UNIDOS NO CERRADO

6 2 0
                                    

Vou procurando ele por entre os sons de esperança que a Caatinga nós dá.
Esse indivíduo deve ter se escondido em algum lugar. Mas eu não sei onde um ganzelão daquele vai se esconder.

Voando muito alto eu consigo observar ele fazendo um pequena casa com galhos de árvore e cactos cortados ao meio com pedras afiadas.
Pense num cabra inteligente esse, os outros dois abestado estão lá escorregando em bosta enquanto esse aqui consegue fazer uma casa na parte do nordeste onde a vida é miserável.

Admiro tanto a casinha convidativa que ele fez que deu até vontade de me acomodar lá dentro.
Mas o meu papel é juntar esses três, pra de alguma maneira ajudar eles a encontrar pelo menos uma civilização de pessoas e conseguir alimentos e água de uma maneira mais adequada. Eles até podem ter sobrevivido a primeira noite na floresta, mas Dona Caipora num vai deixar de jeito nenhum eles ficarem maltratando nossos biomas assim. O primeiro que cagou aqui na mata teve as pregas do furico costuradas com espinho de laranjeira. Dona Caipora pegou nas duas bandas do caneco dele e costurou no puro.
Dizem que é lenda, eu só ouvi falar, mas o passarinho sábio que quer preservar seu rabo fica quieto e obedece a gruardiã da nossa natureza.

Então, pra eles não se lascarem aqui, eu vou cuidar deles como meu Padin Pade Ciço cuidou do povo nordestino, passando cura e calamidade para o povo misericordioso de sua terrinha.

Mas eu tô é vendo que esse aqui é cabra macho mermo, é que sempre tem um inteligente no meio de dois burros.

Vou chamando a atenção com frutas no pé, e logo o rapaz deduz:

— Pia pra li. Como que diabo aquela coruja conseguiu aquelas frutas em, no meio desse deserto de calor e espinho?

Ah meu filho. É só me seguir, no cerrado tem o que tu precisa, afolosado.

— Acho que vou seguir aquela ave nas carreira, só pra vê donde é que ela pega essas frutas tão bunita.

Ele começa a me seguir, as engrenagem desse ser humano aínda tá funcionando mesmo depois de tanto repúdio e ignorância de quem os deixou aqui pra morrer.

A noite começa a cair, tudo começa a escurecer, pra ele é difícil ter que atravessar o rio, ele parece não saber nadar, então ele amarra uns pedaços de pau oco, e vai fazendo suas canoas.
Ele percebe a mudança de bioma, e até que enfim chegamos no cerrado nordestino.

— Ô coruja abençoada, não sei quem foi que te mandou, mas veio em boa hora vice.

— Ei?? — um grito de longe.

— Ave Maria macho, mais um cabra. — grita o perna de vitrola.

Eles provavelmente deve achar que estavam em uma excursão da igreja assembléia, e do nada o ônibus virou, e os pastores, irmãos, presbíteros, vieram todos parar aqui e estão perdidos.

— Que doidiça da gota. Quantos de nós será que tem por aí perdido? — pergunta o cabeludinho pro inteligente da Caatinga.

— 25! — afirma ele.

— Sério? — pergunta o cabeludinho.

— Claro que não né. Tu acha mesmo que eu sei? Eu não trabalho contando pastor que se perdeu no nordeste!

— Presepada desgraça. — diz o perna de prancha.

— Mas e como tu sabe que a gente tá perdido no nordeste em? — pergunta o cabeludinho.

— Por que os dois biomas que vi agora só podem ser vistos juntos no nordeste. Bom... Não tenho certeza, mas é isso. Sei que é o Cerrado e a Caatinga nordestina.

Eles são tão confusos. Que bagunça...

— Eu não lembro meu nome. Vocês lembram o de vocês? — diz o cara de nerd.

— Oiaa. Tem um nome que não sai da minha cabeça... — diz o cabeludinho.

— E também tem um nome que não sai da minha — diz o perna de bambu.

— O meu parece que é Jonerranerson! — afirma o cabeludinho.

— Como menino? Vixi misericórdia, e como fala isso em? Parece é um palavrão. — o inteligente começa a rir.

— Não sei. Só sei que eu lembro disso. — Jonerranerson fala.

— Com certeza esse é seu nome, um nome fei do diabo desse tem que ser o seu. Se não fosse tu nem ia lembrar. — ele continua rindo com uma risada estranha.

— Gosta de humilhar o meu fio né? — Jonerranerson completa.

— E o teu, perna de moto sem freio? — fala o mestre das casas mal feitas.

— O que não sai da minha cabeça, rapaz, é... Osvaldinho! — ele exclama.

— É competição de nome fei agora é? Misericórdia senhor Jesus, tem de piedade desses sacristão. Provavelmente sofria na escola, os minino de interior num perdoa não vice. — continua com a risada. Jonerranerson e Osvaldinho não acham nada engraçado.

— Já que ele tá rindo da gente e não lembra o próprio nome, que tal a gente batizar Osvaldinho? — Jonerranerson sugere.

— Boa. Gostei, já que ele ri fazendo zuada e não para, parece que tá sem óleo esse dente. Então eu acho legal chamar ele de Catraca. — Osvaldinho começa a rir e cai no chão. Jonerranerson ri também.

— Gostei. Podem me chamar assim. Pelo menos não é um nome grande, e é até engraçado. — Catraca implica.

— Vem Catraca! — Osvaldinho fala rindo no chão.

— Vamo simbora vai. Vamo morrer se ficar aqui, vamos procurar um lugar seguro pra dormir... — Catraca sugere.

— É verdade Osvaldinho, vamos escutar o Catraca. Se não a gente vira janta de sei lá o que que tem nesse Nordeste. — Jonerranerson complementa.

— Tá bom vai. — Osvaldinho fala levantando do chão.

E enquanto eles se acomodam em algum lugar, eu vou caçar a minha comida né. E vou descansar um pouco pra ver amanhã o que eles vão aprontar.

PERDIDOS NO NORDESTE Onde histórias criam vida. Descubra agora