PÉ DE JACA

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— Ô Jonerranerson? — grita Osvaldinho.

— Que foi homi? — Jonerranerson responde com ódio.

— Tenha calma macho, aqui tem que resolver as coisas na manha de gato. — Osvaldinho rebate.

— Diga logo vá desgraça... — Jonerranerson salta do nada.

— Quando eu estava andando por aqui antes de encontrar vocês, eu vi um pé de jaca tão lindo, umas jaca madura óia, e agora eu tô com fome e não lembro pra onde é o caminho até lá. — ele explica a ocasião sugerida.

— Hum. Um pé de jaca né. Beleza, vamo lá procurar, chame o Catraca pra vê se ele vai. — Jonerranerson complementa.

— Ô CATRACAAAAA DESGRAÇA, VENHA PRA CÁ FIO DA PEXT. — Osvaldinho grita.

— Vai pocar meus zuvido mermo é? Gota serena Osvaldinho. Se fosse pra gritar eu mesmo fazia. — Jonerranerson se estressa, mas não faz nada.

— Foi mal, é que eu tô com vontade de comer jaca. — Osvaldinho fica sem graça.

Catraca vem as pressas achando que é algo sério:

— Que foi em diabo?

— É que eu e o Jonerranerson vamos pegar umas jacas ali. Tu quer não ir com a gente?

— Rapaz, eu estava fazendo um fogo ali pra gente assar uns peixes do rio. Eu lembro de uma velha me ensinando a preparar vários tipos de comidas típicas do nordeste. — fala Catraca olhando para Osvaldinho.

— Oxe. Uma velha? Será que era tua vó não? Pelo menos você tá se lembrando das coisas. — Osvaldinho compartilhar a ideia.

— Verdade Catraca, daqui a uns dias talvez você lembre de tudo. — Jonerranerson se intromete e dá um pulo do nada.

— Talvez seja realmente alguém da minha família, eu já sonhei algumas vezes com ela me ensinando a fazer chá com umas plantas e outras presepadas. — Catraca continua.

— Que massa. — Jonerranerson se expõe.

— Tá bom então. Pode ficar por aí. A gente vai procurar o pé de jaca. Tome cuidado Catraca, aqui deve ter um urso polar e te machucar. — Osvaldinho explica e olha fazendo cara de suspeito.

— Pode ficar tranquilo Osvaldinho. De todas as coisas que podem acontecer comigo aqui, ser atacado por um URSO POLAR tá bem difícil. — Catraca ri.

— Mas né pra ri não macho, eu tô falando é sério. — Osvaldinho não gostou.

— E é justamente por isso que eu estou rindo de você. — Catraca segura a risada para não estourar uma gargalhada.

— Home. Sabe de uma? Eu vou é mimbora, vocês ficam me zoando. E eu só me preocupo com vocês. — Osvaldinho faz a suposição.

Jonerranerson e Osvaldinho vão atrás do pé de jaca.
Uma estrada longa, algumas formigas caminham trazendo folhinhas verdades das árvores.
Animais maiores saem de buracos, enquanto Jonerranerson e Osvaldinho caminham devagar.
O pé se racha no chão quente, os espinhos perfuram os soldados e acabam deixando marcas profundas nos rapazes.
Algumas ventanias de areia atrapalham a visão deles, o que não os impede de continuarem firmes e fortes na trajetória.

Chegando em uma barreira muito ingrime, conforme a chuva e os ventos fortes vão modificando a paisagem, Osvaldinho vê o pé de jaca do outro lado do vale, e então fala:

— Tá vendo Jonerranerson? Tá bem ali espia. E agora?

— Como gota a gente vai chegar lá em desgraça? Tu num disse que era perto? Já andei qui só a besta maga e ainda vou ter que arrudiar por esse vale é? — Jonerranerson fica puto.

— Vamo rapaz. Vai desistir agora? A gente já tá aqui. — Osvaldinho incentiva

— Vô nada meu irmão. Longe que só a boba. Quer me matar, eu já sou mago e tu quer que eu ande mais? Quando eu chegar do outro lado vou tá mais fino que as folhas de aroeira. — Jonerranerson continua se recusando.

— Você é um cabra homem ou é um frouxo? — Osvaldinho pergunta.

— Pra ser cabra homem precisa andar arrudiar isso tudo é? — Jonerranerson retruca.

— É... — Osvaldinho responde.

— Então eu sou frouxo. Tchau, vá se lascar você e seu pé de jaca vá. — Jonerranerson vira as costas e começa a andar.

— Rapaz, vai me deixar aqui sozinho é? — Osvaldinho reclama e senta no chão.

— Meu amigo, você me trás pra esse fim de mundo, aqui no quinto dos infernos. E ainda quer que eu vá lá no outro lado na casa do caraí, tô com o cu coçando não meu nobre. Vá você e o papa, mas eu não piso lá nem que o diabo me carregue. — Jonerranerson vira, fala e volta a caminhar.

— Então eu vou sozinho e vou comer as jacas lá sozinho. Além do mais eu fiquei sabendo que lá tem umas galinhas do mato. A gente ia pegar pra matar e fritar elas na fogueira hoje. — Osvaldinho faz chantagem emocional.

— Mas também né. O que é um vale né? A gente tá aqui mesmo — Jonerranerson volta com uma cara lisa — bem ali rapaz o pé de jaca já. Eu estava brincando viu. Bora, chegue meu filho, levante vá, vamo simbora atrás dessas galinhas... — ele dá uma pausa e continua — quer dizer. Atrás dessas jacas né. O importante é as jacas — um tom de ironia reverbera no vale.

— Ah tá. Sei bem o que foi que chamou sua atenção. — Osvaldinho ri.

Eles continuam caminhando. E no meio dessa trajetória enorme, Jonerranerson já reclamou milhares de vezes. Já se arrependeu, pensou nas galinhas e voltou atrás. Muito complicado. Mas eu não perco nada, continuo acompanhando.

— Que diabo é aquilo ali em Jonerranerson? — Osvaldinho pergunta.

— Rapaz, sei não. Parece uma raposa. — Jonerranerson responde.

— E tem raposa no nordeste? — Osvaldinho solta mais uma pergunta.

— E eu vou lá saber homi, pelo amor de deus. — Jonerranerson se treme de medo.

— Não sei você, mas eu vou voltar onde tá o catraca, pernas pra quem te quero. — Osvaldinho corre e deixa Jonerranerson.

— Eii. Fi de rapariga me deixou sozinho. Espere eu desgraçado infeliz. — Jonerranerson também correr assutado.

Talvez eles tenham sérios problemas de enxergar. Não é possível que eles tenham confundindo uma pé de bananeira bem pequeno com um animal. E ainda mais uma raposa.
Rapaz, esses caras estão ficando doidos. Uma raposa?
Deus? Pra quem o senhor deu os neurônios que era pra esses seres aqui?

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