiadrin lhe mostrou a língua, e fez um sinal feio com os dedos, o que obrigou Runaan a abrir um sorriso maior ainda para o elfo à sua frente. Ethari achou que ele estava agindo estranho e seguiu o olhar de Runaan, tentando olhar atrás de si para ver o que acontecia lá fora.

— Ei. – disse Runaan, esticando a mão para tocar a do elfo, o impedindo de olhar para a janela atrás de si, Tiadrin se abaixou rápido, e Ethari sentiu seu coração se sobressaltar com a mudança repentina dele. – Aah, eu queria saber se você pode me ensinar a fazer aquele doce com uvas arco-íris que você me falou outro dia.

— É claro que poss... – ambos ouviram o um ronco estranho do lado de fora da casa. O maldito Lain havia viciado a elfa em uvas arco-íris e seu estômago roncou a mera menção a fruta.

— Deve ser o porco-da-terra da vizinha que escapou de novo. Termine antes que esfrie, eu já venho.

Runaan caminhou calmamente até a porta e a fechou ao passar. Tiadrin não perdeu tempo e engatinhou até ele enquanto o amigo tomava a distância necessária para que Ethari não os ouvisse.

— Mas que pouca vergonha é essa? Pela Lua, Runaanzinho, o que é que tá acontecendo que eu perdi? – e antes que o elfo pudesse responder, sentiu uma dor no estômago e o ar abandonar seus pulmões, aquele toco de elfa havia se levantado e lhe dado um soco no estômago. – Deixou aquele um ali roubar o meu lugar na mesa e a minha comida de direito e porca-da-terra é o seu...

Runaan tapou a boca dela com a mão antes que ela terminasse. Não existia ninguém mais desbocado de que Tiadrin em todo Bosque de Prata.

— Eu estou ocupado, volta outra hora que eu te conto. Toma. – ele colocou na mão dela uma bolsinha de couro. – Vai caçar comida no mercado.

— Mas... – choramingou ela.

— Depois. – determinou Runaan, fazendo cara feia e a enxotando dali enquanto massageava a barriga.

Tiadrin amarrou a cara e esperou ele se afastar o suficiente para xingá-lo.

— O seu rabo que deve ser igual ao de um porco... – ela abriu a bolsinha e seus olhos se iluminaram. – Perdão Runaanzinho, eu te amo, o Ethari pode ficar com tudo.

E ela foi rapidinho até o mercado antes que Runaan se desse conta do que havia feito e voltasse para impedi-la. Mas a caminho das barracas de comida, Tiadrin pensou que Runaan devia estar gostando muito daquele elfo, pois ele estava disposto a bancar um rango para ela contanto que ela sumisse logo – e Runaan sabia que uma quantidade considerável de comida era despendida para enchê-la. Por um instante ela ficou feliz que ele a tivesse chutado dali. Às vezes ela se esquecia que o amigo precisava de espaço e ela não queria estragar o encontro do dele. Um arrepio percorreu o corpo de Tiadrin: Runaan estava num encontro.

— As coisas tão ficando sérias, hein, Runaanzinho. – mas ela não teria tempo para se ocupar cuidando da vida do amigo.

Porque numa das barracas mais adiante, estava um elfo com seu cabelo irritantemente bem penteado que parecia estar usando maquiagem constantemente, já que suas marcas ficavam sob as pálpebras dos olhos. Ela já estava pensando em se esconder quando ele a viu, toda vez ele grudava nela e não saia, mas curiosamente, Lain apenas a cumprimentou com a cabeça e deu as costas.