CAPÍTULO 4

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Acordo com o despertador do celular no volume máximo e com Maxine esmurrando a porta de meu quarto.
Levanto e me olho no espelho tentando abrir os olhos, o rosto amassado pela noite bem dormida, o cabelo levemente bagunçado pelo atrito com o travesseiro, um bom dia. Abro a porta para Maxine e ela entra na mesma velocidade que um raio.

- Temos problemas. - Anuncia acabando com qualquer resquício de felicidade que eu poderia começar a ter.

- O que aconteceu? - Pergunto me espreguiçando.

- O filme não atingiu nem 50% do esperado nas bilheterias.

- Disse que era uma péssima ideia aceitar aquele papel. Será quase igual a gravidade na carreira de Sandra Bullock.

- Mas esse não é o problema em questão.

- Não?

- Não. Alissa está na recepção do condomínio. Obviamente ninguém deixa ela passar por não acreditar que ela te conheça. Libero a entrada?

- Que? - Me revejo no espelho e levanto quase que em um pulo. - Pode deixar ela entrar. Só entretenha ela por quinze minutos.

- Por que?

- Maxine pelo amor de deus, olhe o meu estado. Tnho trinta anos, as marcas de expressão estão começando a aparecer aqui e ali e ultimamente não tenho tido tempo de fazer procedimentos estéticos, ou seja preciso do básico de maquiagem.

- Eve é a Alissa, ela já te viu acordar tantas vezes, e acredite, naquela época era bem pior.

- Só mantenha ela ocupada até eu sair do quarto.

- Tudo bem. - Ela sai indo até o interfone para falar com o porteiro. Entro em meu banheiro, lavo o rosto, escovo os dentes, arrumo meu cabelo em um coque meio bagunçado e começo a procurar minhas maquiagens porém desisto no último minuto, isso iria demorar e realmente não e necessário. A falta de base ou corretivo deixa minhas sardas a mostra, características que amo e odeio esconder embaixo de camadas de maquiagem. Giro a maçaneta abrindo a porta que dá acesso ao corredor da cozinha, caminho lentamente com um frio instalado em minha barriga e quando chego Alissa está recostada em uma das paredes e seus olhos caem sobre mim se desviando imediatamente por algum motivo. Me vejo no reflexo da geladeira e percebo que não tirei meu roupão e que a fenda que existe nele deixa boa parte de minha coxa esquerda a mostra. Coro por isso, maldita pele branca.

- Ah, desculpe por atrapalhar tão cedo, houve um impressão e o restaurante não irá abrir na hora de costume, então pensei em vir devolver sua bolsa pessoalmente.

- Não tem pelo que se desculpar. Obrigada por ter sido tão prestativa.

- Também vim para avisar que você tem uma reserva de graça para um jantar.

- Tenho? - Arqueio as sobrancelhas.

- Sim. Para essa noite.

- Alissa, não precisa fazer isso, já lhe dei total certeza de que não irei fazer nada contra a reputação de seu estabelecimento. - Dou uma pequena risada.

- Não é por isso que tem a reserva. - Ela morde o lábio inferir, está nervosa com o que irá falar em seguida.

- Não? Está me deixando um pouco confusa. - Admito.

- Você disse que a comida era excepcionalmente boa, porém naquele dia em específico não era eu quem estava cozinhando os pratos principais.

- Então está me dando uma reserva no possível melhor restaurante da cidade para comer a comida de uma das chefes estreladas de Nova York?

- Sim.

- Por que?

- Bem, você me lembra alguém que conhecia. - Ela fala suspirando e meu coração para por um instante. E l a s e l e m b r a d e m i m . - O que me faz ter vontade de te conhecer.

- Quer me conhecer por que eu lhe lembro de alguém do seu passado, não sei se essa é a melhor forma de me chamar para um encontro. - Gargalho mesmo que não tenha problema em ela me comparar, aliás está me comparando a mim mesma, só não sabe disso.

- Aceita? - Fixa os olhos negros nos meus. Consigo sentir a intensidade, as constelações que brilham ao redor do sistema solar de suas pupilas. Alissa, minha Alissa, ou que já foi minha um dia.

- Claro, não seria capaz de recusar uma proposta dessas. Um bom restaurante, uma boa comida, uma mulher intrigantemente bonita, não tenho motivos para recusar. - Meu coração explode em fogos de artifício e talvez a felicidade esteja estampada em minha face, mas não me importo com isso. Depois de dez anos, de memórias, de saudade, de tantas coisas, ela está aqui de volta.

- Então está certo, as 20:00 é um bom horário para você? Posso remarcar se tiver algum compromisso, sem problemas.

- Não, está perfeito. - Contenho minha voz para que não saia entusiasmada demais.

- Até a noite Eve. - Vira as costas e sai do apartamento.

- Você não vai ir nesse encontro vai? - Max entra logo em seguida.

- Por que não iria?

- Eve, preciso te lembrar que sua última tentativa de relação com Alissa não terminou muito bem, e que quando contar a ela que é a Jade de dez anos atrás não duvido que ela acione a polícia em dois minutos.

- Maxine, primeiro nem sabemos onde isso vai dar, segundo não irei contar a ela quem sou, até por que não sou mais a Jade de dez anos atrás, sou uma pessoa completamente diferente.

- Tudo bem, isso pode ser um encontro casual, que irá acontecer uma vez e depois acabar, porém e se vocês se apaixonarem? Ou melhor, se ela se reapaixonar por você já que sua pessoa nunca se desapaixonou dela. Começar um relacionamento embasado em mentiras não é aconselhável, principalmente quando o que acabou com seu relacionamento com ela foi exatamente as mentiras que contava.

- Está tudo sob controle, se futuramente evoluirmos para algo mais sério contarei a ela. E espero que não vá embora outra vez por isso, espero que entenda que essa mentira foi para minha proteção.

- Você não deveria estar fazendo isso Eve, sabia que mudar para Nova York tinha seus interesses ocultos mas se soubesse que o interesse era Alissa com certeza teria me oposto a nossa vinda para cá.

- Está tudo bem, confie em mim.

- Eu tenho medo dessa frase, por que quase sempre não termina de uma forma agradável.

- Dessa vez irá.

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