Normani Kordei

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No segundo ano do ensino médio, fiquei amiga de uma menina chamada Korie. Ela até que era legal. Exagerava um pouco no delineador roxo, não parava de falar e dizia "tipo" toda hora, mas fazíamos as mesmas aulas do primeiro semestre, então a amizade meio que veio por inércia. Enfim, Korie sempre dizia que seu melhor amigo no mundo todo era Stephen Daniels, um garoto que conhecera quatro semanas antes de promovê-lo a esse status. Era, tipo, ai meu deus, a melhor coisa do mundo ter um cara com quem conversar sem as complicações que vêm com o envolvimento romântico. Sei. É verdade que melhores amigos de verdade não conseguem passar mais de duas horas sem mencionar o nome um do outro, mas Korie arrumava um jeito de mencionar Stephen a cada duas frases. Não era "só amizade" nada. Acho que a relação deles foi mesmo platônica por um tempo. Stephen tinha uma namorada chamada Libby, ou qualquer coisa do tipo, e Korie vivia indo e voltando com o namorado do tempo do fundamental. Mas qualquer um que já tenha visto um filme ou um programa de TV, ou que possua um conhecimento básico das formas de interação humana, sabia exatamente para onde Korie e Stephen estavam se encaminhando: para a terra da pegação.

Apesar de Korie jurar que não gostava dele "daquele jeito", os dois já estavam solteiríssimos no feriado de Ação de Graças daquele ano. No recesso de fim de ano, Korie não estava mais tão ocupada falando "tipo" o tempo todo. Por quê? Porque a língua de Stephen estava dentro da boca dela antes da aula, depois da aula e nos fins de semana. Mas todo mundo sabe como isso acaba, certo? Alguns meses depois, Korie e Stephen não só não eram mais um casal como nem chegavam perto de ser "melhores amigos".O rápido romance e o rompimento que se seguiu quase não provocaram fofocas na escola, mas gosto de pensar que todos aprendemos uma boa lição:
Garotos e garotas não conseguem ser só amigos. Ou pelo menos não melhores amigos. As coisas acabam se complicando. Agora vamos avançar alguns anos na história... Tenho vinte e quatro anos, lésbica e na minha história o melhor amigo não é um homem, e sim uma mulher. Dá para ter um relacionamento platônico com uma garota sem qualquer desejo romântico, fantasia sexual e tentativas fúteis de esconder a dor do amor não correspondido com declarações ingênuas como "eu não gosto dela desse jeito". Como é que eu sei disso? Como sei que duas mulheres lésbicas podem ser melhores amigas sem qualquer envolvimento romântico? Porque tenho uma amizade assim há seis anos. Seis anos!

Dinah Jane Hansen e eu nos conhecemos nas férias de verão anteriores ao nosso primeiro ano na Universidade do Oregon, durante a recepção aos calouros. Fomos colocadas no mesmo grupo em uma dessas atividades tenebrosas para quebrar o gelo, em que se gruda um papelzinho na testa e tenta adivinhar qual animal somos ou coisa do tipo. Então a coisa... Rolou? Não sei por que desde o começo foi algo meio "você é legal, mas não vai rolar nada entre nós", mas foi. Talvez porque eu já estivesse de olho em outra garota do grupo. Ou talvez porque meus ovários me avisaram que a beleza absurda de Dinah em algum momento partiria meu coração. De qualquer maneira, fizemos o impossível. Viramos melhores amigas. E sim, todas as minhas amigas me deram o mesmo aviso que eu dera a Korie antes: "Isso não vai dar certo".

As meninas não tinham uma visão unânime de como as coisas iam mudar entre nós, mas estavam certas de que ia acontecer. Uma parte delas achava que Dinah e eu éramos almas gêmeas e só estávamos curtindo um pouco antes de casar e ter filhos. Outra parte achava que íamos acabar bebendo demais uma noite, dar uma trepada horrível e depois cortar relações de uma vez por todas. Dinah e eu provamos que todas estavam erradas quando o primeiro ano de faculdade acabou e nossa amizade continuou inabalável. No segundo ano, a história se repetiu. No terceiro, a coisa ficou séria de verdade. Estávamos mais próximas que nunca, passando inclusive a morar na mesma casa. Aconteceu meio que por acaso, quando uma das pessoas que iam dividir com ela desistiu de última hora. Eu me dei conta de que não ia aguentar a comida do alojamento por mais um ano, então fui morar lá. E deu certo. De modo que, no ano seguinte, repetimos a dose. E aqui estamos nós, dois anos depois da formatura, ainda morando sob o mesmo teto. Só não é mais a casa caindo aos pedaços perto do campus em Eugene, e sim em um imóvel de dois quartos em Northwest, Portland. E sim, tudo continua platônico como antes, sem nenhum sinal de mudança no ar. Sou apaixonadíssima por Halle Bailey, com quem estou há cinco anos, e Dinah... bem, está em uma impressionante missão de tentar seduzir toda a população feminina do oeste do Oregon.

Just Friends - NorminahOnde histórias criam vida. Descubra agora