CAPÍTULO 10

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PRESENTE

O evento se estende por todo o dia, entre conversas fúteis, cantadas baratas direcionadas a mim, cantadas horríveis direcionadas a Alissa, olhares de repulsa de minha parte e alguns novos acordos de trabalho. A noite está quase em seu tom mais escuro, no céu é possível se distinguir cada constelação o que me faz lembrar da noite no alto do nosso prédio, lembro como se tivesse acontecido ontem e me pego quase derramando algumas lágrimas.

— Está tudo bem? — Alissa pergunta colocando sua mão em minha cintura.

— Sim, só olhando para o céu e lembrando de algumas coisas.

— Entendo. — Olha para o imenso vazio acima de nós e sorri. — Também me trás lembranças.

— Obrigada por ter perdido seu tempo ficando aqui, de verdade, não precisava.

— A sua empresária não me deu muita escolha. — Gargalha. — Com as reformas do restaurante eu também não ficaria muito ocupada hoje.

— De qualquer forma obrigada, ter você aqui me fez ter mais paciência para aturar alguns desses homens ricos, brancos, héteros e privilegiados que acham que tem domínio sobre o mundo. De certa forma não estão errados. — Ficamos em silêncio por alguns minutos até que ela o quebra.

— Sabe o que acho engraçado? Sinto que te conheço. Sinto que já provei teu beijo, já toquei seu corpo, sinto que não é a primeira vez que estamos em sintonia. Isso é muito estranho, porém é um pensamento que se passa pela minha cabeça, uma sensação que experimento todas as vezes que estou com você. — Ela fala. Posso ter mudado todo meu exterior mas Alissa me conhece do avesso, conhece todas minhas manias, curvas, e modos de agir, e pelo visto ainda se lembra de cada uma delas.

— Realmente é estranho, entretanto, sinto o mesmo. Parece que lhe conheço a décadas sem nenhuma explicação. — Minto. De fato lhe conheço a uma década e isso tem uma explicação lógica.

— Podemos ir para casa. — Maxine se aproxima soltando uma respiração de alívio. — Ah, você ainda está aqui. Obrigado por ter ficado e acompanhando Eve, pode ir embora agora se quiser, o evento já teve seu fim.

— Claro, preciso mesmo estar em casa antes das 19:00, visita materna mensal. — Alissa se aproxima me mim e me dá um beijo na bochecha como forma de despedida, porém eu a puxo para o encontro de meu lábios.

— Até o próximo dia. — Sorrio e ela se vai.

— Você parece uma adolescente apaixonada. — Max ri da minha cara pelo sorriso bobo estampado.

— Nunca parei de ser uma adolescente apaixonada por ela. — Nos direcionamos ao carro que irá nos levar para casa e em poucos minutos estamos no conforto de nosso apartamento.

— Eve, até onde sei era para você ter ido apenas em um jantar ontem.

— Digamos que as coisas aconteceram naturalmente, com algumas doses de vinho e pitadas de saudade acumulada.

— Eu até tentaria dizer mais uma vez para que desista disso, porém sei que não vai me escutar, como sempre.

— Tenho tudo sob meu controle. Mas e você? Não é comigo que temos que não preocupar não é mesmo Maxine. — Desvio o foco do assunto.

— Não sei do que está dizendo.

— Claro que não sabe. Tem saído no meio da madrugada quase todos os dias no último mês, onde tem ido? E por acaso ouvi outra noite você mencionar o nome Nathália, não acredito que voltou para ela.

— As coisas são complicadas Eve.

— Complicadas? Ela te traiu mais vezes do que você pode contar Max, por que em são juízo você voltaria para ela, por que daria uma nova chance?

— Por que existem mais coisas além do que você sabe sobre nosso relacionamento. — Senta no braço do sofá e coloca as mãos entre o rosto. — Eu sei que posso estar tomando a pior decisão da minha vida, e vou saber disso daqui a alguns meses, porém no momento não creio que seja.

— Pelo amor de Deus Maxine Clary, preciso te lembrar do quanto essa mulher te fez mal? Sinceramente não entendo o motivo de ainda ter esperanças nela.

— Eu vou ser mãe. — Ela fala em um soluço abafado. Está chorando.

— O que? — Pergunto embasbacada com a notícia jogada em meu colo.

— Descobri uns dois meses atrás.

— Por que demorou tanto tempo para me contar? — Sento ao seu lado e seguro sua mão.

— Não sei, acho que fiquei anestesiada por saber que uma das coisas que eu mais queria na vida estava acontecendo, porém em uma situação terrível.

— É da Nathalia?

— Óbvio que é da Nathalia, não tem nem possibilidade de ser de outra pessoa, ela é a única com quem durmo há mais de quatro anos.

— Achei que vocês não pretendiam ter filhos.

— Ela nunca quis, a ideia não lhe agradava muito. Entretanto você sabe o quanto eu sempre quis ser mãe. E eu amo a Nathalia, queria muito que fosse com ela, só não queria que fosse desse jeito.

— Como ela reagiu? — Indago. Queria estar feliz, na verdade estou feliz, mas minha preocupação prevalece minha felicidade.

— Da melhor forma possível, o que me surpreendeu um pouco. Sério Eve, ela está tão diferente, a forma de agir, em como me trata, como olha pra mim, quero tanto acreditar que tenha de fato tenha mudado.

— Ai Max, não sei o que dizer. — A abraço enquanto soluça e chora descontroladamente.

— Seis meses.

— Uau, como? Achei que você só estivesse ganhando alguns quilos.

— Ela veio atrás de mim antes de saber sobre a gravidez. Se ajoelhou, pediu perdão, disse ter mudado e que se eu lhe desse uma nova chance mostraria que nada do que aconteceu no passado se repetiria. Sei que não deveria acreditar, sei mesmo, porém por algum motivo acredito, talvez seja pelo brilho das lágrimas nos olhos ou por ela ter me procurado mesmo que seu orgulho seja tão grande que não a permita de ir atrás de alguém. Acredito nela ainda que saiba que possa estar cometendo um erro.

— Voltaram a quanto tempo?

— Um mês e meio.

— Está feliz?

— Mais do que nunca estive.

— Então tomou a decisão certa. — A aperto forte contra meu peito enquanto suas lágrimas diminuem.

— Acho que vai gostar de saber que é uma menina.

— Amanhã mesmo vou comprar coisas para ela. — Sorrio. — E você não vai me impedir, a minha sobrinha será a garota mais bem vestida entre os bebês de Nova York ou eu não me chamo Eve Clarke.

— Na verdade você não se chama Eve Clarke mesmo né.

— Ou não me chamo Jade Eve Clary. — Conserto dando um tapinha em seu ombro. — Parabéns mamãe. — Beijo seu rosto. É extremamente bom ver minha irmã realizando algo que ela sempre quis, suas conquistas profissionais já foram alcançadas e agora suas conquistas familiares também. Ver a felicidade dela me deixa feliz por que por muito tempo sua tristeza era presente e constante. Aparentemente nós duas estamos passando por um recomeço.

Se não fosse você...Onde histórias criam vida. Descubra agora