Traços de felicidade e estranheza

75 14 10
                                    

Capítulo 24

Traços de felicidade e estranheza

Malika tinha até mesmo parado de usar o hijab na sua visão entorpecida de que deveria desagradar a Deus. Não tentei brigar com ela, pois sabia que isso no fim não levaria a nada e a faria mais desistir de confiar em mim do que se abrir pouco a pouco.

— Vou deixar o Hakim rezando um pouco pela gente na Mesquita e então vou te levar para comprarmos ingressos para assistirmos a um filme no domingo. — Malika concordou parecendo ainda como se pisasse em ovos.

— Parece que fazem tantos anos desde que eu vi um cinema... E olha que só se passaram uns 2 meses. — Tentei mudar de assunto antes que minha irmã entrasse no clima de tristeza sempre que lembrava do período que ela tinha passado.

— Eu também já entrei em contato com uma amiga minha, Mana, e ela ficou de me passar o contato de uma psicóloga com quem ela faz tratamento. — Malika concordou com a cabeça.

— Como combinamos, irmã. — Ela disse.

De forma cortês, Hakim abriu a porta para Malika entrar e sentar ao meu lado e foi para o banco de trás. Fui para o banco de motorista, o que fez minha irmã franzir o cenho.

— Você que vai dirigir? — Balancei a cabeça afirmativamente.

— É o meu combinado com Hakim. Todas as sextas feiras eu levo ele de carro para a Mesquita e depois também para um restaurante para experimentar um tipo diferente de comida de acordo com a comida que queremos experimentar. Já experimentamos comida italiana e comida brasileira. Tivemos que fazer uma pausa com o ramadã e agora estamos indo experimentar comida americana. — Malika abriu um pequeno sorriso.

— Uau, é difícil ver um homem que confia tanto ao ponto de dar um carro para a sua esposa. — Como eu não queria me gabar da minha relação boa com Hakim, tampouco abrir ainda mais as feridas que Malika carregava consigo, apenas assenti e passei a me arrumar para sair com o carro.

Hakim aproveitou e tentou fazer com que o silêncio não reinasse no carro.

— Se quiser, posso atualizá-la sobre as conquistas recentes da sua irmã nos últimos tempos. Duvido que do jeito modesta que ela é tenha falado alguma coisa. — Malika deu uma pequena risadinha.

— Não, nadinha.

— Eu sabia. — Ele disse de forma engraçada. — Mas não se preocupe que estou aqui as ordens para atualizá-la. Mah está dirigindo perfeitamente nos últimos tempos, tornou-se a amiga predileta da minha irmã que vem nos visitar todos os finais de semana e chegou até mesmo a desmaiar durante o Ramadã. — Malika colocou as mãos sobre a boca sem acreditar.

— Não era para você assustar a minha irmã mal ela tendo me visto, Hakim. Agora ela vai achar que sou uma desmiolada e que aconteceu algo sério.

— Aconteceu algo sério. — Disse Hakim como que praticamente invalidando a minha fala anterior. Revirei os olhos e liguei o carro.

— A primeira coisa que você precisa aprender, mana, é não ligar para o que Hakim fala, ok? Ele exagera as vezes. — Hakim riu.

— Eu exagero? — E eu tive que virar para trás para olhá-lo.

— Como não? Olha se você não concorda comigo, mana, olha o tipo de música que ele ouve. — E para ratificar que eu estava certa, coloquei o som para ligar numa música bem antiga que estava tocando no rádio dele.

Não preciso nem dizer que Hakim quase que ficou totalmente vermelho antes de falar:

— É, eu esqueci que a mulher sempre dá a última palavra. Você venceu, querida. — E foi naquele exato segundo a primeira vez que vi Malika rindo.

Amor RoubadoOnde histórias criam vida. Descubra agora