Hunter of Sin

remedy for my soul

Alpha's POV:

"Eu não consigo tirar os olhos dela, merda!" - Pensei enquanto estava de frente pra uma mulher que mais parecia uma Deusa encarnada. 

Ela tinha olhos castanhos que refletiam um fogo que poderia me queimar se me aproximasse mais. Sua face era de dor, com seus olhos manchados de lágrimas negras. Seu cabelo, um loiro avermelhado, eram mais resplandecentes do que as luzes daquele show. 

Eu senti um calor muito forte dentro de mim. Ela parecia me enfeitiçar com seu olhar.

Senti uma presença atrás de mim. - Alpha, tá tudo bem? - Era o Aether. 

Me desprendi daquele sonho em forma de mulher e me virei pra ele. - Está sim. 

Aether olhou pra direção que eu estava olhando e pude ver em seus olhos que ele ficou hipnotizado por aquela mulher. Ele olhou pra mim de volta e disse: "eu venderia minha alma por ela". 

- Mas você já vendeu, e não foi pra ela! - Nós rimos enquanto tocávamos nossas guitarras.

Eu preciso disfarçar... pelo meu bem e dela. - Pensei. 

Apesar da vida de músico ser tudo o que eu sempre sonhei, é uma vida muito complicada. Estar longe da família, dos amigos... ter um relacionamento sólido. São coisas que você tem que abrir mão, e sua nova casa é a estrada. Seus amigos acabam sendo os integrantes da banda.

Não que eu reclame deles, pelo contrário. Sempre me deram bastante apoio, na realidade, nós nos apoiamos muito, e isso nos faz continuar. 

Me virei pra plateia numa visão aonde eu não pudesse olhar para aquela mulher novamente e continuei o show.

(...) 

O show estava acabando e todos fomos à frente do palco agradecer pela presença de todos. Sem hesitar, olhei para aquela mulher novamente... e ela já não estava mais ali. 

Não sei por qual motivo eu senti um aperto muito forte em meu coração, como se tivesse levado um tiro.

Afrodite's POV: 

Antes do show acabar, preferi sair um pouco antes para ter a oportunidade de conhecê-los após o show. O ingresso que eu havia comprado me dava essa oportunidade, então eu quis ser uma das primeiras a poder conhecê-los de perto. 

Assim que estava na fila de espera, pude escutar gritos histéricos e muitas vozes. A banda estava saindo do palco e estavam indo em direção ao lugar que iriam receber os fãs. 

Pude sentir um aroma muito agradável - era amadeirado e doce - e suspirei como se estivesse sentindo um cheiro único na minha vida. Mas não sabia de onde era.

O tempo passou um pouco lento demais, visto que os fãs passavam mais de 10 min conversando com a banda e é claro, aproveitavam o máximo que podiam.

Quando chegou a minha vez, eu estava muito nervosa e tremendo. Quando o segurança permitiu minha entrada, eu tive uma reação de como se tivesse tomando um susto, e sorri. 

Eu estava bem pertinho da minha banda favorita, a banda que me salvou em vários momentos. E vendo todos ali, do jeitinho que eu imaginei, era algo que eu não sabia explicar.

Assim que entrei na sala, o Papa foi o primeiro a falar.

- Garota, você caiu de qual reino? - Perguntou me olhando sério.

- Como assim? - Olhei pra ele bem confusa.

- Você não é desse mundo. - Respondeu sorrindo.

Fiquei com as bochechas bem vermelhas - mais do que uma já estava - e agradeci. - Muito obrigada. - Sorri.

- Me diga seu nome. - Papa continuou.

- Afrodite. 

- Ah! Por Satan! A deusa da beleza e do amor! - Ele disse enquanto fingia que estava desmaiando. Com isso, todos riram, inclusive os ghouls.

- Muito prazer Afrodite. Eu sou o Aether. - Senti uma mão estendida em minha direção, e me virei para olhar para ele. Seus olhos eram acinzentados, e eram a única coisa que eu podia ver. Mas eram suficientes. Eu o cumprimentei, sorrindo.

Todos os ghouls se apresentaram, menos o Alpha. Ele aparentava estar paralisado me olhando, não deixei de perceber. Desde quando entrei, seus olhos não saíram de mim.

- Muito prazer, Afrodite... - Assim que me aproximei de Alpha, ele me cumprimentou e me beijou as mãos. Eu senti uma onda de choque muito grande, inexplicável. 

Os 10 minutos que eu tive com eles passou muito rápido. Não percebi o tempo passar. 

Mas de toda a experiência que tive com eles... algo me direcionava ao Alpha. Ele ficou o tempo todo ao meu lado prestando atenção em tudo o que eu falava. 

Quando ia me despedir, fui surpreendida com um puxão leve de braço.

Era o Papa.

- Afrodite... nós gostaríamos que você fosse no nosso próximo show. Será em uma cidade próxima daqui, nós podemos te disponibilizar um ingresso caso você aceite. 

Eu fiquei surpresa com a proposta, não poderia imaginar que isso pudesse acontecer! Foi tão rápido! O pior dia da minha vida tinha se transformado em um sonho.

- E-eu... aceito, claro! Será uma honra. - Disse ainda surpresa, porem com um sorriso enorme.

- Maravilha! O Alpha irá te dar o ingresso, ehm... Alpha? Pode ajudar a deusa aqui? - Disse o Papa enquanto olhava para mim.

Alpha se levantou de onde estava e veio em minha direção, com seus olhos fixados em mim. - Claro. - Sua voz era como uma faca afiada fincada em meu peito. - Venha comigo.

Ele me guiou até outra sala onde haviam algumas cadeiras com uma mesa de madeira escura, parecendo um escritório temporário da banda. - Sente-se. - Disse, enquanto fechava a porta.

Eu não conseguia pensar em nenhuma palavra, em nada. Minha mente simplesmente se esvaziou e eu fiquei sentada que nem uma estátua, parada. 

- Afrodite... certo? - Ele me olhou. 

- S-sim... - minha resposta saiu como se fosse meu último suspiro nessa vida.

Alpha pegou um ingresso sem olhar, era evidente que ele estava evitando me olhar diretamente. 

- Alpha... e-eu... - pude perceber ele levantando a cabeça pra me olhar. - eu gostei muito do show de hoje, queria poder tocar guitarra que nem você.

Pude perceber que ele deu uma risadinha, apesar de não conseguir enxergar a expressão dele por baixo da máscara que ele usava.

- Obrigado. - Respondeu, voltando a olhar pra baixo.

Acho que me enganei.

Achei que ele seria um pouco mais atencioso comigo, visto que estamos a sós... mas acho que foi tudo imaginação da minha cabeça carente. Não, não pode ser. Eu percebia seu olhar o tempo todo sob mim. Eu o via me encarando por muito tempo! 

- Aqui está. - Ele me estendeu a mão com o ingresso e minha mão tocou a dele. Senti um frio vindo de seus dedos, e por um breve momento, nossos braços ficaram estendidos até eu voltar para a realidade de um estrondo muito grande do lado de fora.

Sem demorar muito, pude sentir um empurrão bem forte e me vi no chão. Minha visão estava turva e o que consegui enxergar foi o Alpha segurando um cara... eu tentando enxergar com o máximo de clareza possível: era o Nicolas. Ele estava furioso.

- Então você vem pro show pra se esfregar com alguém da banda, vagabunda?! - As palavras do Nicolas me atingiram como flexas, e depois disso, eu apaguei.