REVELAÇÕES

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VINCENT COOPER •



ESTAVA NA REDE deitado, enquanto lia um livro qualquer, que falava sobre a época do nazismo, todo o caos que ficou depois das atrocidades lideradas por Hitler. Pasmem, eu aprecio leitura, mas dificilmente "questões como essa", me interessavam, eu só caí na bobeira (ou não) de começar a ler e não consegui mais parar. Hitler não foi um humano, foi um demônio em cima dessa terra, com toda certeza.

Eu tinha completa noção de que precisava me desconstruir, esquecer tudo que havia aprendido e como eu havia sido criado, porque nada daquilo era verdade. A minha avó teve uma decepção amorosa, e decidiu despejar toda a sua frustração na ideia de que os negros não prestavam, de que eram inferiores, perigosos, ladrões, e adjetivos ainda mais horrendos. Convenhamos que, na época da juventude da minha avó, a sociedade ainda era muito racista, então era como se os negros fossem aceitos mesmo (e ainda não são) mas, minha vó juntou a sua decepção com um pré conceito * que ela já possuía sobre os negros para fazer o que fez. Ela criou a minha mãe e as minhas tias para serem perfeitas racistas, e elas fizeram o trabalho com os filhos.

Eu sabia que comigo tinha falhado, há alguns anos quando conheci aquela garota de fita amarela. Ela era sorridente, os dentes branquinhos e alinhados, magrela e a pele tão colorida, mas não era aquele colorido de muitas cores, eu digo colorido porque era bem retinta e sua pele entrava em contraste com a fita no seu cabelo crespo. No primeiro momento, eu não achei uma boa ideia falar com ela, mas eu fui embora pra casa pensando que, era a minha chance de fazer uma nova amiga, era ela ou ninguém. Mas ela era de pele escura, vovó jamais aceitaria, mamãe se visse ia me bater. Mas ela... parecia tão legal, um sorriso tímido mas ao mesmo tempo cativante, também parecia não ter nenhum amigo por ali.

Talvez, vovó não descobrisse se eu fosse esperto. E foi o que fiz, no dia seguinte estava na calçada da casa onde a garota estava residindo, e então começamos a brincar. Ela tentava conversar comigo mas, eu preferia ficar em silêncio para não ter a chance de falar algo errado ou que fizesse com que ela não quisesse mais brincar comigo.

Brincamos todos os dias das nossas férias e eu estava feliz, mas quando pensava que teria que ir embora ficava muito triste. Não queria deixá-la e então o que não podia acontecer, aconteceu. Vovó descobriu sobre nós, as nossas brincadeiras, a nossa amizade e naquele dia eu recebi uma chuva de broncas, alguns tapas e fui dormir chorando. Mas, na esperança de encontrá-la algum dia.

O sentimento de ela poder ter se esquecido de mim ou não ter sentido vontade de manter contato, me corroeu. Eu esperei por anos, alguém que parecia não se importar, a única amiga que eu fiz na vida, não havia me considerado importante. Então eu fiz o que não devia, me olhei pelo espelho da minha vó, e ele acabou projetando algo que não era verdade, acabou refletindo um Vincent que eu não era, mas que eu acabei me tornando.

E por vezes quando ofendia ou ridicularizava algum negro, no fundo eu sabia que não estava certo, mas eu não queria sentir pena. Eu gostava de imaginá-la ali no lugar de qualquer pessoa negra, sofrendo, pois eu queria que ela sofresse metade do que eu sofri com o sentimento de rejeição, mas também com os pressionamentos e os moldes que não me cabiam, mas me forçaram a entrar.
Nada justificava minhas atitudes racistas e idiotas, nada. E eu também não havia deixado de ser racista do dia para a noite quando comecei a desenvolver sentimentos por Vanessa, aliás... desenvolver ou reacender?

Porque a minha ficha havia caído que, naquele dia em BH, foi construído e deixado para trás muito mais que uma amizade.

— Vincent, o almoço está pronto querido.— fui tirado de meus pensamentos quando ouvi a voz de Matilde (uma das empregadas).

*Finalizada* BRANCO E PRETOOnde histórias criam vida. Descubra agora