PERDIDOS

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Ao voar nas entranhas do nordeste eu olho fixamente um homem preto, cabelo baixo e crespo, se movimentando lentamente e com as pernas bambas.

Eu até ia contar algumas histórias legais a vocês, mas vou deixar isso pra mais tarde, vamos dar um rasante aqui nesse pé de mandacaru, e pra quem não sabe o que é, eu vou explicar:
...Mandacaru é uma planta típica do Brasil e especificamente do nordeste, é como se fosse um cacto, e podem ter flores ao sentirem a chuva chegar, são cheio de espinhos e o nome vem do tupi, que significa, "espinhos agrupados danosos".

E ao observar de perto o ser humano eu me pergunto como pext esse indivíduo veio parar por aqui.
Bem pertinho da sombra do Mandacaru, onde o sol não me faz mal eu aprecio lentamente a presepada de roupa que esse homen tá usando.
Calça, camisa social, a camisa cor de céu de sertão, totalmente por dentro da calça cor de vinho. Cabelo despenteado, parece está bêbado. Não usa chinelo e nem bota, está totalmente descalço pisando no chão quente e cheio de espinhos que a nossa Caatinga oferece.
[...]
Caatinga é um bioma que só existe no Brasil, e tem a sua maior parte no nordeste, é conhecido e retratado como um lugar seco e cheio de poeira, onde os animais mais fortes sobrevivem, onde não se vê chuva, onde o solo é rachado, as plantas são simples e pra encontrar uma sombra e um vento fresco, ah. Você vai ter que andar. As plantas mais típicas da caatinga é o cacto, a palma, o xiquexique, o mandacaru, a aroeira, o umbuzeiro, o juazeiro e o caroá

— Xôoo coruja-canelão, vai procurar o que fazer e pare de me espiá vá — fala o indivíduo que não sei o nome.

Vôo para mais longe, mas não tiro o olho dele, quero pelo menos poder ajudar.
Vejo marcas de pneus no chão, pneus de carro. Porém, não há nenhum automóvel se quer por aqui. E com a minha visão tão apurada eu não aceito que tenha passado algo tão grande na minha vista e eu não tenha dado fé.
Levanto a mais de 800 palmos do chão. Não vejo nada, não tem nada aqui, só um cara veio mago andando tronxo pelas minhas terras. Mas eu vou descobrir o que aconteceu.

As marcas de pneus não estão frescas, então provavelmente o meio de transporte não passou por aqui hoje.
Será que ele tá procurando o próprio carro? Ou alguém deixou ele aqui?

— Socorro, alguém me ajuda!! — grita o homem, todo aperriado.

Mas também né, ele com roupa de manga em um calor da bixiga desse, como é que esse bendito não vai se aperriar meu pai.
Ele continua caminhando. E eu já tenho a plena certeza que ele não faz ideia de onde tá indo, o coitado tá só indo onde o vento leva. Ô dó.

Começo a chamar a atenção dele passando pra lá e pra cá, chegando perto e assoviando, tentando reproduzir algum som como posso. Ele começa a prestar atenção em mim.

— Será que essa coruja-canelão tá tentando me dizer alguma coisa? — ele se questiona deixando os olhos mais fechados por conta do sol.

— Sim! Tô tentando, mas você não me entende. E por favor, me chame de Caburé-acanelado que é meu nome. — queria cuspir nele. Mas sem maldade claro. Só pra refrescar por conta da temperatura.

Ele começa a me seguir. Até que eu acho uma pequena caverna em uma montanha média, nada muito grande. Acho que ele pode ficar embaixo enquanto isso eu vou tentar arrumar água. Se não ele vai morrer aqui, coitado.

— Que animal esperto. Pelo menos uma sombra boa pra descansar. Não é o melhor lugar, mas dá pra eu ficar aqui até alguém passar pra me socorrer. — ele fala enquanto senta com a bunda no chão de areia.

PERDIDOS NO NORDESTE Onde histórias criam vida. Descubra agora