O Prisioneiro Mental

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GAEL


Oito anos haviam se passado, enquanto a mente de Gael ficava cada vez mais conturbada nas primeiras semanas ele percebeu uma coisa, o tempo não estava congelado, ele apenas estava mais lento, os primeiros dias foram os mais complicados, o menino tentava gritar mas não conseguia, chorar, demonstrar emoções, nada funcionava até porque o corpo de Gael não obedecia as suas ordens, apenas se movia tão lentamente quanto o resto do mundo.

Sua rotina consistia em observar a explosão logo a sua frente, a qual parecia não se mexer, horas, dias semanas se passaram e a explosão estava igual, Gael não conseguia sequer mexer seus olhos para ver alguma outra coisa.

Passados três anos o garoto implorava mentalmente pela morte sem parar todos os dias, até que finalmente desistiu, sua mente estava completamente vazia e ele sentiu isso, não havia nada para lamentar, a vida não tinha sentido dentro dessa prisão, a única coisa que parecia fazer sentido era o que ele faria assim que se soltasse.

O menino questionava sua sanidade ao observar o extremamente lento andar da explosão, e até comparou tal evento com a sua vida, nesse momento o menino tomou uma decisão.

-Eu vou matar eles e então vou me matar – ele finalmente criou coragem para tomar essa decisão, o suicídio era estritamente proibido até mesmo de ser mencionado no mosteiro, pois se dizia que era algo que o levaria para o inferno, no entanto até o inferno parecia mais agradável, isso se o lugar realmente existisse.

Tudo que Gael queria era ser aceito, mas desde o início de sua vida ele só recebeu rejeições, abandono dos pais, desprezo dos átrios e mentores, insultos da maioria de seus colegas, seus únicos amigos as vezes não conseguiam esconder as expressões de nojo ao olhar para o estranho rosto de Gael, ele próprio já pensou em sumir desse mundo, mas o medo do inferno sempre o impediu.

-Eu sou um covarde – ele se lembrou de todas as vezes que os átrios pregavam a bondade do Deus verdadeiro.

-Onde está você agora!? – ele gritava mentalmente.

-Tanto sofrimento, pessoas sendo injustiçadas e o senhor não faz nada!!! – Nenhuma resposta, já era de se esperar.

-Sabe o que eu acho!? – Um pensamento obscuro.

-Que se você existe, com toda a certeza não é bom, e se não existe então a humanidade deveria cair no esquecimento junto ao seu nome! – Uma blasfêmia profetizada.

Os pensamentos de Gael ficaram cada vez mais confusos conforme os dias passavam-

Morte – por que não morri? – Que tipo de vida eu vivi?

O brilho amarelo em breve será apagado?

Será que realmente vale a pena viver desse jeito?

Olha só a explosão está sumindo um pouco...

Ah oi Heron prazer em te conhecer, obrigado por pegar meu lugar.

Por favor desapareça.

Depois de algum tempo seus olhos se fecharam lentamente, então Gael passou alguns anos no completo escuro, ele já não sentia mais dor calor ou conseguia formar pensamentos direito.

Tudo mudou de repente, Gael pôde sentir seu corpo novamente um estranho calor passou por sua pele, seus olhos abriram e o tempo havia voltado ao normal, os corpos de abaddon e Amaleque estavam no chão, incinerados pelo fogo, Gael ainda estava no chão, ele ainda estava se acostumando a respirar, piscar os olhos e todas as outras coisas que fazia normalmente antes, depois de ficar relativamente recuperado, ainda no chão ele chorou, alto e amargamente, gritou como se estivesse sendo esfaqueado, e se manteve assim até que não conseguia mais chorar.

Então ele viu uma adaga caída, provavelmente pertencia a abaddon, o menino se arrastou até ela, já que o mesmo não conseguia se levantar, alcançou a adaga e tentou dar um golpe certeiro em sua garganta, o que finalmente acabaria com sua dor, mas algo o impediu, uma mão estava segurando seu braço e o impediu de dar um fim em si próprio, era Maria, que parecia ter queimado a parte esquerda de seu corpo, mas por algum milagre sobrevivera, ver ela o lembrou de coisas as quais ele não queria pensar, ele escolheu Lydia em vez dela, ele desprezou a vida de sua amiga mais fiel.

-Por favor viva Gael, viva por mim – ela implorou com muita dificuldade, com uma voz muito fraca, o menino soltou a adaga e olhou para os céus, no meio de tanto caos e violência um bonito nascer do Sol aparecia timidamente, algumas tentativas falhas de tentar se levantar e Gael finalmente aceitou sua situação.

Ele acomodou Maria ao seu lado.

Acomodou a si próprio.

Olhou pela última vez o brilhante Sol.

E não pôde mais resistir ao cansaço.

A Ascenção Do BárbaroOnde histórias criam vida. Descubra agora