hunter's moon

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Dias se passaram, e os treinamentos cada vez ficavam mais intensos. Eu passava a maior parte do tempo com o Papa IV e Copia, pois ambos eram o que tinham mais experiência com toda essa coisa de "ceifador-caçador". Por muitas vezes eu ouvia questionamentos entre eles, de "mas como ela de humana foi transformada?", "será que ela sempre foi assim mas só descobriu agora?", "quem é, de fato, seu criador?". 

Fire e Aether por muitas vezes tiveram que me conter, porém, ainda não sei explicar o que de fato acontecia comigo para "sair do controle". Lembro que em um dia de treinamento, fomos para o ar livre, pois eu disse que estava ficando sufocada dentro daquela enorme biblioteca que tinha dentro do casarão. Então, eles decidiram me levar para um parque bem afastado - porém bonito - com uma floresta perto. Durante o treinamento, minha audição - agora aguçada - me fez olhar pra dentro daquela floresta e nem hesitei em ir atrás. Durante meu breve momento de caçada, lembro-me de poucas coisas: uma criatura totalmente estranha, com asas e corpo humano, mas não conseguia ver sua cabeça nem seu rosto direito, mesmo estando de dia. Uma fúria incontrolável tomou conta de mim, e ao tentar atacar aquele indivíduo, Fire me conteve e me segurou. 

Ele disse que eu parecia um lobo incontrolável, e que mal conseguia me reconhecer. Mas eu não podia fazer nada com ele nem com Aether - ou o Papa e Cardinal - pois eu disse a eles que não sentia nada perto deles, nenhuma sensação de perigo, caça ou morte. 

Fire não tinha mais medo de mim, apenas temia pelo o que eu podia fazer, e por isso sua vigília se tornou ainda mais constante. Ele tinha me explicado que eu havia tentado atacar uma entidade que normalmente se apossa de pessoas com doenças psicológicas, mas impediu que eu o atacasse pois aquela entidade em específica era um transitório, ele ainda estava se adaptando a esse plano, e caso eu o matasse, corria o risco de absorver tudo o que essa entidade já havia absorvido por aí.

(...)

- Papa, por favor. Vamos dar um tempo? Eu preciso muito descansar. E também faz dias que não ataco mais o Fire e o Aether. Isso significa algo, certo? - Perguntei enquanto me jogava no chão. Estava exausta, e dessa vez com fome.

- Eh, acho que por mim tudo bem, Afrodite. Podemos descansar um pouco. Aproveito para rever meus outros afazeres. - Papa respondeu.

Pulei em um impulso e o abracei, celebrando por aquele momento breve de descanso. Ele não entendeu muito, mas pulou comigo, e Fire e Aether começaram a rir. 

Fui correndo para meu quarto para tomar um banho e pensar no que eu poderia fazer. Não estava com a menor vontade de dormir, sabia também que não podia mais sair sozinha por aí até o fim do treinamento ser finalizado... talvez ensinar o Mountain mais algumas receitas? Ou até mesmo pedir ao Swiss pra me ensinar a tocar piano?

Saindo do banho, Fire estava me esperando sentado na cama. Ele estava com um olhar que parecia animado para algo, o que é bem difícil ver tal expressão em seus olhos.

- O que foi? - Perguntei com curiosidade.

- Gostaria de te levar para sair. - Ele respondeu.

- Mas não posso sair...

Ele me interrompe e diz "não pode sair sozinha". Fire é muito rápido, e nem tive tempo de pentear meus cabelos e ele já estava abrindo a janela do meu quarto.

- Vamos ser foragidos? 

- Não que alguém precise saber. - Ele respondeu, com um sorriso malicioso.

Peguei em sua mão e inconscientemente já estávamos pulando a janela. Ao lembrar que não sabia voar, fui surpreendida por um pulo alto que dei entre as arvores, entendendo que também possuía agora a habilidade de correr tão rápido quanto o Fire e por não sofrer impacto nenhum.

Fui seguindo Fire pelos caminhos que ele passava, até que chegamos à um penhasco muito alto - tão alto que parecia ser possível tocar a lua. E a lua... incrivelmente enorme e iluminada, sua presença era tão magnífica que me fazia querer alcançá-la a qualquer custo. Ela me abraçava de um jeito inexplicável, onde podia quase que sentir seu abraço.

Olhei para Fire e ele estava sentado perto de uma toalha quadriculada e uma cesta. Parecia que iriamos fazer um pique nique em plena luz da lua. 

- Não sabia que era romântico. - Disse enquanto olhava pra cesta, pensando nas comidas gostosas que Fire gosta de comer, e que sempre me surpreendiam.

- Todo ghoul tem suas épocas e momentos. - Ele respondeu, enquanto dava pequenas batidinhas ao seu lado, me chamando para me juntar à ele.

Assim que me sentei, Fire colocou vários tipos de doces, biscoitos, e aperitivos na toalha, além de vinhos e água. Fiquei apenas o observando, e ele me serviu um pouco do vinho e me deu um de seus aperitivos favoritos - que era uma espécie de queijo gorgonzola, mas não fedia tanto a chulé quanto o próprio.

Durante grande parte da noite, conversamos sobre o que gostávamos de fazer, nossa infância e até sobre os outros Ghouls e a banda em si. Fiquei impressionada por Fire ter se aberto comigo, pois sempre foi muito fechado e reservado. Ele teve uma infância conturbada, pois foi abandonado por sua criadora e passou grande parte da sua vida vivendo em bueiros se escondendo de seres humanos. Até que uma senhora, antiga bruxa, o encontrou em um dia que ele estava caçando algo para comer na floresta, e ela o acolheu. Para muitos, ghouls e outras entidades, ocultismo, demônios e até deuses eram apenas mitos e histórias. 

Quando Fire já era um jovem adulto, ele viu-se sozinho novamente, pois a velha bruxa que o acolheu já havia partido. Até que Papa I o summonou acidentalmente, algo que é bem difícil de acontecer com um ghoul que já se encontra neste plano, e desde então ele faz parte de toda aquela bagunça que se chama banda Ghost e agora Church of Sin. 

Fire tem uma aversão a cachorros, ele sempre preferiu gatos, pois diz não entender muito bem os cachorros. Apesar disso, ele ama o Leo, e o trata como se fosse dele. Ele também ama tocar guitarra, pois diz que sai desse mundo e sua cabeça finalmente se esvazia. Não gosta de nada colorido, odeia sol e se pudesse, moraria no Alaska. Ele também gosta muito de comida italiana e queijos, e não gosta de carne vermelha. 

- Então quer dizer que se pedir uma prato de almôndega, tem que ser de frango? - Perguntei rindo, já visivelmente alterada pelo alcool do vinho.

- Basicamente. - Ele respondeu, também rindo. 

Entre muitos diálogos profundos e outros bastante atrapalhados, ficamos muito confortáveis com a presença um do outro, até que deitamos naquela grama úmida do pico, e ficamos contando estrelas e possíveis planetas. 

Até que, fechei meus olhos e brevemente o rosto daquele homem de cabelos brancos que conheci em um de meus sonhos na praia de areias negras, apareceu novamente. Logo, abri os olhos.

Quando olho para o lado, Fire encontrava-se sentado, olhando para frente, com uma expressão de que como sua alma estivesse sido levada. Seus olhos estavam com uma cor vermelho escuro, e seus lábios em tons de roxo. 

Assim que olho para a direção que ele estava olhando, ELE estava lá... aquele homem que via em meus sonhos, ele estava perante nós, e me encontrei em puro choque. 

Ele é real.

Na verdade, aquilo não era um ser humano. Pelo contrário, ele parecia ser um anjo. Sua pele tão branca que refletia a luz da lua, quase me deixava sem enxergar nada. Seus cabelos voavam acompanhando a dança dos ventos ao seu redor, e ele tinha asas. Asas brancas e enormes, mas majestosas. 

Sua expressão era serena, e ele direcionou seu olhar a mim. Assim que seus olhos totalmente pretos encontraram os meus, eu senti uma enorme pontada em minha cabeça - a dor era absurdamente forte, e acabei me debruçando sentada com as dores. Tentei recuperar minhas forças para olhar para aquilo, Fire ainda estava paralisado, e de repente, aquele homem de asas as movimentou e com a mesma rapidez do vento que foi gerado por elas, ele desapareceu.

Fui correndo para perto de Fire, e ao tocá-lo, foi como se tivesse o feito voltar a realidade. Ele olhou para mim e com uma expressão de surpresa em seus olhos, agarrou meus braços. 

- Precisamos ir. - Ele disse.

- Por que? Quem é ele? - Respondi, confusa.

- O Criador. 

Hunter of SinOnde histórias criam vida. Descubra agora