5| "Eu Pensei Ser Forte Até Que Despedacei"

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O prédio era alto com um sutil toque de modernidade, ficava situado na rua Peckham South, proxímo da cafeteria "Candy's" que vendia os melhores croissant's da cidade, os mesmos que guardava na minha bolsa após uma paragem rápida, que resultou em algumas reclamações de Phoebe. O letreiro moderno dizia " Baker and Wood, Law's Firm", era impossível passar por aquela rua e não olhar para o letreiro chamativo. Phoebe comentava sobre alguma coisa que ela lia na revista de fofoca enquanto passavámos pelo lobby, após receber instruções da recepcionista antipática que desdenhava de uma negra e de uma stripper. O andar da presidencia era muito restrito diferente do caos nos outros andares em que passamos. A secretária do sr. Baker, era um exemplo nítido de simpatia, os óculos de grau davam um ar de maior responsabilidade, seus trajes eram da melhor qualidade que uma secretária executiva deveria usar. A ante sala que devidia as duas portas dos presidentes era sofisticada, com alguns sofás laranjas, paredes de vidro, e a secretária a srta. Cooper.

-srta. Lark, o sr. Baker aguarda por si.- comunicou.- siga-me por favor.

-boa sorte! Eu vou ficar aqui e esperar que corra tudo bem.- garantiu Phoebe me envolvendo nos seus braços. Ela era a irmã que gostaria de ter tido durante toda a minha vida.

Segui os passos da srta. Cooper até a sala da presidencia. O local tinha um ar impessoal sem quadros familiares ou troféus que representassem um momento marcante em sua vida. A srta. Cooper deixou-me sozinha alegando que o sr. Baker logo estaria disponível para me atender. Enquanto ele não chegava continuei a minha observação na sua sala. Os documentos devidamente organizados por ordem de importância, os vários livros na estante. Será que ele já os tinha lido?

-srta. Lark!- chamou por mim o homem que estava atrás de mim. Sua voz inexpressiva tanto quanto seu rosto.- desculpe-me pelo atraso.

Engoli em seco quando finalmente ele se sentou na sua cadeira, olhando para mim a todo instante. Seus olhos eram profundos como a meia-noite, escondiam coisas que desejava desvendar. Seu nariz era romano, os lábios finos com dentes retos, a barba era rala e sexy. Os cabelos castanhos curtos eram de um toque levemente grisalho. Quantos anos ele deveria ter? Homens como ele nunca olham para mulheres como eu.

-por favor me chame de Zunduri.- pedi, olhando para as minhas mãos, minhas unhas estavam ruídas de tanta ansiedade.

-srta. Cooper traga dois cafés sem açucár.- disse ao telefone. "Mas eu gostava de café com leite" pensei comigo mesma.- então srta... Zunduri o que a trás aqui.

-preciso muito da sua ajuda, sr. Baker.- disse mas fui interrompida pela srta. Cooper que apenas trouxe os cafés e se retirou sem olhar para nós, ela era muito discreta.- tenho recebido ameaças constantes por parte do meu tio.

O sr. Baker ajustou a sua postura na cadeira curioso com a minha explanação.

-quando eu tinha oito anos, eu fui violentada pelo meu tio. Naquela época ele estava se formando e frequentava a casa dos meus pais porque era proxímo da universidade.- lagrímas escorriam do meu rosto lentamente. Sentia vergonha de contar para outra pessoa a maior ferida que guardava no meu peito.- ele nunca rompeu o hímen, mas ele tentou. Ele simulava penetração com o pénis dele...mas é como se a minha mente tivesse bloqueado as mémorias desses dias.

-Zunduri... eu como advogado e como um homem comum sinto nojo do que esse homem fez com você, tão jovem e já teve que carregar esse fardo. Mas lembre-se que você não é a culpada.- suspirou passando as mãos nos cabelos em sinal de irritação. - você quer fazer justiça? Me diga o que quer fazer.

-o que eu mais quero é que ele pague por todo mal que me causou. Me ajude sr. Baker por favor- implorei me aproximando da sua cadeira.- eu juro que vou pagar cada centavo.

As suas mãos frias tocaram as minhas com tanta delicadeza, que os meus pêlos se arrepiaram instantanêamente. Tinha alguma coisa nele que acalmava os meus ânimos, mesmo não o conhecendo por completo.

-você não vai pagar nada, vou ajudar você até as últimas instâncias. Prometo.

-obrigada!- sorri e me joguei nos seus braços. O seu cheiro era diferente, não era algo que estava acostumada a sentir, principalmente o seu toque sutil nos meus cabelos.

-precisamos de provas.- interrompeu o nosso abraço.- talvez ele já tenha feito isso com outras meninas.

Em momento Algum, tinha parado para pensar nessa possibilidade. Será que alguma menina tinha passado por uma dor maior que a minha.

-eu não sei.- sussurrei.

-antes de nos apresentarmos no tribunal precisámos de provas que nos ajudem a ganhar a causa. Como ele se chama?

-Eris Stewart.- proferir aquele nome fazia a minha bílis subir.- o que devo fazer?"

-vai agir naturalmente enquanto reunimos provas para o encriminar. - explicou andando de um lado para o outro. O fato de um azul turquesa acentuava-se perfeitamente nele.- ele não pode disconfiar que o estamos a investigar.

▪ ▪ ▪

Estava deitada no sofá com a Mistyc deitada entre as minhas pernas. Procurava por algum canal interessante enquanto Shawn e Phoebe discutiam pela milesema vez. Tal como eu Mistyc estava habituada com os gritos do casal, a gata sempre dormia ignorando os barulhos incómodos. Minha mente traiçoeira me fazia lembrar a cada cinco minutos o abraço caloroso do sr. Baker. Ele me transmitia confiança o que era muito raro alguém conseguir, mesmo com o seu jeito reservado era atencioso.

-... eu fiz uma reserva para nós três no melhor restaurante da cidade!- Shawn bravejou.

- porque será?- Phoebe respondeu no mesmo tom.

-porque vocês conseguiram um advogado que vai fazer justiça pelo que aconteceu com a Zunduri! Porra! Eu juntei quase todas as minhas economias!

Corri e abraçei Shawn pelo gesto, ele tinha um coração enorme que não cabia dentro do seu peito. Ele beijou o meu rosto e bagunçou os meus cabelos curtos.

-obrigada pirata.- sorri.

-me perdoe Shawn... eu pensei...- Phoebe tentou se explicar com as bochechas coradas de vergonha.

-até quando você vai desconfiar de mim?- Shawn perguntou esfregando as mãos no rosto.

- Shawn...

-chega de brigas por hoje!- pedi, me sentando entre os dois.- vamos jantar fora e comer comida de verdade.

-você está sempre esfomeada.- Phoebe retrucou contendo um sorriso.

-o Shawn é o nosso anjo da guarda.- beijei o seu rosto.- e ele come muito mais do que eu.

-vocês são a minha única família.- comentou olhandos para nós.- não existe Shawn, sem vocês.

Z U N D U R IOnde histórias criam vida. Descubra agora