CAPÍTULO 3

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A limousine sobe uma pequena ladeira e Lucy avisa que chegamos ao endereço. Um café está na esquina onde paramos, como esperava.

- Um café, aparentemente ela não mudou tanto.

- Senhora o endereço é deste prédio, não da cafeteria. - Lucy diz apontando para a construção ao lado do carro. Desço do automóvel e fico na calçada, encarando a placa na porta da frente do lugar. "LCC, aberto para visitas."

- Me esperem aqui, não devo demorar muito. - Empurro a porta e adentro no ambiente que imaginei ser pequeno porém vejo ser surpreendentemente grande, olhos os arredores e me parece ser algum tipo de biblioteca, passo por algumas cadeiras procurando Alissa entre as poucas pessoas do local e finalmente meus olhos se cruzam com os dela pela segunda vez no dia.

- Você veio. - Parece surpresa.

- Vim. Por que estou aqui? - Pergunto me sentando, forçando um tom indiferente tentando não transparecer minha ansiedade e emoção por estar com ela.

- Quero ter certeza de que o que houve em meu restaurante não a irritou, convenhamos, você é famosa, uma crítica sua arruinaria meus lucros.

- Em relação a isso pode ficar despreocupada, sei que isso acontece nos melhores restaurantes, não se pode controlar todos os paparazzis. Não irei falar nada negativo sobre seu estabelecimento, pelo contrário, pretendo voltar mais vezes, a comida do local é excepcionalmente boa.

- Fico feliz, eu mesma me encarrego de ser a chef principal, a qualidade é uma das melhores características do Scott's.

- Por que se dá ao trabalho de cozinhar se poderia contratar algum chef tão bom quanto você para fazer isso? - Pergunto mesmo que já saiba a resposta.

- Não me formei em gastronomia pelo dinheiro ou pela pretensão de ter uma rede de restaurantes famosos e bem estrelados, fiz isso por que realmente gosto. E para mim não faria sentido pagar para que alguém fizesse o que eu mesma posso e quero fazer. - A mesma resposta que daria a dez anos atrás, algumas coisas não mudam.

- Então se esse foi o único motivo para ter me chamado aqui creio que já tenhamos encerrado.

- Claro, não quero tomar seu precioso tempo.

- Na verdade eu deveria te agradecer, está me salvando de um evento beneficente tedioso onde estaria apenas conversando com ricos que fingem se preocupar com as causas para quais doam.

- Fala como se não fosse rica.

- Não fui, por muito tempo.

- Claro, herdeira de uma família européia milionária e não foi sempre rica. - Por um momento esqueço de toda farsa que minha história é. Isso não pode acontecer.

- Não tanto quanto sou hoje. - Digo umidecendo os lábios nervosa.

- O que acha de tomarmos um café? - Sugere olhando no fundo de minhas pupilas completamente dilatadas.

- Acho bom, estamos a quinze metros de uma cafeteria, então é convinientemente bom.

- Aquele café aqui ao lado? - Ela gargalha fazendo meu corpo estremecer ao lembrar do som. - Não, ali não. O café é ruim, os biscoitos amanteigados são do dia anterior e a comida tem gosto de hospital. Nunca entre naquele lugar com o intuito de comer algo.

- Então onde?

- Aqui mesmo, é uma biblioteca e cafeteria, por isso o nome LCC, livros com café. - Fala levantando da mesa indo até a parte de trás onde agora vejo um balcão com estufas embaixo repletas de doces e salgados. Ela pede algo e volta carregando uma bandeja com dois cappuccinos e alguns croissants de chocolate. - Espero que goste disso. É uma das melhores coisas daqui.

- Confesso que croissant não é algo que estou habituada a comer. Porém por que não experimentar, não é mesmo? - Pego um e levo a boca dando uma pequena mordida, a massa desmancha em minha língua e o gosto de chocolate amargo invade minhas papilas gustativas. - Santo deus isso é divino. - Tiro outra mordida, dessa vez maior.

- Disse que era uma das melhores coisas. - Toma um gole do cappuccino. Terminamos o lanche em silêncio depois de alguns minutos e então eu me levanto.

- Está na minha hora. Obrigada por ter sido tão gentil. - Dou um sorriso e viro as costas voltando para a parte de fora onde a limousine ainda me aguarda, tinha esquecido totalmente de que elas haviam continuado ali.

- Não vou demorar muito, foi o que você disse. Uma hora e meia Jade, uma hora e meia. - Ignoro o que Max fala e digo em seguida.

- Estava certa, ela estava com medo de que fizesse algum comentário ruim sobre seu restaurante, mas esclareci que jamais faria isso e que pretendo voltar ao seu estabelecimento o quanto antes.

- Não.

- Não o que? - Fecho a porta do carro para que Lucy dê partida em direção a nosso apartamento.

- Você não vai voltar lá de jeito nenhum.

- Max, eu tenho trinta anos, acho que sou capaz o suficiente de decidir onde vou ou não vou.

- Quando se trata de uma possível ameaça para mim e agora você acho que tenho o direito de interferir.

- Ela não faz ideia, eu não vou contar, então não existem motivos para me privar de voltar.

- Eve, Eve.

- Confie em mim.

- Como você disse já tem idade o suficiente para saber o que faz, só não nos meta em encrenca.

- Tudo bem. - Viro para o lado procurando minha bolsa para pegar meu celular, a essa hora já devo ter umas quinze mensagens de texto dos produtores. Apalpo o acolchoado em volta e não encontro a pequena carteira. Lembro que a coloquei sobre a mesa da biblioteca mas não lembro de tê-la pego antes de sair. - Puta que pariu! - Exclamo assustando Maxine.

- O que foi?

- Minha bolsa. Esqueci minha bolsa na biblioteca.

- Não tem problema, te compro outra pela manhã.

- Max, meus documentos, estavam todos lá.

- Mas que merda Eve! - O sim de um aparelho móvel irrompe no ar, é o celular de Max, ela o atende e uma voz fala ao fundo. - Ah, muito obrigada, ela não tem uma memória muito boa. Quando você pode nos devolver? Amanhã às 14:00? Por ela está ótimo. Obrigada mais uma vez. - Desliga o celular e vira para mim. - Aparentemente o segundo encontro de vocês vai acontecer mais cedo do que pensou. Ela pegou sua bolsa quando viu que tinha esquecido e tentou nos alcançar, mas a limousine já tinha dado partida.

- Amanhã, 14:00 em que lugar?

- No restaurante. Quando estiver abrindo.

- As vezes acho que o destino conspira ao meu favor.

- Destino não sei, mas sua falta de memória, isso com certeza. - Ri. Quando chegamos em casa entro o mais rápido que consigo no banheiro tirando rapidamente o vestido que está em meu corpo a horas. Mergulho embaixo do chuveiro quente relaxando meu corpo por um tempo que parece infinito. Em seguida me jogo na cama macia e durmo como não dormia a tempos. Durmo, durmo com sua risada em meus ouvidos, seus olhos em meus sonhos e seu sorriso em meus pensamentos.

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