(T/t)erra. - Crônica.

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Sabe, desde que me conheço como gente, tenho ciência de que o céu da minha cidade nunca foi estrelado; E, ainda por cima, raramente se via uma grande lua.

Não fazia muito tempo desde que eu havia notado uma estrela, ficava quase no topo do meu quintal; da vista daqui de baixo, parecia pequena, mas era brilhante. E pelo céu vazio, era fascinante.

Mesmo assim, ainda era pequena. Única, mas pequena.

Minhas noites eram ocupadas, e quando não eram, eram solitárias. Era preciso muito esforço olhar para cima; afinal, eu sabia que nada encontraria.

Tudo bem, de vez em quando, eu olhava – e encontrava ela. Sempre na mesma posição, na mesma intensidade e na mesma descrição. Sempre a mesma, sempre ela.

Um dia, levando algumas roupas sujas para a lavanderia, consequentemente passando pelo quintal, olhei para o céu.

Ela não estava lá.

As roupas já necessitadas de uma lavagem, sujaram de terra.

A mesma terra que eu pisava descalça, a mesma terra que minha cachorra usava, a mesma terra que eu brincava – a mesma terra que estava imunda, a mesma terra que precisava de ajuda, a mesma terra que estava abaixo de mim.

A mesma terra que esperava por mim.

Pisquei uma, duas, três vezes, entretanto nem esse costume para recapitular a visão embaçada era a precisão do momento.

Ela havia sumido.

Suspirei, descontente. Não era o que eu esperava, mas também não ia acabar com meu dia. Porém mesmo assim, estranhamente ou não, faria falta em cada um deles.

Desde lá, olho todos os dias para o céu, talvez na esperança de 'reencontrá-la'.

Mesmo assim, não sei dizer se minha ambição é tê-la novamente, porque o céu é muito feio sem nada, ou se é agradecimento por não ter mais luz.

Eu não sei se sinto falta da presença única estrela do céu,
ou agradeço pela despedida da única estrela do céu.

Na verdade,

Eu não sei se sinto falta de ter o que admirar,
ou agradeço pelo vazio para agora encarar.

Eu não sei se sinto falta de ter algo para me agarrar,
ou agradeço por agora nada ter que largar.

Talvez seja a hora de admirar somente a Lua,
na esperança da volta do Sol.

Ou talvez seja a hora de começar a olhar para a (T/t)erra,

e deixar o que está no alto,




só quando estiver lá.




400 palavras.
08/10/23.

Querida mente, o quê tens 'pra mim hoje?Onde histórias criam vida. Descubra agora