Capítulo 2 - Eu não digo uma palavra, mas você tira o meu fôlego

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Runaan passou os próximos dias seguindo Ethari com o olhar sempre que podia. E às vezes seguia o elfo de longe quando Tiadrin desgrudava dele.

Ele descobriu que Ethari era gentil, às vezes até um pouco tímido e tinha um olhar sereno e caloroso como uma madrugada de primavera. Até mesmo seus gestos eram suaves e Runaan quase denunciou sua posição quando ouviu a risada dele primeira vez, deixando escapar uma exclamação de surpresa. Ele sentira um pouquinho de ciúmes porque quem o fizera rir era Lain e, infelizmente, ele parecia ser uma boa pessoa. Ele nem mesmo tinha uma boa razão para odiar o rapaz.

Runaan gostava de admirá-lo de longe. Todos os outros elfos que o conheciam também pareciam gostar dele, pois muita gente queria sua atenção. Aquilo atiçava ainda mais o ciúme de Runaan. Ninguém tinha culpa, mas por que era tão fácil para qualquer um conversar com Ethari e para ele parecia ser tão difícil? Ele considerava se aproximar do elfo várias e várias vezes por dia, mas o que diria? "Olá, você é o Ethari, não é? Eu queria te conhecer?", pela Lua, claro que não. Em que mundo isso não soaria estranho? Ele com certeza riria dele. Então sua coragem fraquejava, e ele descontava sua covardia no treino, com muita fúria.

Muitas vezes ele considerava pedir ajuda a Tiadrin, ela sempre fora mais sociável, conseguira a proeza até de se tornar amiga dele! Mas conhecia a elfa bem o suficiente para saber que ela zombaria dele, e ficaria o provocando na frente de Ethari em cada oportunidade, esse tipo de pensamento o deixava ainda mais frustrado, então ele treinava mais. Nessas horas, ele pensava em como aquilo tudo era bobagem, e que deveria tirar essas tolices da cabeça e saía de sua casa decidido, pronto para se tornar o melhor assassino de Xadia, e entrar para a Guarda do Dragão, como um guerreiro de elite.

Mas então o maldito elfo de pele morena e marcas delicadas passava ao longe, e mandava todas as convicções para o vento enquanto sua voz suave invadia os ouvidos de Runaan.

Em uma dessas ocasiões, ele e Tiadrin estavam treinando, engajados em uma luta ferrenha, ele a havia desarmado, e ela correra para recuperar a espada, ele puxara o arco das costas e uma flecha da aljava em sua cintura, pronto para disparar e arremessar a espada para mais longe, mas o vento bateu contra ele, carregando um cheiro delicioso. Runaan perdeu o foco e olhou para o horizonte, tentando identificar a fonte do aroma, e ficou mole ao ver Ethari passar calmamente por ali.

Com os pensamentos longe da terra firme, flutuando atrás do perfumado elfo, ele fora pego de surpresa de repente ao ouvir o ar sendo cortado pela espada que Tiadrin lançara em sua direção, se desviando dela por muito pouco.

- Ficou maluca? Eu quase não desvio dessa droga! – esbravejou ele para a amiga.

- Maluco ficou você que quase enfiou uma flexa bem no meio dos meus olhos! – gritou ela de volta, apontando com o polegar a flecha cravada fundo numa árvore bem atrás dela.

Ele havia disparado sem querer e errado por sorte.

Deveria haver algum tipo de feitiço naquele elfo, pois nunca ele encontrara alguém tão incrível. Em poucos dias, ele descobriu que Ethari era gentil, compreensivo e confiável. Essas características eram peculiares, especialmente Elfos Sombrios da Lua.

Faltando poucos dias para o fim dos exames, Runaan estava uma pilha de nervos. Pela primeira vez na vida seu desempenho caíra. Não era significativo, ele só perdera dois alvos de vista, mas nada impedia que ele se sentisse mal, afinal as expectativas de praticamente todo Bosque de Prata estavam nele. Mas o Raio de Lua não saía de sua cabeça.

Era assim que ele o chamava em sua mente, e toda vez que pensava nele, um sorrisinho lhe escapava. Outro dia, ele o vira cuidando de dois filhotes na floresta. Um Pata Sombria estava por perto, desfrutando de uma boa fruta de leite, enquanto Ethari estava sentado ao seu lado com um arranhão feio em uma das mãos, cuidado de um Andarilho da Lua teimoso. Ele tinha machucado a pata, mas não queria deixar que o elfo cuidasse dele. Ele era tão... terno. E amável. Pela Lua, tinha como não gostar dele?

Você é perfeito, Lua GuiaOnde histórias criam vida. Descubra agora