"Trauma"

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Desespero.
Aqueles olhos me analisarão de cima a abaixo todos os dias, procurando qualquer imperfeição, qualquer brecha ou deslize para usar de justificativa para me punir.
Desespero foi o que eu aprendi a sentir desde o primeiro mês.

Desconforto.
Aquelas mãos frias, brutas tocaram em mim sem se importar se marcas iriam surgir ou se eu fosse sentir dor e agonia.
Pra ele isso não importa, então no segundo mês eu já tinha me habituado a sentir desconforto.

Ansiedade
Aquela boca, quando não estava forçando sua língua em mim, estava me condenando.
Ele dizia:
"Eu faço de tudo pra você se sentir bem! Você é tão ingrato! Acha mesmo que alguém vai te amar como eu te amo?"
E ele estava certo, o que eu faria sem ele? Nesse momento, já no terceiro mês, eu aprendi o que é ansiedade.

Em alguns momentos me pego questionando o que teria acontecido se Bárbara tivesse falado para algum professor o que aconteceu naquele dia em que Joseph me puxou até uma sala isolada. Ela viu a marca no meu pescoço, eu tenho certeza. Será que tudo isso teria acabado mais rápido? Talvez ela não falou nada pois assim como eu tinha medo de Joseph...claro...é isso...por quê ela iria se arriscar por alguém que havia conhecido a poucas horas?
Ninguém se arriscaria...

* * *
Mais um dia se inicia, muitos descreveriam o céu, os pássaros, plantas, sua manhã com sua familia se preparando para seguir suas rotinas, mas o que eu poderia tirar de interessante de tudo isso?

Minha rotina se tornou esconder os hematomas que Joseph deixa pelo meu corpo, ver que minha mãe está tão preocupada com seu trabalho que mal percebe como eu estive durante esses 3 meses, perceber que a maioria das pessoas ao meu arredor ignora o quanto Joseph me força a fazer as coisas. Talvez para Joseph tudo isso fosse algo interessante.

3 meses com Joseph me fez perceber que ele gosta de fazer os outros sofrerem.
Gosta quando eu começo a gemer e chorar embaixo dele.
Gosta quando eu imploro para ele me soltar quando ele me agarra no quartinho de faxina da escola.
Ama quando me põe de joelhos ou me enforca.
As vezes ele deixa os amigos dele virem apreciar esse show de choros e gemidos. Acho que pra ele deve ser divertido ter uma plateia, com suas risadas e os chutes substituindo os tomates... é incrível a capacidade de todos de fingir que nada ocorreu... fingir que não viram um garoto ser abusado diariamente...acho que é esse o significado de ser uma atração de um circo dos horrores.

Enfim, está tudo bem, da mesma forma que o sempre se inicia ele também sempre tem um fim.

__Bom dia filho, você dormiu bem?- diz minha mãe animada como sempre.

__Claro.

__Não parece você está com uma carinha tão desanimada- Ohh, que adorável, minha mãe é capaz de perceber algo além do trabalho?

Forço um sorriso:
__Está tudo bem, é apenas preocupação pelas provas de fim de bimestre.

__Já sei oque está acontecendo...Isso é falta de namorada, já está na hora de você arrumar alguém!

__Mãe...e-eu prefiro focar nos estudos- pego uns dos pães que estavam na mesa.

__Ai você é muito desanimado por isso que vive com essa cara, você é um garoto tão lindo mas não namora ninguém!- diz ela colocando as mãos na cintura.

Namorar não resolve problemas.
Namorar não vai me livrar do Joseph.
* * *

__Finalmente você chegou, Adrien! que demora!- diz Bárbara parada na frente da escola me esperando.

__Eu estava meio pensativo hoje aí vim andando devagar.

__Pensativo? com o que?

__Ah, sei lá agora eu já esqueci.

__Memória de peixinho dourado a sua ein haha- Ela me da um tapinha no ombro

__Eu sei, agora vamos pra sala antes que levemos bronca daquele direitor.

Quando entro na escola percebo que Joseph estava distraído então pego na mão de bárbara e vou o mais rápido possível para a sala.

__Eii por que você me puxou?- Bah reclama.

__Precisava vir pra sala rápido.

__Hm... Você tá evitando o Joseph?

__Que? Não, Bárbara só senta ai.

O que passa na cabeça dela?

__Turma! temos um aluno novo!- diz o professor olhando para todos os alunos.

__Mais?- olho pra Bárbara.

__Cara além de você vários outros alunos entraram também.

__Uau que desnecessário.

__Sim.

Enquanto o professor falava, Joseph entra na sala e se senta em seu lugar.

__Enfim alunos, esse é Scott - apresentando o aluno.

__Olha que menino gato adrien, daria certinho pra você- me cutucando.

__Eu lá tenho cara de gay pra você? -olho seriamente para ela.

__Ahh...-ela começa sussurrar-Tem! Aquelas saidinhas que você dá com o Joseph não são nada hetero.

É isso que ela pensa? Que eu e Joseph somos ficantes?

__Idiota- falo enquanto olho para o garoto novo com o tal nome de Scott.

Scott tem olhos que se assemelham a uma galáxia: escuros e com um brilho exuberante. Seus cabelos imitam as penas de um corvo e seu jeito de sorrir era doce.

__Pode se sentar na frente de Adrien, Scott- diz o professor apontando para mim.

__Ok- diz Scott vindo em minha direção e sentando na cadeira na minha frente.

__Oi menino novoo -diz Bárbara toda feliz.

__Ah oi -diz Scott em um tom suave e doce.

__Prazer eu sou a Bárbara, mas, pode me chamar de Bah.

__Scott, e o prazer é meu.

__E tu não vai se apresenta pro menino não Adrien?- puxa os meus cabelos.

__An, aí para!- dou um tapa nela.

__Meu deus- ele ri do pequeno caos.

__Oi eu sou o Adrien e tals- desvio o olhar pra outro lugar.

__Oi Adrien prazer.

__Uhum...

__Não da bola ele é assim mesmo-diz Bah rindo de mim.

__Normal.- ele ri também.

Joseph passa por mim deixando um bilhete em minha mesa. Ele está bravo, não é difícil perceber isso no olhar dele. Por que isso do nada? Ele tá bravo por que me apresentei pro garoto novo? O que eu faço?
* * *
Estamos no quarto mês, aprendi muitas coisas durante os três meses anteriores...inclusive aprendi o que é trauma.

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