Reconquistar

7 1 0
                                    

Após passar exaustivamente quatro longas horas dentro do ônibus, em algum momento acabei caindo no sono. Encontrei conforto ao apoiar minha cabeça no ombro do Roger e dormi profundamente até ser despertada quando finalmente chegamos em frente ao hotel.

Ao abrir os olhos, tentei clarear minha visão, ainda embaçada pela transe do sono, e recobrar meus sentidos. Esfreguei os olhos para afastar a sonolência enquanto minha mente gradualmente se despertava.

Após finalizar o check-in no hotel, exausta da viagem, dirigi-me diretamente ao meu quarto. Diferente dos jogadores, que normalmente compartilham o dormitório nas viagens, eu sempre tenho um quarto só para mim. Ao adentrar pela porta, deixei minha mala em um canto qualquer e me joguei na cama, buscando conforto nos edredons macios. 

Escondendo meu rosto entre as camadas de tecidos, senti a constante vontade de desaparecer voltar a me assombrar. As incertezas sobre minhas ações me perseguiam incansavelmente, enquanto o peso da culpa por ferir alguém a quem tanto gosto me esmagava. No entanto, em meio a essa tempestade interior, um pequeno resquício de felicidade ainda dançava agarrado à memória da noite anterior.

Imersa nesse turbilhão de pensamentos, deixei que um grito escapasse entre meus lábios, sendo abafado pelos travesseiros, desesperadamente buscando alívio para o peso em meu peito. Oprimida e exausta por um caos constante, sentia-me esgotada diante da presença persistente do grande causador dos meus problemas. Sonhava em fugir, mas infelizmente, eu mesma sou a responsável por tudo isso.

E, quando finalmente parece que a vida começa a se encaminhar nos trilhos, eu dou um jeito de, de forma inesperada, fazer tudo desmoronar. Minhas ações imprevisíveis parecem sabotar qualquer chance de estabilidade que ouse surgir, como se fosse uma maldição que me acompanha.

Há apenas alguns meses atrás, eu costumava ter uma vida que, embora não fosse perfeita, era estável e raramente havia contratempos. Minha rotina era previsível, meu relacionamento estava ótimo e bem estruturado, eu estava na faculdade, tinha um emprego estável e meu pai era um verdadeiro porto seguro para mim. No entanto, tudo mudou após a partida repentina dele. Sinto como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, como se eu tivesse sido transportada para um novo corpo, vivendo uma vida completamente diferente.

Desde então, tenho constantemente essa sensação de inadequação, de não ser boa o suficiente e de nunca saber qual deve ser meu próximo passo. Sinto-me como uma estrangeira em minha própria pele, como se eu tivesse perdido minha identidade. Já não sou mais aquela garota que costumava ser e, sem dúvida, sinto muita falta daquela pessoa que eu era antes. Lembro-me com saudades de como era ser segura, confiante e ter a sensação de pertencer a algum lugar.

A ausência do meu pai deixou um vazio enorme em minha vida, que parece impossível de preencher. Sua partida não só desestabilizou minha vida, mas também abalou quem eu era como indivíduo. Agora, luto para encontrar um senso de direção e para me reconectar com uma versão mais forte e resiliente de mim mesma.

Essa situação também teve um impacto na minha relação com minha mãe, chegando ao ponto em que nos sentimos distantes, mesmo estando fisicamente presentes uma para a outra. Meu pai era, sem dúvidas, o elo que unia nossa família e, de certa forma, sinto que uma parte de mim tem evitado me aproximar mais da minha mãe, pois ela é quem mais me lembra dele. Eles sempre estavam juntos e eram verdadeiramente uma só pessoa.

Com um bocejo preguiçoso, lentamente me ergui da cama ao ouvir batidas ressonantes na porta. Ao abrir, deparei-me com Guedes, parado do lado de fora, seus braços cruzados firmemente contra o peito. Sem demora, ele adentrou o quarto, fechando a porta atrás de si, enquanto seu semblante revelava uma expressão séria e carregada de preocupação.

A PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora