• Capítulo 4 •

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Ele não sabe quantas vezes leu e releu aquele e-mail até se dar conta de que era real e estava acontecendo. Seu currículo tinha sido selecionado para a próxima fase e logo ele poderia realizar uma entrevista com um membro da equipe de recursos humanos daquela empresa que Film coincidentemente trabalha, e infelizmente onde aquele homem que não é mais um desconhecido é dono.

Nanon nem hesitou em confirmar a data e o horário da entrevista, porque ele sabe que o salário que ganha na sorveteria não deixa sobrar nada para o fim do mês. Ele estava cansado de viver com as contas apertadas, mas ao mesmo tempo sem entrar em dívidas, pelo menos.

Logo a ansiedade lhe consumiu. Fazia um tempo desde que não tinha contato com quem era da sua área de formação além de Film. Estar nesse mundo depois de um tempo seria desafiante, mas ele estava contente com aquela oportunidade. 

Para aliviar a tensão e a ansiedade depois daquele e-mail, Nanon decidiu que seria um ótimo momento para jogar online. Ele, em suas horas vagas, adorava jogar no computador e ficar algumas várias horas na frente daquela tela se divertindo com amigos conhecidos ou com aqueles que ele só tem contato pela internet. 

Quem lhe conhecia sabia que qualquer coisa relacionada a emprego ou compromissos, aquele frio na barriga, o tremor nas mãos e o calor no corpo se faziam presentes. Mesmo que momentâneo, ele desejava ser mais tranquilo em relação a algumas coisas em sua vida, mas tinha plena convicção que uma vez acostumado, não precisaria mais se preocupar.

E ele jogou até sentir os olhos pesados e a visão nublada, tomou um banho e logo foi preparar algo para comer. Tinha que estar com a mente tranquila para o dia seguinte, que era a data marcada para a entrevista com o RH.

O sabor ao mesmo tempo agradável e forte da pimenta, — se é que podia fazer esse tipo de descrição a respeito de um macarrão instantâneo —, o preenchia pela fome que sentia naquele momento.

Antes de se acomodar no sofá e ler as mensagens no celular, uma notificação foi mais rápida e lhe despertou com a vibração intensa do aparelho. Era uma mensagem de Film.

Amigo, você me mandou mensagem mais cedo,
to feliz demais por você ter passado de fase, 
espero que se saia muito bem, porque eu to muito ansiosa
pra trabalhar com meu
maninho, te amo e sucesso! <3

Nanon não conseguiu evitar de sorrir para a tela do celular com aquele pequeno texto da amiga. Film era muito importante para ele, como uma irmã, só que eles brigavam consideravelmente menos nesse caso. 

Obrigado, maninha!
Te amo também!

Depois de comer e responder outras mensagens sabia que estava ficando tarde e precisava ir dormir. Assim que deitou na cama mal percebeu quando tudo ficou escuro e adormeceu.

•••

O relógio marcava dez horas e cinquenta e cinco minutos naquela manhã. Nanon estava sentado em frente ao notebook aberto atualizando a página da chamada de vídeo que começaria em exatos cinco minutos. Sua barriga doía e a palma da mão estava suada. Fazia muito tempo que os princípios de ansiedade não tomavam conta dele dessa forma, mas um longo suspiro foi o suficiente para ele retomar a própria energia.

Quando o relógio marcava onze horas e um minuto, um homem com o cabelo bem arrumado e sorridente apareceu na tela logo depois de autorizar o acesso de Nanon ao vídeo. Ele se apresentou como Force e cumprimentou Nanon de forma descontraída, fazendo toda aquela tensão se dissipar completamente.

Foi uma conversa e não necessariamente uma entrevista como Nanon imaginou que seria, fora que ele se sentiu tão tranquilo e otimista a respeito daquela chance que depois o fez parecer um louco atualizando sua caixa de entrada do e-mail para descobrir se tinha algum retorno sobre aquela vaga, mas ele precisava trabalhar naquele dia, então ele se arrumou e foi para a sorveteria.

Nanon mandou mensagem para Film a respeito de toda aquela experiência e quando chegou no trabalho, contou de forma reservada para Tay, aproveitando que o chefe deles não estava presente. O amigo pareceu meio chateado por cogitar a chance de parar de ver Nanon com frequência, mas ao mesmo tempo demonstrou muito apoio para ele.

Depois de vinte e quatro horas Nanon ainda continuou sem retorno, mas sabia que tinha que voltar para os treinos de skate se ainda almejava aquele sonho também, então antes de ir para a sorveteria, mandou uma mensagem para Neo e pôde finalmente voltar à pista.

Enquanto se dedicava aos flips, Nanon sentiu seu celular tocar com uma notificação. E essa fez ele pegar o skate na mão e correr na direção de Neo. 

— Amigo, eu preciso muito voltar para casa, tem uma coisa que eu preciso fazer, ok? — Neo sorriu, porque sabia sobre o que aquilo se tratava, sendo que mais cedo Nanon lhe contou.

— Só vai, amigo! Boa sorte!

E ele foi. Voltou para casa, abriu o notebook e começou a fazer um teste para a vaga, algo que podia determinar o seu futuro e Nanon não podia desperdiçar a chance.

•••

Enviar.

Um botão nunca fez seu coração acelerar tão rápido, isso é verdade. A sensação de ter terminado aquele teste e ter enviado fazia um milhão de pensamentos turbilhar sua mente. Mais um momento de ansiedade se instaurou, aquele de aguardar o retorno, esse que felizmente veio no mesmo tempo que a última resposta. Um dia.

Entrevista com o chefe do departamento de design gráfico. Estava acontecendo e ele não sabia muito bem como agir, Nanon só sabia que estava sentado na frente do notebook em um momento e no outro adentrando um prédio luxuoso onde aparentemente tudo brilhava, desde o piso de mármore branco e cinza até os móveis em tons claros da recepção.

Era um mundo ao qual ele não estava habituado. Ele sempre se acostumou com um ambiente completamente despojado, com um visual de roupas largas, longe de uma empresa. Só que ele ajeitou sua camisa branca listrada em azul e apertou o andar da entrevista. Sexto. 

Nanon vestia um conjunto confortável para uma entrevista de emprego, além da camisa, uma calça preta de caimento perfeito e um par de tênis, onde logo que adentrou aquele andar descobriu que tinha acertado sua roupa para aquele dia.

Os funcionários que passavam por ele sorriam de forma agradável e não deixavam de cumprimentá-lo. O lugar era tão organizado, clean e agradável.

Em certo momento um jovem homem veio lhe receber. Seu cabelo castanho estava ajeitado com alguns fios da franja sobre os olhos e o restante para trás. Seu sorriso era contagiante e seu olhar parecia fazer exatamente o mesmo movimento. Seus olhos sorriam.

— Você é o Nanon, certo? — Nanon assentiu. — Muito prazer, eu me chamo Perth, sou o chefe de departamento de design aqui da agência e eu vou te entrevistar, tudo bem? — Um sorriso surgiu nos lábios de Nanon e ele seguiu o homem até uma sala reservada.

Lá Nanon conversou com Perth e ele se abriu completamente a respeito dos seus sonhos, os detalhes das suas ideias para o teste que entregou e o que ele esperava daquela vaga na sua vida. 

Foi uma conversa de meia hora bem produtiva, o problema é que Nanon não esperava que quando saísse da sala seu ombro trombasse com ele. Seus olhos foram diretamente aos de Nanon, com um misto de confusão e irritação. 

Aquele outro encontro pareceu se passar em câmera lenta. Ohm Pawat com o cabelo perfeitamente ajeitado, parado, observando Nanon, e Perth, apoiando sua mão no ombro do próprio chefe comentou sobre o processo seletivo da área de design. 

— Esse é Ohm Pawat, Nanon, o CEO aqui da agência. — Nanon sorriu fraco e engoliu seco. Merda. 

— Prazer. — Timidamente respondeu, cumprimentando-o. Entretanto, o CEO olhou somente para Perth e, assentindo, se afastou.

— Ele geralmente não é assim com os candidatos que visitam a empresa, peço perdão por isso. — Nanon ficou sem graça, mas assentiu porque de alguma forma esperava aquela reação.

— Está tudo bem. 

Sim. Está tudo bem, porque se essa vaga estiver garantida para Nanon, ele tem certeza que Ohm Pawat pode se arrepender por conta da escolha de Perth ter lhe contratado.

Sk8er Boy I OhmNanon Onde histórias criam vida. Descubra agora