Marília
- ...Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
- Professora Mendonça? Desculpe interromper sua aula - A madre Consuelo me chama.
Retiro o meu óculos e caminho de volta até a minha mesa. Eu tinha o costume de andar pela sala de aula enquanto leio, ou explico alguma coisa. Gosto de estar próxima aos meus alunos, olhá-los de perto.
- Tudo bem, Madre. - De braços cruzados, me encosto em minha mesa.
Assim que a madre entra, vejo uma garota morena atrás dela. A garota de altura baixa, me observa dos pés a cabeça, o que me deixa um tanto sem jeito. A madre explica que a garota, que se chama Maraisa Pereira, será a mais nova aluna do Internato. E antes de sair, a mais velha me pede para passar em sua sala assim que a aula acabar.
- Pode se sentar, Maraisa. - Indico a carteira da segunda fileira. - Alguém pode continuar o poema? - Coloco o meu óculos, voltando a dar a minha aula.
- Que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo. - Continua Elisa, uma das minhas melhores alunas.Enquanto acompanho a leitura, caminho pelos corredores de carteiras. Claro que escuto alguns murmurinhos, que nem preciso olhar para saber de onde vem. Peço silêncio e prossigo com minha aula. Às horas passam voando e antes que os alunos saiam, assim que o sinal toca, peço para que lêem A hora da estrela / Clarisse Lispector, os dois primeiros capítulos, para conversamos na próxima aula.
- Maraisa? - Chamo a garota que está prestes a sair da sala.
- Sim?
- Fique com o meu livro. - Vasculho minhas coisas, a procura do meu livro. - Ele não tem mais na biblioteca. Tome cuidado com ele, os meus livros são os meus bens mais preciosos.
A morena sorri fechado e pega o livro de minha mão. Um "obrigado" sem vontade nenhuma sai de seus lábios. Nego com a cabeça quando a vejo sair pela porta e observo o seu corpo dentro do uniforme curto. A saia mostra de mais suas coxas e tento não pensar em sua bunda branca, por debaixo daquela saia.
- Foco, Marília. - Digo para mim mesma.
Junto minhas coisas e me retiro da sala silenciosa. Eu amo o meu trabalho e dou aula aqui desde que me formei. Passei a minha vida toda nessa escola. Além de dar aula aqui, também estudei, entrei nesse colégio quando eu tinha meus treze anos de idade. E me orgulho disso.
Caminho pelos corredores e algumas alunas — que não fazem parte da minha turma — me param para pedirem dicas de livros. Enfim chego até a sala da madre Consuelo.
- Com licença, Madre. - Dou três batidas na porta antes de entrar.
- Sente-se, Mendonça.
Me sento de frente para a mulher. Automaticamente minhas pernas se cruzam e minhas mãos se entrelaçam em meus joelhos.
- Gostaria de falar sobre a aluna, Maraisa Pereira. Ela é filha da possível futura prefeita da cidade, Almira Pereira. A garota já foi expulsa de três escolas e a sua mãe está colocando fé em nós.
Eu apenas escuto atentamente sem entender onde a mais velha queria chegar.
- Eu conto com a sua ajuda para coloca-la no eixo. Maraisa é uma jovem rebelde e acredito que você é a pessoa certa para essa "missão", por isso a coloquei na sua turma.
- Claro, madre. Pode contar comigo.
- Disso não tenho dúvidas. Era apenas isso. Está liberada, querida.
Peço licença e me retiro da sala. Alguma coisa dentro de mim estava me dizendo que essa "missão" não era uma boa idéia.
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Loving Maraisa | Malila.
FanfictionUma jovem e querida professora de poesia de um internato católico põe tudo em risco por um caso ardente com uma das alunas. História original no perfil: @MozaoCapshaw Adaptação.