Estava sentada no divã do consultorio da Dra. Joanne olhando para a sua estante de livros, desde os mais antigos até aos mais modernos, todos organizados por ordem alfabetica. Era mais uma sessão com a psicóloga, como todas as outras de duas semanas atrás. Depois de me deixar sozinha por breves instantes a Dra.Joanne voltou com um rélogio de bolso antigo, era dourado e com uma correntinha. Puxou uma cadeira sentando de frente para mim. Os seus olhos pequenos escondidos pelos óculos de grau estudavam cada movimento meu no divã. Estava ansiosa mesmo sem saber ao certo o que aconteceria.
-...Zunduri, a regressão através do hipnotismo é uma técnica usada desde os tempos remotos por muitos homens sábios daquelas èpocas distintas que queriam estudar o poder da mente. Era um metódo que servia para ajudar as pessoas a fazerem um regressão ao seu passado que estava escondido no seu inconsciente, ou para exercer algum poder sobre o hipnotizado. - explicou pacientemente.
-funciona de verdade?- a minha voz soou trémula.
-sim. A alguns anos testei essa teoria com uma paciente e correu tudo bem.- sorriu.- se não quiser testar podemos tentar outro metódo.
-eu vou tentar.- respondi com uma convicção que não possuía, pelo contrário, minhas mãos suavam, e o meu coração batia descompassado.
-respire fundo.- exemplificou e eu repite os seus gestos três vezes.- agora você vai olhar para o rélogio fixamente e acompanhar cada movimento que ele fizer.- o rélogio na sua mão balançava de um lado para o outro.- você está voltando para a tua infância quando tinha oito anos, para aquela noite que você ficou sozinha com o seu tio Eris. Você está brincando com os seus brinquedos, são os seus favoritos...
Os meus olhos acompanhavam os movimentos do rélogio sem piscar queria fazer do jeito certo.
Quanto mais a Dra. Joanne falava, mais os meus olhos ficavam sonolentos. A sua voz estava cada vez mais longe, era difícil ouvir a sua voz.
"Flashback On"
Eu estava sentada no tapete da sala brincando com a minha boneca nova que o meu pai tinha comprado para mim, ela era linda com um longo cabelo loiro e um vestidinho de flores que eu gostava de cuidar para não manchar. Mamãe e o papai tinha ido jantar na casa da tia Ophelia, "jantar de adultos" como mamãe tinha dito antes de sair. Ouvi os passos lentos do tio Eris na escada. Ele nunca conversava comigo, e nunca sorria.
Ele se sentou no sofá olhando para mim fixamente. Voltei a brincar com medo de fazer alguma coisa que deixasse o tio Eris chateado. Ele era um homem bravo e de poucas palavras. Minha mãe dizia que era o "stress da universidade".
-Zuni!- chamou-me.
-sim, tio Eris.- respondi parando de brincar para olhar para os seus olhos.
-senta aqui no sofá.
Larguei os brinquedos e me sentei no sofá olhando para ele.
-sabia que os tios podem fazee carinho nas sobrinhas que eles amam de um jeito diferente, que tudo é uma prova de amor que Deus aprova.- tocou nas tranças que mamãe tinha feito em mim.- é uma forma de demonstrar amor e carinho.
Os seus dedos deslizaram pelo meu rosto, acariciando os meus lábios. O meu corpo estava trémulo, os olhos fixos no chão. Ninguém tocava em mim daquele jeito, mamãe dizia que era errado. Mas o tio Eris disse que é uma prova de amor. Deslizou a alça do meu vestido de girassois, era o meu favorito, adorava girassois.
-tire o vestido.- ordenou.
-estou com medo.- falei com a voz trémula.
-não precisa ficar, não lhe farei mal algum minha menina bonita.
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Z U N D U R I
Romantizm"Mantenha-se atrás da faixa amarela, não chegue muito perto, não acerque-se de meus traumas, não invada meus mistérios, não atrite-se com o meu passado, não tente entender nada: é proibido tocar no sagrado de cada um"._ Martha Medeiros. Eu ainda sou...