PERDIDO NO NORDESTE

5 0 0
                                    

É natureza em se colocar no penhasco do último suspiro nordestino.
É sabor, água de coco, puro pudor de quem se fere com a navalha azul do capitão do maior navio feito de folhas de aroeira.
É uma coruja, a pena ressalta, apenas a ré salta, e quando até a rena desaparece no natal por não suportar o calor.
Tão quente que o gelo não dá sinal. Placa de trânsito sinaliza sua própria parada, a estrada absorve tudo como coração de gente pura e humilde.

Vertente de quem está morrendo no seu próprio peito, assiste de um aparelho que não pode ser tocado em pleno século 21. Amostras de sangue são levadas no laboratório para que sejam dignas de uma alfabetização mais descente e relevante para o pai voltar a ter vontade de firmar os braços no rastelo.

Pensamentos de uma árvore distinta, a que não fornece oxigênio, a que não faz fotossíntese. Até os mosquitos tem mais vôo em liberdade do que o próprio nordestino.
As lamas são minérios valiosos, asfalto é igual a mentira, está presente na boca e no prato dos idiotas, não exite em dizer que caímos de cara no barro.

Já dizia aquele senhor que todos sabem o nome mas não é citado, não nos livros dos grandes autores que se dizem nordestinos, mas na boca da dona que ele a pouco tempo se apaixonou.

Penso na praia e as pedras negras, ouriços em moradias paralelas e tudo o que eu vejo cheira bem, e tudo o que eu cheiro me vê.
Ao cantar não há eco, mas, as ventanias me cercam e dizem palavras as quais eu não sei ao certo interpretar.

Sou uma coruja-canelão que faço poesias e pretendo ter um livro, letras escuras numa página em branco e folhas recicladas com cheiro de intelectualidade.
Mas o humor me domina, vir aqui dizer tristeza não é minha natureza, então que seja como o cloreto de um divã vem as narinas e me mostra um ilusão universal. É preciso dizer que não uso óculos, mas pode me imaginar de óculos, até porque, ninguém comanda seus sensores neurais, mas a realidade não é capaz de ser alterada. Assim como meu óculos não existe, a sua integridade talvez também não se encaixe nesse plano. É possível só imaginar, mas nem sempre sua imaginação pode se tornar realidade.

Pôr um prato transparente e limpo encima de uma mesa com seu cobertor cheio de sujeira.
Ao olhar o prato você verá a sujeira. Você sabe que a sujeira está na mesa, sob o prato, e não dentro dele.
Você que o pôs, então você sabe.
O próximo indivíduo que chegar não vai querer colocar nenhum grão de arroz nesse prato, com o puro medo de que aquela sujeira esteja dentro do prato e não a baixo dele. O ser terá essa dúvida, até passar a superfície do seu dedo no prato e ver que a sujeira não penetrou no seu dedo, porém, o vidro do prato não possibilitou.
A dúvida contínua em todos que entrar pela porta.
O prato não tem culpa, e nem tem sujeira para ser tão julgado, ele continua limpo para lhe ser posto uma boa comida, mas o que ele reflete acaba prejudicando sua imagem. O lugar onde ele está não o deixa sair de uma responsabilidade devastada.
Você é como um prato colocado em uma mesa cheia de poeira e sujeiras.

Para quem não entendeu é possível explicar. Mas tente tirar suas conclusões, eu não inventei atoa, eu fiz para gerar um pensamento.
Eu quis dizer que o que refletimos faz parte de quem nós somos, então sempre é bom refletir coisas boas para que as pessoas confiem em nós.
Mas as vezes nós não temos culpa de refletir coisas ruins como um prato.
Mas a sociedade nos coloca em mesas sujas e porcas.
Mas você não é totalmente um prato transparente, você pode sair dessa mesa.
Você é frágil e se suja rápido como um prato, pode ser usado por pessoas ruins e pessoas boas. Você talvez vá até a boca das pessoas. E as pessoas sempre vão te tratar como um prato, um objeto.

**

Jonerranerson está desaparecido. Catraca e Osvaldinho ainda não encontraram ele, mas não desistiram de procurar. Eles ainda tem esperança.

- Catraca?? Ei macho? - Osvaldinho fala enquanto para de caminhar atrás de algumas árvores de sabiá cheios de espinhos.

- O que foi em diabo? Susto da porra! - Catraca responde.

- Aquilo alí é uma casa ou eu tô ficando doido? - Osvaldinho arregala os olhos.

- Que viagem doido. E num é que tu tá certo. Realmente é uma casa Osvaldinho. Ou seja. Por aqui já passou alguém. - Catraca ressalta - vem, vamos lá Osvaldinho.

- E eu tô ficando doido não macho, Deus me livre. Ali deve ter um cangaceiro.

- Que cangaceiro o que rapaz. Tu nem sabe o que é isso. - Catraca sorri.

- Cangaceiro não é aquele povo que fuma e fica doidão, e depôs mata o povo no meio do mato né? - Osvaldinho pergunta.

- Não meu fio, isso aí é um maconheiro. Em geral, os cangaceiros nem fumam. - Catraca responde.

- Então o que é um cangaceiro? - Osvaldinho pergunta curioso.

- Bom... Primeiramente é bom saber o que foi o cangaço. O cangaço foi nada mais nada menos que um fenômeno social que existiu no Nordeste entre os séculos 19 e 20, caracterizado pelo surgimento de grupos de homens armados que promoviam ações de banditismo, que nas representações de hoje, Osvaldinho, pode significar roubos, furtos e latrocínio. E por onde passavam eles deixavam seus rastros destrutivos, faziam reféns e eram vistos por alguns como justiceiros. E daí surge também a resposta pra sua pergunta. Cangaceiro era o nome dado aos membros desses grupos. Usavam tapa olho, roupas de couro e com muitas medalhas roubadas. Carregando armas consideradas potentes para aquela época. Também eram agressivos e inteligentes, faziam muitas vítimas e brigavam frequentemente com a polícia, por justiça e igualdade social.

- Nossa, Catraca. Como você sabe de tudo isso? - Osvaldinho pergunta.

- Está aqui na minha cabeça. Assim como o nome cangaceiro também está na sua. - Catraca responde.

- Queria que isso tudo aí tivesse na minha cabeça. - Osvaldinho ri.

- Eu não sei explicar, eu só sei. Mas enfim. Vamos lá ver o que tem dentro daquela casa vai - Catraca vai andando e falando - assim a gente pode descansar e procurar o Jonerranerson pela manhã.

- Tá bom. Vamos lá. Mas agora eu tô com medo de ter um cangaceiro alí dentro. - Osvaldinho repete.

- Que desgraça. Eu já expliquei o que é um cangaceiro. - Catraca continua andando.

- Eu sei. E o fato de saber é que me fez ter mais medo. Cangaceiros se apossam de casas no meio do nada. Eles roubam e enfim. - Osvaldinho fala quando Catraca para do nada e olha pra trás com uma cara assustada.

- É... Realmente faz sentido, você tem razão. Vem. Vamos alí bem longe e lagar um côco. Se tiver alguém dentro dessa casa eles vão correr. E a gente não vai.

Daí, Catraca e Osvaldinho vão para bem longe e jogam em cima da casa um côco bem pequeno e pesado.
Ninguém sai da casa. Eles esperam mais alguns minutos e nada acontece, nem um simples inseto sai da casa.
Eles vão andando e entram na casa silenciosamente.

- Que bagunça da pext aqui dentro, e é um chiqueiro é? - Osvaldinho fala.

- Isso é bom. Se tivesse limpo e sem mato, seria um sinal que alguém veio aqui dentro e limpou tudo.

- É verdade, faz sentido. Mas tá crescendo mato até nas paredes Catraca.

- É normal em uma casa abandonada. Vamos arrumar esse cantinho aqui, colocar algumas palhas de coqueiro e dormir, eu já estou cansado, e já está ficando tarde. - Catraca dá a opção.

- É bom um escorpião aí, picar nosso rabo de noite. - Osvaldinho reclama.

- É por isso que a gente vai limpar e deixar tudo tranquilo.

- Escorpião também gosta de lugar limpinho e frio, viu.

- Cala a desgraça dessa boca e venha me ajudar vá.

A noite chega e eles dormem. Osvaldinho solta um peido, mas Catraca não ouve. Mas as corujas tem um bom senso. Saí logo de perto e vim aqui fora tomar um ar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 15, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

PERDIDOS NO NORDESTE Onde histórias criam vida. Descubra agora