• Prólogo •

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Ele observa como os pés do garoto parecem estar grudados ao objeto construído de madeira. Todas as manobras parecem impossíveis, extraordinárias e são tão bem executadas que é impossível não sentir os olhos se encherem de brilho.

O garoto tem equilíbrio, talento, mas acima de qualquer coisa, um grande amor por aquilo que está fazendo. O vento bate na camisa larga e colorida que o garoto veste, além dos longos fios de cabelo que estão praticamente em seus olhos, o que não parece lhe incomodar, porque ele está lá, executando os giros, indo com velocidade em direção às pequenas rampas. O skate de rua parece casa para o garoto.

E ele continua observando. É satisfatório e ousaria dizer até mesmo excitante, porque tinha que admitir, não era simplesmente qualquer pessoa capaz de fazer aquilo, havia determinação, dedicação e possivelmente muitos treinos envolvendo joelhos ralados.

Espetacular. Era o que poderia resumir o que presenciava. O público ovacionou as manobras com nomes difíceis de outro idioma sendo narradas em tempo real, era como um gol marcado no futebol, um ponto de saque feito no vôlei, mas de alguma forma nenhuma dessas comparações fazia sentido ao se explicar ao skate. Não havia um esporte como aquele, que mesmo fazendo parte daqueles que se praticam individualmente, havia o conjunto.

A rivalidade, mesmo que presente não parecia importar, os atletas pareciam se ajudar, e o garoto, com aquele sorriso lindo estampado no rosto junto daquelas covinhas tão fofas era o grande motivo do seu caos há alguns meses. Só que ele parece tão legal e descontraído que por um momento achou que estivesse exagerando em relação ao que sentia.

Talvez tenha exagerado quando não foi com a cara dele por um acidente. Talvez tenha sido rude quando disse que ele deveria se dedicar a outras coisas ao invés do skate, porque aquilo definitivamente soou como uma ofensa, algo completamente sem noção. Ninguém diz o que o outro deve fazer, principalmente se não há intimidade.

Ele sabe que errou com o garoto, porque aquelas manobras provavam que ele nasceu para isso. Nasceu para ser gigante em seu pequeno espaço. Nasceu para pertencer àquela pista de skate que parecia tão simples por conta da presença de algumas rampas e corrimãos, mas que se tornaram palco em seus pés. Um show à parte.

Seus olhos o encontram, com um misto de brilho e confusão por lhe encontrar ali, mas pareciam ao mesmo tempo um tanto determinados, como se provasse que ele podia pertencer ao local sem problema algum e de fato, ele estava certo.

O garoto tem seus fios de cabelo grudados sobre a testa por conta do suor. A luz do sol batendo em seu rosto parecia arte, assim como aquilo que acabou de fazer com o skate minutos atrás. Ele se aproxima, pondera seus movimentos, mas sabe que ganhou confiança e admiração daquele que o observou o tempo todo.

E este, por sua vez, parece estar sem palavras, ele nunca hesitou tanto como dessa vez. Não há nada que ele possa dizer que soe certo agora, porque seu olhar entregou tudo o que o garoto queria ter recebido desde o primeiro momento.

Ternura.

Sk8er Boy I OhmNanon Onde histórias criam vida. Descubra agora