blood for blood

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Eu estava andando em uma praia de areias negras e um paredão enorme que a cercava. As águas dessa praia eram de cor azul escuro, e o tempo estava nublado. Não conseguia enxergar muita coisa por conta da maresia muito forte, mas olhei para meus pés descalços e estava usando um vestido preto com vários cortes nas pernas. Ventava muito, mas não sentia frio.

Não sabia e nem lembrava como havia parado ali, e na verdade, naquele momento eu apenas queria encontrar um abrigo. Conforme fui andando pela praia, avistei no alto de um pico, uma construção que parecia ser um castelo. Fui andando em sua direção, mas quanto mais andava, mais distante parecia de chegar ao meu destino.

Por muitas vezes parava e me ajoelhava naquela areia negra e úmida, cansada. Estendia minhas mãos pois estavam doendo, e ao olhar meus braços, via marcas profundas como se algum animal tivesse me atacado.

Um sopro em meu coração me fez assustar, pois lembrei do que havia acontecido... mas como vim parar aqui? Esfreguei meus olhos achando que poderia ser um sonho ou alguma alucinação, mas nada acontecia. Até que na minha última tentativa de acordar daquele sonho, um homem aparece em minha frente. 

Sua pele era tão clara que ele parecia ser uma escultura de gesso. Ele tinha cabelos brancos que combinavam com suas sobrancelhas, e seus olhos tinham uma cor de um roxo profundo. Ele estava diante de mim, mas não conseguia entender sua feição. 

Ele estendeu sua mão para mim, e assim que aproximei minha mão da dele, fui empurrada sem ser tocada, mas a força do empurrão acabou me jogando pra dentro do mar. Eu senti aquela água gelada congelando meus dedos e meus pés, onde tentei por muito tempo ir até a superfície, mas era em vão. Meu último sopro de ar se esvaiu dos meus pulmões e afundei...

(...)

Acordei gritando em desespero, onde me encontrei sentada em minha cama. Olhei ao redor e dessa vez reconheci onde estava - em meu quarto. Uma enorme sensação de alivio tomou conta de mim e comecei a soluçar de tanto chorar. Não percebi que Fire estava ao meu lado até ele me abraçar.

- Está tudo bem, agora. - Ele disse enquanto me envolvia em seus braços e afagava meus cabelos. 

Eu não conseguia dizer uma palavra sequer. Apenas olhei em seus olhos, e me assustei quando o vi sem a máscara de sempre.

- Sim, eu sei. Mas acho que nesse momento, você precisa de um rosto "amigável", certo? - Ele sorriu sem mostrar os dentes.

Só havia visto o rosto do Fire uma única vez, em um momento totalmente diferente. Dessa vez, ele estava sem aquelas veias saltadas em seu rosto e sem aqueles olhos vermelhos. Seus olhos azuis acinzentados me olhavam com ternura, e seu rosto me passava tranquilidade. Ele era realmente lindo. Uma beleza totalmente diferente de qualquer humano. Ele parecia um anjo... mesmo estando longe de ser um.

- Eu não lembro de quase nada... - Disse olhando pra ele.

- Eu sei. Mas o que você fez, foi impressionante. Você usou sua força adormecida. 

- Como assim? 

- Você conseguiu se defender de um demônio carniçal. Um humano comum não conseguiria nem chegar perto de um. 

Me assustei um pouco e meus olhos se arregalaram. - Isso significa que...

- Sim, você o matou. Isso trará problemas? Sim. Conseguiremos resolver? Sim. 

- Problemas? Quais tipos de problemas? - Me virei para ele, com mais medo do que podia imaginar. 

- Não é hora de falarmos disso, Morningstar. Você precisa descansar. Foi atacada, perdeu bastante sangue e ainda ficou 2 dias desacordada. - Respondeu Fire. Ele parecia bem preocupado comigo. 

- Fire, eu... por favor não queria causar problemas. 

Ele me abraçou e me disse pra não me preocupar. Pude sentir um pouco de rigidez em seu corpo, como se ele estivesse com medo. 

- Você está com medo de mim? - Olhei diretamente em seus olhos.

- Não tenho medo de você, meu amor. Tenho medo do que tem dentro de você. E nem você sabe. 

- Sou eu, Fire. Sou a Morningstar! Eu apenas me defendi! Se não, poderia ter morrido! - Meus olhos se encheram de lágrimas só de lembrar de algumas partes daqueles momentos.

- Eu sei, eu sei. Mas não vamos falar sobre isso agora, hm? - Ele tentou me abraçar novamente, mas tentei beijá-lo. Ele por um momento cedeu, mas logo segurou meus pulsos e se afastou de mim.

Olhei para ele com decepção. Ele realmente estava com medo de mim? Eu apenas havia me defendido! Será que ele não conseguia entender isso? 

- Não podemos agora, Afrodite. 

- Não pode nem me dar um beijo? Eu sou um monstro pra você agora? - Respondi, visivelmente irritada. 

Ele se afastou e pegou um espelho. Veio em minha direção e virou o espelho para mim. 

- Está se vendo? - Ele perguntou.

Quando olhei para meu reflexo, meu rosto estava com marcas como se eu tivesse sido atingida por um raio, com vários feixos escuros. Meus olhos estavam em uma cor de âmbar avermelhado, com o globo ocular vermelho. Meus lábios em uma cor escura, como se eu tivesse passado um batom bem escuro. Eu não me reconheci e como um reflexo, joguei o espelho longe.

- O que é isso?! - Gritei desesperada.

Fire tentou me acalmar, mas sem sucesso. Levantei e fui correndo até o banheiro, e no espelho de lá também estava do mesmo jeito. 

Comecei a chorar de desespero, pois não sabia o que estava acontecendo. Caí no chão por fraqueza, e Fire me pegou em seu colo. Eu chorava tentando achar alguma explicação, até que a porta do quarto abriu e era o Papa IV.

- Então as previsões foram confirmadas. - Ele disse me olhando com muita seriedade e preocupação.

Fire concordou com a cabeça, enquanto Swiss, Mountain, Aether e Water entravam no quarto. 

- O que foi confirmado, Papa? - Mountain perguntou, perplexo.

- Ela é uma ceifadora de almas. - Papa respondeu. - Isso significa que ela descobriu sua força primária, e se não for treinada e controlada, ela ceifará qualquer coisa sobrenatural ou em desordem nesse plano. - Seu tom de preocupação era iminente. 

Fire me olhava com preocupação, mas sem dizer uma palavra, gesticulou "estou aqui com você" com sua boca. Eu olhava para todos assustada, parecendo um animal indefeso, mas estava esgotada fisicamente, que acabei desmaiando novamente. Mas, as últimas palavras que escutei antes de desmaiar foram...

"Não te abandonaremos". 

Hunter of SinOnde histórias criam vida. Descubra agora