Olhares - Sariette

Merak

Merak: Palavra em língua sérvia que indica um sentimento de profundo amor para o universo, que vem da capacidade de apreciar as pequenas coisas simples que fazemos no cotidiano.

Pov Sarah

Ainda não passava das 8 horas quando mandei uma mensagem para minha melhor amiga pedindo que me encontrasse para tomar café da manhã em minha casa, eu estava preocupada. O que ela estranhou, já que sempre preferimos sair para algum lugar do que comer em nossas próprias casas.

Aleguei que era "importante", mas não muito. Ela aceitou minha resposta e em menos de 20 minutos Thais já tinha chego em minha casa.

— Eu sei que algo está te incomodando, o que houve? - perguntou tomando alguns goles de café - Foi Karol de novo? - neguei com a cabeça 

— Você precisa de uma pausa - fui direta e ela arqueou a sobrancelha

— Eu estou bem - deu de ombros tomando mais um gole

É claro que ela mesmo não admitiria. Eu não tinha certeza se ela sequer percebeu, mas ela estava trabalhando mais de 10 horas por dia, 7 dias por semana, desde que seu namorado terminou com ela. Nós ainda não tínhamos tido a chance de ter uma conversa completa até hoje sobre isso. Ela estava sempre ocupada, ou se esquivava do assunto.

Ela parecia bem, mas conhecendo minha melhor amiga, eu duvidava que ela realmente estivesse. Thais vinha fazendo isso há algum tempo, deixando sua agenda sempre cheia para não ficar sozinha com seus pensamentos. Eu entendi porquê ela pensou que poderia ser uma boa ideia, mas não estava a ajudando em nada.

— Sim, claro - murmurei antes de comer um pedaço de pão de queijo, ela fez o mesmo, desviando o olhar de mim - Você não quer falar sobre isso... em vez de trabalhar freneticamente para evitar?

— Na verdade não - sua caneca retiniu na mesa quando ela respondeu

— Por que não? - perguntei. Nós sempre fomos bem sinceras uma com a outra em relação ao que estávamos sentindo

— Não sei - deu de ombros - Simplesmente não quero

— Ainda dói? - a pergunta soou estúpida para ela. Claro que dói! Ele partiu o coração dela e foi embora no minuto em que Thais pegou Guilherme a traindo

— Sim, isso dói - ela tinha feito uma pausa antes de responder em um tom sarcástico

— Isso te deixa com raiva? - continuei

— O que você quer dizer com isso me deixa com raiva? - olhou impaciente para mim - Sim, estou com raiva!

— Isso te deixa triste? - fiz mais uma pergunta óbvia 

— Por que você está fazendo as perguntas mais bobas quanto a isso?

— Sim ou não?

— Sim!

— Então sinta essas coisas! Não ignore esses sentimentos e coloque-os em lugar escondido. Fique triste, fique com raiva, fique magoada, não há mal algum acabar com as partes dolorosas. Engarrafar isso só vai te machucar a longo prazo - descansei minha cabeça em minha mão. Ela se recostou na cadeira, cruzando os braços sobre o peito enquanto relaxava um pouco – Eu odeio quando você faz isso porque eu te amo muito e dói ver você se culpando por não estar bem

— Sah... - disse com a voz vacilando e se levantou para se sentar na cadeira livre ao meu lado, Thais deitou a cabeça em mim e eu abracei de lado

— Thata, está tudo bem em sentir tudo isso. E eu estou aqui pra você, jamais se esqueça disso! Lembro quando éramos pequenas e você me disse "Sarinha, não precisa mais chorar. A partir de agora eu vou cuidar de você sempre!" - sorri me recordando - E você não estava brincando nem um pouco, desde aquele dia você não parou de cuidar de mim da melhor forma possível. Sei que naquela época não verbalizei aquilo em voz alta, mas prometi a mim mesma que faria o mesmo por você - limpei a lágrima que escorreu por debaixo de seus olhos amendoados