Capítulo 38

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Já com Harry, ele sentia que as coisas estavam finalmente caminhando.

Todos em seus devidos papéis, atuando com perfeição, a mente sempre focada no prêmio final.

Liberdade.

Até mesmo Cara estava se empenhando, claro que ela tinha em mente seu próprio triunfo, mas depois de tanto tempo com Harry, o conhecendo, ela viu a motivação, a força de vontade brilhando nos olhos verdes do rapaz, ele queria mais do que tudo se libertar daquilo e voltar ao amado.

Ela respeitava isso, e estava disposta a empenhar seu papel em prol dele.

Ela ia até a empresa levar o almoço do cacheado e aproveitava para jogar conversa fora com a secretária de Desmond, arrancando informações sorrateiramente, reuniões, clientes, datas, horários.

Ela também teve a ideia de fazer um compilado de fotos, onde ela e Harry apareciam em diferentes lugares, fazendo diversas atividades e também usando roupas diferentes, em iluminações e horários diferentes. Fizeram isso em apenas um dia, Harry pediu o dia de folga para sair com a noiva e Desmond prontamente aceitou, contente com a proatividade do filho, então ele e Cara juntaram peças de roupas diferentes e esconderam no carro, enquanto procuravam seus cenários. Tudo isso para que pudessem ir postando essas fotos durante os dias e não terem que se encontrar de fato, assim Harry estaria livre para trabalhar com Gemma no plano, já que no horário que sairia com Cara, na verdade usou pra ir até o apartamento em que a irmã está e assim progredirem mais.

Anne também estava fazendo absolutamente tudo para ajudar. Foi ela que conseguiu as assinaturas necessárias do marido, mesclando os documentos em meio à outros na pilha em que Desmond deveria assinar. Além de o manter ocupado o maior tempo possível, o afastando de Harry e tentando fazer com que ele não percebesse que o caçula não estava na casa.
Ela teve que usar métodos em que não se orgulha para isso, mas nada importava mais do que seus filhotes, ela já os negligenciou por muito tempo e nunca se perdoaria, isso é o mínimo que podia fazer.

Desmond era bruto com ela, ela nunca gostou, nunca se sentiu amada nas mãos dele, mas não tinha poder de fala. Se reclamasse ou chorasse seria pior.

Ao longo dos anos ele deixou de procurar por ela, já que ela sempre fugia ou arrumava alguma desculpa, e se aliviou ao perceber isso. Até achava que ele devia ter uma amante, e só conseguiu sentir pena dela, a coitada deve sofrer nas mãos dele, como ela também sofreu.

Anne pode suportar qualquer coisa, ela sempre foi forte, a única coisa que ela não consegue suportar é que machuquem seus bebês. Ela se sentiu a pior mãe do mundo quando descobriu que Desmond tinha batido em Harry pela primeira vez, ela não estava em casa nesse dia, mas quando chegou encontrou Harry encolhido no canto da sala, chorando, com uma marca vermelha na bochecha, ele tinha apenas 10 anos, e ela sentiu essa dor novamente quando presenciou pela primeira vez, quando Harry tinha 12 anos.

Ela sentiu o sangue ferver ao mesmo tempo em que seu corpo congelava, sua mente girou e se sentiu tonta por um minuto, ela não conseguiu protegê-lo, ela falhou em seu papel de mãe.

Era isso, ela falhou.

Com seus dois filhos, ela falhou.

Não foi capaz de proteger Gemma das palavras do pai, mesmo que a garota saiba se proteger muito bem sozinha, era seu dever como mãe dela a proteger.

Não foi capaz de proteger Gemma, nem Harry, e nem ela mesma.

Ela esperava se redimir, não buscava o perdão, nem ela se perdoaria, mas ela quer finalmente libertar seus filhotes do monstro que chama de marido.

Ela iria conseguir.

Ela tinha que conseguir.

Nem que para isso precise morrer.

...

Com Louis, estava trabalhando mais do que nunca.

Ele precisava manter a mente ocupada, tentar voltar à rotina e se empenhar nisso, então todos os dias acordava cedo e ajudava seu pai a preparar o café da manhã das meninas, levava Lottie e Fizzy para a faculdade e depois as gêmeas para a escola, comia qualquer coisa no almoço que encontrasse no centro da cidade e voltava para casa.

Se dedicava ao caderno de composições no período da tarde, ele tinha esquecido como era essa sensação, determinação, entusiasmo. Mesmo que as letras não fossem alegres, e se baseassem em sua grande maioria (para não dizer tudo) em um certo cabelo cacheado com olhos verdes, ele ficava feliz de libertar esses sentimentos e colocá-los no papel.

Experimentar os acordes no violão, misturá-los com as letras, era incrível.

Ele provavelmente nunca mostraria essa música para ninguém, mas não importava, ali era seu escape.

De noite, abria o bar junto com Liam todos os dias e permanecia até fechar, evitava ficar muito sozinho.

Essa rotina transcorreu por duas semanas, até seus amigos teimarem que precisavam de uma folga e o arrastarem para um pub novo que abriu.

Ele e Liam fecharam o bar por uma noite, para conseguirem aproveitar todos juntos e assim foram.

O bar tinha uma estética nostálgica, luzes neon, mesas e bancadas na cor preta, cortinas de lantejoula e o slogam de "Volte para quando o tempo era bom!", já que só tocavam músicas um pouco mais antigas.

O ambiente era calmo, apesar da música alta, as pessoas lá dentro estavam em pequenos grupos ou em casal conversando de forma amena, rindo vez ou outra.

Seus amigos escolheram uma mesa perto do bar e logo já foram fazer seus pedidos, não demorando para voltarem à mesa e jogarem conversa fora.

Ficaram um bom tempo nisso, bebida atrás de bebida, Louis estava realmente se divertido.

Seu copo ficou vazio novamente então levantou e foi até o balcão do bar, fazendo seu pedido ao barman, esperando ali mesmo enquanto seu drink ficava pronto.

Só então se permitiu dar uma boa olhada ao redor e finalmente escutou a música de fundo com atenção.

"Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei"

Legião Urbana, ele logo reconheceu.

O lugar tinha enchido um pouco à essa hora, e ele aproveitou para olhar as pessoas ali com mais atenção. Mas logo seus olhos pararam em uma figura específica. Impossível.

Franziu a testa ao analisar o rapaz, alto, cabelo cacheado, usando uma calça preta apertada e uma blusa de manga longa preta cintilante.

- Harry...? - Sussurrou enquanto dava passos em direção ao rapaz, deixando sua bebida esquecida em cima do balcão

Era impossível, Louis se negava a acreditar, mas precisava confirmar com seus próprios olhos.

Estava perto, talvez uns quinze passos de distância, quando seu alvo se virou e Louis deteve seus passos.

Não era Harry.

Aquele rapaz era extremamente bonito, olhos claros, maxilar marcado, mas não era seu Harry.

O rapaz sorriu, e não haviam covinhas fofas ali.

Por um lado se sentiu aliviado por não ser Harry, não saberia o que fazer com a informação de ter sido abandonado da noite para o dia e depois simplesmente encontrar o rapaz em um bar.

Por outro, se sentia frustrado consigo mesmo por querer tanto ver Harry de novo.

O rapaz pareceu notar Tomlinson ali, já que o encarou por alguns segundos antes de sorrir galante, e Louis até pensou em se aproximar, vai ver ele precisava de distração.

Mas o universo com certeza o odeia e gosta de brincar com a sua cara, já que, no segundo em que ia dar um passo adiante, uma melodia familiar começou a tocar em alto e bom tom.

"Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos foram traçados
Na maternidade"

Ah só pode ser sacanagem.

Ele ficou ali, parado, escutando a música e viajando em lembranças, até seus olhos encherem de lágrimas e ele andar rápido e de cabeça baixa até o banheiro, se trancando ali e se permitindo desabar.

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