• Capítulo 2 •

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Os olhos escuros estavam presentes em sua mente como se aquele momento tivesse acabado de acontecer. Ele sabia que a respiração tinha ficado pesada quando encarou o desconhecido, mas só depois se deu conta do que aquele homem tinha provocado em si. Nanon estava confuso demais.

Era só um cara qualquer que teve a infelicidade de receber um encontrão como aquele a ponto de destruir uma camisa caríssima e desperdiçar um café quente como aquele que foi ao chão. A única coisa que Nanon se lembrava de ter feito era ter pego o copo biodegradável caído no chão e levado ao lixo.

Ele não sabe o porquê estava confuso com alguém que tinha sido tão grosso com ele, afinal, trombar com pessoas era usual, só que não cair em cima delas.

— Tá pensando em quê, Nanon? — Film desperta seus pensamentos com a própria voz e logo depois coloca um pedaço de almôndega em sua boca. Ela, Nanon e Neo almoçavam juntos naquele momento.

— Em nada, nada demais. — Neo riu da resposta do amigo.

— Que mentira, ele tá pensando no cara que ele deu um encontrão mais cedo. — Film arregalou os olhos e afundou os hashis em sua tigela macarrão.

— Conta isso direito, Nanon. — Ele bufou para a amiga. Não queria entrar em detalhes, mas aparentemente não tinha saída.

— Um homem apenas trombou comigo enquanto eu treinava skate e eu acabei derrubando um café em cima dele. Só que ele ficou extremamente irritado e foi mal educado, daí agora eu estou pensando nisso. — Neo riu.

— Ele tá pensando em como o cara também era bonito, pode falar, Nanon, ninguém vai te julgar. — Film segurou o riso e Nanon encarou os dois amigos com um misto de confusão no olhar, tentando desconversar ao mesmo tempo.

— Nada a ver. — Film negou, mas logo o questionou enquanto continuava comendo.

— Como ele era, Nanon? Conte para mim.

— Eu não vou mentir, ele era realmente muito bonito e tinha uma estrutura corporal difícil de descrever, mas era bem forte. Acho que a arrogância dele me deixou menos interessado do que eu deveria. Enfim, já passou, espero não me encontrar de novo com ele por aí.

Seus amigos pareciam entender aquele recado, mas Film ainda queria provocar Nanon, porque não tinha como, ela sempre fazia isso de qualquer jeito.

— Vamos encontrar esse cara nas redes sociais? — Nanon arregalou os olhos, finalizando sua tigela de macarrão.

— Por favor, não! Me encontrar com esse cara uma vez já foi o bastante, se você é minha amiga, faça uma boa ação hoje e ignore isso, sério.

— Seria irônico se você se encontrasse de novo com ele. — Neo disse e logo depois bebeu um gole do seu copo de refrigerante.

— Cala a boca, por favor. — Agora o amigo de Nanon riu de forma contagiante.

— Mudando de assunto, você vai competir hoje com o Sea? — Nanon se sentiu colado à mesa do almoço quando Film disse aquele nome.

Cerca de um mês atrás, Sea começou a receber bastante notoriedade por ser um grande skatista. Cheio de talento, muitas pessoas começaram a comentar que era muito possível que toda aquela fama subiria sua cabeça e de fato aconteceu, o problema é que Nanon não gostaria de competir com aquele grupo. Não havia ódio, mas simplesmente ser menosprezado não era uma forma sadia de conseguir se sentir motivado com o que fazia junto daquela gente.

— Eu acho que vou, independentemente do que falarem e apesar de eu não gostar de fazer isso, prefiro me arriscar e lidar com ele e o grupo dele, além de ter a chance de chamar a atenção de algum patrocínio ou empresário do que ficar em casa depois do expediente.

— Você tem meu respeito, cara! — Neo acrescentou.

Os três se entreolharam com sorrisos nos rostos e em seguida finalizaram seus almoços. Nanon deixou Film e Neo para correr até onde trabalhava meio período.

Para ajudar a se sustentar, Nanon realizava alguns bicos aqui e ali. Não era fácil junto aos treinos de skate, mas ele se organizava para que seu dia rendesse o máximo que pudesse. Dessa vez ele trabalhava em uma sorveteria que recebia diversos clientes naquele período, ainda mais porque estava um calor insuportável na cidade.

Nanon era conhecido por ser um atendente completamente prestativo e querido por todos. Haviam clientes que exigiam que ele anotasse seus pedidos, porque sempre gostaram da forma como eram tratados e Nanon gostava muito do que fazia, porque ter contato com as pessoas era uma das coisas que ele não dispensava.

Tay, seu amigo de trabalho, era um cara pelo qual ele sabia que podia contar. O sorriso era sua marca registrada e o cabelo repartido em uma franja bem ajeitada sobre a testa o deixavam ainda mais jovial.

— Cara! — O amigo veio lhe cumprimentar para mais um dia de trabalho e enquanto Nanon vestia seu avental azul, cor da marca do estabelecimento, sorria para Tay.

— Tay! Como você está? — Ele assentiu, anotando o pedido de uma cliente antes de começar a preparar o milkshake de morango.

— Vou bem e você, Nanon?

— Tudo certo! O movimento hoje está bom, né? — Tay assentiu.

— Sim, está ótimo! — Nanon estava animado e logo pegou o bloquinho de notas para atender os clientes que adentravam o ambiente. O dia seria incrível, mas a noite prometia ainda mais.

•••

Aquelas pessoas gritavam o nome de Sea Tawinan de forma empolgada e Nanon apenas tinha ao seu lado Film, completamente imersa em torcer pelo amigo depois do seu dia de trabalho e Neo, que ajeitava seu boné a cada segundo porque estava com ansiedade.

— Gente é sério, se quiserem ir para casa está tudo bem. — Nanon comentou, colocando o pé sobre o skate e deixando a parte de trás do objeto colada ao chão por conta do seu peso sobre ele.

— E deixar meu amigo aqui na mão? Não mesmo! Você precisa de torcida e nós somos os melhores! — Neo respondeu, animado.

— Absolutamente, não saio daqui sem torcer por você, Nanon! — Film massageou os ombros do amigo e de alguma forma, relaxou seu corpo completamente tenso pela pressão que recebia.

Enquanto isso, Sea lhe observava de longe com um sorriso sapeca nos lábios, porque estava convencido de que ganharia e tinha um motivo para comemorar, já que um empresário decidiu lhe apoiar com patrocínio, a única coisa que Nanon não tinha e precisava agora.

Só que ele não podia desanimar, tinha que dar o seu valor para atrair a atenção de quem quer que fosse e aquela comunidade de skatistas adorava se divertir naquela pista tão conhecida da cidade para que pudessem mostrar o seu talento. A única coisa que Nanon desejou a si mesmo era ter paciência e não ter pressa, porque caso contrário poderia cair e até mesmo se machucar. Ele simplesmente não podia.

Quando o relógio marcou as nove horas da noite, foi iniciada a competição com as manobras free style, onde Sea se destaca por trazer as mais difíceis. Nanon, por sua vez, queria se garantir sem errar, então realizou as manobras que mais lhe deixavam confortável, como aquela de deixar a ponta do skate rolar sobre o corrimão redondo, onde a base de madeira do objeto se encontra com o aço, completando até chegar ao chão, a nose grind. E sua execução foi perfeita.

Só que Sea foi melhor porque trazia uma série mais complexa e desafiante. Isso não deixava Nanon tão abaixo dele, mas o nível de dificuldade sempre pesa nas notas e os jurados voluntários determinaram o primeiro e segundo lugar óbvios demais.

Com o rosto um pouco deprimido, Nanon recebeu o apoio incansável de Film e Neo, porque não importava o que acontecesse, eles estariam lá por ele o tempo inteiro.

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