Abraços.

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Abraço é uma ação um tanto quanto comum, e pode ser feita de várias formas.

O abraço de lado, abraço torto, abraço de braço, abraço de cintura... Abraços.

Simplesmente, abraços.

Abraçar.

Ser abraçado.

De início, parece ser uma ação fútil, sem utilidade nem sentimento, sem profundidade nem significado.

Mas ele próprio prova o contrário.

Abraçar, é colocar em seus braços algo. Um urso de pelúcia, um travesseiro, um animalzinho, uma cartinha, um presente, um alguém.

Abraçar é, de forma gramatical, abrir seus braços para recepcionar algo.

Já abraçar, de forma humana, é recepcionar aquilo amado. Como se fosse uma necessidade se agarrar a aquilo.

É inexplicável, abraços são inexplicáveis.

Você já percebeu que só se encaixa aqueles abraços feitos por total vontade própria, ou, de forma mais melosa: por total necessidade?

Aquele abraço esperado por tanto tempo, guardado com tanto carinho.

Aquele abraço nunca recebido, aquele abraço nunca dado.

Aquele abraço nunca sentido.

Por mais que essa ação seja inexplicável, não significa que ela seja insignificante.

Eu já perdi as contas de quantas vezes eu abracei minhas almofadas, tentando encontrar nelas algo para preencher o vazio de meus braços.

O vazio feito por alguém que nunca chegou.

Por alguém que nunca veio.

Que ficou tanto tempo guardado, reservado apenas para esse "alguém" que nunca sequer me notou, que quando eu fui dar meu primeiro abraço depois de tanto tempo, eu me senti desnorteada.

Era tão simples assim?

Mas depois, veio o sentimento de culpa.

Eu deveria ter esperado mais?

Não, eu sei que não. Eu sei que eu não deveria ter esperado nem sequer um pouco.

Não valeu a pena.

Só me fez sofrer mais e mais, e o ato de abraçar minhas almofadas se tornar mais constante.

Quase como uma rotina.

Era uma rotina.

E até hoje eu faço inconscientemente, naquele momento de super distração, quando eu menos percebo, eu já estou com meu braço em volta da minha barriga.

Abraçando a mim própria.

Era o que eu precisava, era o que eu fazia, é o que eu quero.

Abraçar alguém, ser abraçada por alguém.

E não aquele abraço de despedida, aquele abraço de impulso, aquele abraço que dura 3 segundos. Não.

Aquele abraço de boas-vindas, aquele abraço que se encaixa e se aperta, aquele abraço de minutos.

Que poderia ser pela vida inteira.

Onde lá, eu seria quentinha e protegida pra sempre, acolhida e amada pela eternidade.

Torcendo para que dure sempre mais um pouco.

Que sempre seja apertado, mostrando para ambos os lados que ninguém quer se soltar dali.

Aquele abraço que diz mais do que demonstra, mesmo que seja um verbo e por isso, não ser possível relatar uma sequer letra.

Mas, que mesmo assim, fala.

Oh, se fala.

Abraços, para ambas as pessoas nele, é como se essa ação classificada pela gramática como "voz reflexiva recíproca", fosse como se agarrar a um pilar, enquanto um grande tornado vêm em sua direção.

Você se agarra nesse pilar com todas as suas forças, orando para que não seja puxado para aquela bagunça de vento, objetos, concreto, pessoas e muita, muita poeira.

Coisas que podem lhe machucar.

Que vão lhe matar.

Aquele pilar é a única coisa que você pode supor ter pingo de esperança que vai sair daquela bagunça.

E então você aperta, aperta e aperta. Não querendo soltar o pilar nunca.

O abraço acaba, mas logo depois, você é bem-vindo com o sorriso amigável da pessoa a sua frente.

Ela foi o seu pilar.

Ela foi que te deu esperança.

Ela foi que te deu ajuda.

Ela que te distraiu da bagunça.

Foi ela, a pessoa que fez questão que o abraço durasse inúmeros segundos.

Apenas esperando o tempo do tornado virar tão pequeno, ao ponto de ir.

Apenas esperando o seu tempo de certeza de que o tornado se foi.

Apenas esperando, e te acolhendo.

Abraços são incríveis, eu espero que você saiba disso.

Sabe... Eu já fui o pilar de várias pessoas.

Eu cumpri a necessidade delas de se agarrar em algo para fugir de um outro algo.

De esquecer desse algo.

E ela conseguiu. Eu fiz ela conseguir.

E eu fico feliz por ela.

Mas e quanto a mim?

Eu nunca disse que o abraço de segundos já havia sido direcionado a mim.

O tornado continua me perseguindo, mas ninguém se ofereceu a ser meu pilar.



Você também espera encontrar um alguém pra se agarrar?



-739 palavras.
02/11/2022.

Querida mente, o quê tens 'pra mim hoje?Onde histórias criam vida. Descubra agora