Passeios e rotina

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Capítulo 12 

Passeios e rotina

Os dias que se seguiram foram tão tranquilos como aqueles dias agradáveis que encaramos o sol não tão quente, o clima não tão gelado, aquele remexer das folhas preguiçosas enquanto encarávamos o fim da tarde e saboreamos um delicioso chocolate quente respirando o ar levemente gélido do início da noite. Parecia tão tranquilo que eu fiquei pensando se, afinal, todos os relacionamentos deveriam transmitir essa candura e paz diária ou se era só porque éramos amigos que eu sentia essa tranquilidade total.

Conforme os dias foram se passando, passei a aprender as coisas da casa. Não tinha sido por vontade própria, pois Hakim tinha uma diarista duas vezes na semana, chamada Sâmia, que tinha achado que era o dever dela me preparar para ser a melhor esposa que Hakim poderia ter.

Ela me ensinou coisas que eram realmente importantes como saber, por exemplo, onde ficavam as coisas na cozinha para que eu conseguisse cozinhar tranquilamente, mas outras nem tão divertidas assim, como saber lavar as roupas e separá-las adequadamente, também acabei aprendendo no processo.

Ela me ensinou a dobrar e passar roupa e também me contou como Hakim preferia a roupa dele no armário. Também fiquei sabendo as comidas favoritas dele, embora ele não tivesse me contado, só ela mesmo, acostumada a cozinhar para ele de modo a armazenar para a semana.

— Ele é um menino muito bom. Leve a comida para ele daqui a pouco. Ele deve estar entretido no escritório. Tem vezes que ele passa dias lá. Já deixei alguns petiscos no escritório, porque se não for assim, ele passa fome. As vezes, ele tem algumas ideias que ele precisa chegar até o fim delas, se não ele não consegue descansar. — Concordei com a cabeça.

Eu já tinha notado que era até um pouco solitário quando Hakim se entretinha na rotina dele habitual de desenvolver o seu projeto para o trabalho. Ele entrava de cabeça no projeto e ficava muitas horas trancado no escritório. Como eu não me sentia com intimidade suficiente, ficava com medo de incomodá-lo no escritório dele, de modo que só o fazia estritamente nas refeições para que ele as cumprisse.

Nesse sentido, era um pouco solitário. Minha entrada na universidade ainda estava em análise e não era como se eu tivesse muitas coisas para fazer da vida. Cheguei a entrar em tédio de assistir séries na televisão e cozinhar. Talvez porque eu estivesse acostumada com papai e mamãe, sentia falta de tê-los para conversar. Melhor, de ter alguém para conversar.

Mamãe e papai tinham vindo nos visitar muito brevemente no dia seguinte que o pai de Hakim veio nos ver e entregaram alguns presentes, tão logo partindo. Eu conseguia ver nitidamente pelo olhar de papai que ele se sentia sofrendo, com uma dor aguda no coração, quando ele pensava no que tinha feito, como se eu também não tivesse decidido tomar essa decisão também.

Como era muito difícil e recente para eles, não importunei para que eles viessem me ver mais vezes, mesmo que essa fosse de longe a minha imensa vontade. Além disso, eles também sofriam, de coração dilacerado, pelo desaparecimento da minha irmã.

Até em mim isso doía.

Senhor Mustarf tinha conseguido algumas pistas. Parecia que eles tinham viajado para a Oceania, mas ali novamente o rastro deles havia se perdido. Mas já era alguma coisa. Ainda havia esperança de que Malika fosse achada.

— Malika! Vai esfriar a comida! — Pisquei atordoada acordando com o comentário de Sâmia e concordei com a cabeça subindo com o prato, devagar, as escadas que me levavam até o escritório.

Só estávamos há 10 dias juntos, mas era como se já tivesse muito tempo, talvez pela forma como eu já conhecia a dinâmica da casa e a rotina de Hakim. Dei uma batidinha fraca na porta que foi suficiente para que a mesma já se abrisse imediatamente.

Amor RoubadoOnde histórias criam vida. Descubra agora