★ Casa Nova ★

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– VANESSA RIOS • –

Eu definitivamente me recordo de em uma das aulas de português, o meu professor dizer que a ideia do pós-colonialismo é uma mentira. E também me recordo com fervor de seus argumentos absurdamente válidos e o quanto eu concordei com ele ao analisar a sociedade atual.

Ainda estendemos tapete vermelho para os estrangeiros desfilarem, ainda valorizamos demais o que vem do exterior e de menos a nossa nacionalidade. Os reflexos de um povo colonizado, moldado a um padrão totalmente europeu ainda estão presentes no nosso meio.

E se você ainda vive na ignorância de achar que o racismo não existe, é só buscar no google e verá a quantidade de assassinatos envolvendo pessoas negras, e em sua maioria com a mesma desculpa de sempre "foi para me defender" (de quê?), "ele se parecia com um criminoso" (por quê?), "ele era bandido" (quem disse?). Está tudo aí, basta observar como as pessoas brancas têm muito mais oportunidades de emprego, na forma em que são seguidas dentro de uma loja ou supermercado, naquele seu amiguinho (a) que fica com uma pessoa retinta no off mas no on assume o padrãozinho que a sociedade aplaude.

Está tudo exatamente aí.

Mas as pessoas fingem não ver, as pessoas se vendam de propósito porque é mais fácil acreditar na historinha de que todos somos iguais. Não porra, não somos iguais, não se compara o preto com o branco, afinal sempre vão preferir o gato branco que o preto (porque dá azar), sempre vão preferir o cachorro branco ao preto, e sabem por quê? Porquê o preto é atribuído a tudo de ruim que possa existir: má sorte, maldade, trevas, diabo etc.

Esse papo de que todos são iguais só funciona em teoria, mas na prática não dá para dizer que somos iguais. É estúpido e totalmente ficcional.

Me lembro também de quando era criança, por volta dos meus sete anos de idade quando passava os fins de semana na casa da minha avó e uma vez quando fui contar para ela que uma coleguinha chamada Mileny havia me chamado de macaca imunda, ela ficou horrorizada. Primeiro, me abraçou e beijou e disse que aquilo não era verdade e que eu era linda daquele jeito, com aquele cabelo, aquele tom de pele e aquele nariz e segundo ela contou para a minha mãe mesmo eu implorando pelo contrário.

Minha mãe foi no colégio, o que resultou em uma reunião com os pais de Mileny. Mas não era como se tivesse funcionado muito já que a mãe alegou ser "uma brincadeirinha de criança". Então naquele mesmo dia quando chegamos em casa, minha mãe se sentou comigo e me explicou que infelizmente a maioria dos filhos se tornavam o reflexo de seus pais, e que eu não devia sentir raiva da minha coleguinha ou algo do tipo porquê ela só estava reproduzindo aquilo que via e ouvia em casa, provavelmente.

Mas não havia como não ficar ressentida quando três anos depois, na quarta série essa mesma colega me acusou de ladra diante a turma inteira. Obviamente eu não havia roubado nada mas quando foram revistar minha mochila, o ipad dela estava lá dentro junto com os fones de ouvido. Eu chorei muito, me senti envergonhada e aquele para mim tinha sido o pior dia de toda a minha vida.

Mas eu estava enganada, mal sabia eu que o meu pior pesadelo chegaria alguns anos mais tarde. Eu só não conseguia entender, como alguém conseguia ser tão cruel.

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Eu morava na comunidade desde que me entendia por gente. Estava acostumada a correr pelas ruas do morro, brincar de pique com a galera, ir buscar bala no bar, ficar até tarde brincando de bola, de queimado e o melhor já estava há dezesseis longos anos de existência habituada ao calor descomunal do Rio de Janeiro.

*Finalizada* BRANCO E PRETOOnde histórias criam vida. Descubra agora