Acordo com o despertador do celular no volume máximo e com Maxine esmurrando a porta de meu quarto.
Levanto e me olho no espelho tentando abrir os olhos, o rosto amassado pela noite bem dormida, o cabelo levemente bagunçado pelo atrito com o travesseiro, um bom dia. Abro a porta para Maxine e ela entra na mesma velocidade que um raio.- Temos problemas. - Anuncia acabando com qualquer resquício de felicidade que eu poderia começar a ter.
- O que aconteceu? - Pergunto me espreguiçando.
- O filme não atingiu nem 50% do esperado nas bilheterias.
- Disse que era uma péssima ideia aceitar aquele papel. Será quase igual a gravidade na carreira de Sandra Bullock.
- Mas esse não é o problema em questão.
- Não?
- Não. Alissa está na recepção do condomínio. Obviamente ninguém deixa ela passar por não acreditar que ela te conheça. Libero a entrada?
- Que? - Me revejo no espelho e levanto quase que em um pulo. - Pode deixar ela entrar. Só entretenha ela por quinze minutos.
- Por que?
- Maxine pelo amor de deus, olhe o meu estado. Tnho trinta anos, as marcas de expressão estão começando a aparecer aqui e ali e ultimamente não tenho tido tempo de fazer procedimentos estéticos, ou seja preciso do básico de maquiagem.
- Eve é a Alissa, ela já te viu acordar tantas vezes, e acredite, naquela época era bem pior.
- Só mantenha ela ocupada até eu sair do quarto.
- Tudo bem. - Ela sai indo até o interfone para falar com o porteiro. Entro em meu banheiro, lavo o rosto, escovo os dentes, arrumo meu cabelo em um coque meio bagunçado e começo a procurar minhas maquiagens porém desisto no último minuto, isso iria demorar e realmente não e necessário. A falta de base ou corretivo deixa minhas sardas a mostra, características que amo e odeio esconder embaixo de camadas de maquiagem. Giro a maçaneta abrindo a porta que dá acesso ao corredor da cozinha, caminho lentamente com um frio instalado em minha barriga e quando chego Alissa está recostada em uma das paredes e seus olhos caem sobre mim se desviando imediatamente por algum motivo. Me vejo no reflexo da geladeira e percebo que não tirei meu roupão e que a fenda que existe nele deixa boa parte de minha coxa esquerda a mostra. Coro por isso, maldita pele branca.
- Ah, desculpe por atrapalhar tão cedo, houve um impressão e o restaurante não irá abrir na hora de costume, então pensei em vir devolver sua bolsa pessoalmente.
- Não tem pelo que se desculpar. Obrigada por ter sido tão prestativa.
- Também vim para avisar que você tem uma reserva de graça para um jantar.
- Tenho? - Arqueio as sobrancelhas.
- Sim. Para essa noite.
- Alissa, não precisa fazer isso, já lhe dei total certeza de que não irei fazer nada contra a reputação de seu estabelecimento. - Dou uma pequena risada.
- Não é por isso que tem a reserva. - Ela morde o lábio inferir, está nervosa com o que irá falar em seguida.
- Não? Está me deixando um pouco confusa. - Admito.
- Você disse que a comida era excepcionalmente boa, porém naquele dia em específico não era eu quem estava cozinhando os pratos principais.
- Então está me dando uma reserva no possível melhor restaurante da cidade para comer a comida de uma das chefes estreladas de Nova York?
- Sim.
- Por que?
- Bem, você me lembra alguém que conhecia. - Ela fala suspirando e meu coração para por um instante. E l a s e l e m b r a d e m i m . - O que me faz ter vontade de te conhecer.
- Quer me conhecer por que eu lhe lembro de alguém do seu passado, não sei se essa é a melhor forma de me chamar para um encontro. - Gargalho mesmo que não tenha problema em ela me comparar, aliás está me comparando a mim mesma, só não sabe disso.
- Aceita? - Fixa os olhos negros nos meus. Consigo sentir a intensidade, as constelações que brilham ao redor do sistema solar de suas pupilas. Alissa, minha Alissa, ou que já foi minha um dia.
- Claro, não seria capaz de recusar uma proposta dessas. Um bom restaurante, uma boa comida, uma mulher intrigantemente bonita, não tenho motivos para recusar. - Meu coração explode em fogos de artifício e talvez a felicidade esteja estampada em minha face, mas não me importo com isso. Depois de dez anos, de memórias, de saudade, de tantas coisas, ela está aqui de volta.
- Então está certo, as 20:00 é um bom horário para você? Posso remarcar se tiver algum compromisso, sem problemas.
- Não, está perfeito. - Contenho minha voz para que não saia entusiasmada demais.
- Até a noite Eve. - Vira as costas e sai do apartamento.
- Você não vai ir nesse encontro vai? - Max entra logo em seguida.
- Por que não iria?
- Eve, preciso te lembrar que sua última tentativa de relação com Alissa não terminou muito bem, e que quando contar a ela que é a Jade de dez anos atrás não duvido que ela acione a polícia em dois minutos.
- Maxine, primeiro nem sabemos onde isso vai dar, segundo não irei contar a ela quem sou, até por que não sou mais a Jade de dez anos atrás, sou uma pessoa completamente diferente.
- Tudo bem, isso pode ser um encontro casual, que irá acontecer uma vez e depois acabar, porém e se vocês se apaixonarem? Ou melhor, se ela se reapaixonar por você já que sua pessoa nunca se desapaixonou dela. Começar um relacionamento embasado em mentiras não é aconselhável, principalmente quando o que acabou com seu relacionamento com ela foi exatamente as mentiras que contava.
- Está tudo sob controle, se futuramente evoluirmos para algo mais sério contarei a ela. E espero que não vá embora outra vez por isso, espero que entenda que essa mentira foi para minha proteção.
- Você não deveria estar fazendo isso Eve, sabia que mudar para Nova York tinha seus interesses ocultos mas se soubesse que o interesse era Alissa com certeza teria me oposto a nossa vinda para cá.
- Está tudo bem, confie em mim.
- Eu tenho medo dessa frase, por que quase sempre não termina de uma forma agradável.
- Dessa vez irá.
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Se não fosse você...
RomanceAlissa e Jade se conhecem na faculdade, ambas em cursos diferentes, as duas se relacionam por um tempo porém uma traição as separa. Dez anos depois um reencontro acontece, será que a mágoa será mais forte que o amor?