Insônia

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YURI ALBERTO

A derrota que sofremos foi definitivamente uma experiência dolorosa para todos nós, mas foi Luisa quem pareceu ser a mais afetada pelo resultado. Ao longo do tempo, sempre tínhamos nos acostumado a ouvir broncas, reclamações e até mesmo xingamentos quando não atingíamos um bom desempenho, e isso fazia sentido, pois Luisa sempre deixou claro que, antes de ser nossa presidente, ela era uma torcedora. Seu jeito extrovertido e sincero era algo com o qual nos acostumamos.

No entanto, dessa vez, algo era diferente. Um silêncio pesado envolvia o ambiente, tornando-se quase ensurdecedor. Era como se a ausência de suas palavras de repreensão fosse ainda mais torturante do que ouvi-las vindo da nossa presidente. Luisa sempre era a primeira a nos motivar após uma derrota, incansavelmente nos ensinando que derrotas faziam parte do processo rumo à vitória. Mas agora tudo era diferente. O silêncio cortava como uma faca afiada.

Observando-a de longe, era visível a angústia em seu rosto. Seus olhos cansados revelavam um turbilhão de emoções guardadas dentro de si. Como uma líder apaixonada por sua equipe, ela colocava tudo de si todos os dias. Sua dedicação incansável e sua busca pela excelência sempre foram e continuam sendo admiráveis.

Aquele silêncio se tornou a voz mais alta de todas. Era um grito silencioso de decepção, dor e frustração. Podia-se sentir a tensão que pairava no ar, como se estivesse visível para todos. Era um lembrete constante de que, apesar de Luisa ser, acima de tudo, uma torcedora, ela também era a presidente que carregava o peso da responsabilidade por nossos resultados.

A derrota, dessa vez, tinha atingido a garota profundamente. Ela não precisava dizer nada para que todos entendessem o quão impactada estava. Aquela falta de palavras era mais expressiva do que qualquer discurso. E por trás da sua expressão séria, sabíamos que ela estava refletindo sobre cada erro, cada oportunidade perdida e buscando uma maneira de nos ajudar a superar aquele momento difícil.

Luisa, normalmente inquieta e um talento nato para sempre expor suas opiniões, possuía uma habilidade única para expressar seu descontentamento diante de resultados indesejados. Além disso, ela também tinha o dom de reconhecer nossos esforços e nos motivar a cada momento. Sua personalidade falante e sua natureza extrovertida, o que fazia com que fosse incomum vê-la se fechando em si mesma dessa forma.

Naquele instante, tudo parecia tão fora do comum. Esperávamos que a presidente viesse até nós com uma bronca ou algum tipo de incentivo, como sempre fizera no passado. Porém, para nossa surpresa, ela permanecia em completo silêncio. Seu olhar perdido, fixado na janela do ônibus, demonstrava uma profunda introspecção enquanto os ombros pesavam sobre ela.

Todos se encontravam em um estado de perplexidade, seus olhares se cruzavam em busca de alguma resposta. No entanto, todos rapidamente voltavam seus olhos para ela, que permanecia imóvel, como uma estátua em meio ao caos. O silêncio que preenchia o ambiente era avassalador e deixava uma sensação de vazio no ar. Era como se tivessem arrancado uma parte essencial de nossa equipe, algo além de um simples título.

A desolação estampada no rosto de Luisa parecia ter um peso imenso, como se estivesse carregando não só sua própria dor, mas também a de todos nós. Era impossível não refletir sobre as falhas coletivas que nos levaram até aquele momento, e a dor de vê-la naquela situação dilacerava meu coração.

Após uma noite intensa, cheguei exausto ao hotel. Meu corpo ainda vibrava com a adrenalina da partida que havíamos acabado de jogar. Ao entrar no quarto que dividia com Roger Guedes, fui tomado por uma sensação de cansaço profundo. Antes de deixar o Maracanã, tomei um longo banho que me revigorou, mas sabia que precisava de descanso. Por isso, me joguei na grande e confortável cama, desejando que aquele dia acabasse logo.

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