INFERNO, DIA 1
Os dois dias de refúgio se passaram tão rápido quanto o primeiro dia de treinamento.
Fall fingiu que nada aconteceu, ela continuou ditando as regras e se infiltrando na minha vida como se não tivesse me deixado para morrer há dois dias atrás.
Seus sorrisos são forçados, as marcações do rosto sempre se comprimem ao me ver e ela quase sempre murmura algo para si mesma.Fui colocada em uma sala chamada "Zero", é praticamente uma ala mas acaba parecendo um salão vazio.
Um homem, acompanhado de Fall, acabara de entrar no salão e já está gritando comigo e me dizendo o que tenho de fazer e oque não posso fazer.
Sinto muito por mim mesma e por alguns que tiveram que passar por isso.De imediato, achei que eles fossem me bater ou algo do tipo.As coisas que aconteceram comigo dentro daquela sala escura, fazem tudo ficar gritante ao meu redor e eu me encolho e me escondo de tudo.
—Espero que tenha entendido, Boeth.—Assinto, trêmula.
O caminho até meu quarto e silencioso e dolorido, meu corpo inteiro doí e as vezes as paredes e o chão parecem agulhas.
O silêncio parece sempre ser a melhor escolha para os arrependidos, ele vai e vem e nunca faz nada com as pessoas.
É uma doença, mas não machuca.A porta se fecha atrás de mim, um estalo percorre pelo quarto e alguns apitos travam minhas portas e parece que até o guarda roupa se trancou.
Essa droga está acontecendo porque não querem que Vincent entre aqui.
Eu também não quero, mas ele o faz mesmo assim, impetuoso e chorão.
As vezes ele me diz que gostaria de se sentar ao meu lado durante nossas refeições, porque gosta de me ver comer desajeitadamente e gosta de me ver odiá-ló cada vez mais.Ando fugindo dele depois do incidente na praia, mas ele não.Hacker parece estar sempre me procurando, sempre perguntando por mim e correndo, como se o tempo fosse acabar de uma hora para a outra.
É ridículo, é apaixonante, é ele.Sonho com aquela praia desde que saí de lá, com o barulho do mar, a água gelada, a areia salpicando meus pés e o vento bruto.
Aquele momento virou meu sonho.Considero-o assim, porque não tenho muitos, nem gosto de ter.
Duas batidas na porta me fazem temer o que está por trás dela. Olho pela fresta antes de abrir, posso ouvir uma respiração por trás das paredes.
Alguns bipes e...Pronto.
Um par de olhos castanhos alucinantes, me encaram como se eu fosse a coisa mais interessante daquele prédio.
Acredito nisso pois, Vincent Hacker ainda está parado perplexo me encarando, já se passaram alguns segundos desde que a porta abriu-se.Pelo oque eu sei, ninguém quer que Hacker venha me visitar, nem eu quero.
O problema é; ele nunca é pego, seu cheiro sempre fica no meu quarto mesmo que sua estadia nele dure de três a dois segundos e...Ele é a única pessoa que eu tenho para conversar durante essa tortura.—Quinn.—Meu nome sai como um pedido de socorro pela sua boca.Seus ombros relaxam como se não tivessem feito isso pelas últimas 24.—Como você está ?—Ele promete o mundo a mim quando diz isso, mas o faz desabar quando desvia os olhos dos meus.
—Ótima.—Minto.—E quanto a você?
—Péssimo, mas prefiro não comentar sobre isso.—Um sorriso escapa dos meus lábios, mas faço questão de tirá-lo do rosto assim que percebo sua presença.
Olho para sua boca.
Eu já estive aqui antes.
Cantarolo.
Olho para os olhos.
Eu estou aqui o tempo todo.
Olho para Vincent.
E ele está em mim.
Me abraçando, me esmagando com seu amor.Formando a casa que eu não tive, o lar que eu precisei.
Seus braços percorrem a lateral dos meus seios, passam por eles e então se encaixam debaixo dos ombros.
Grunho assim que ele me aperta, meu nariz se encaixa em seu pescoço e agora me sinto como uma peça de quebra cabeça.Droga, esta droga é tão boa tão boa tão boa.
Fecho meus olhos.
Meu coração se afoga por completo, e agora ele está encharcado e não consegue secar e nem voltar a superfície.
Mas eu luto, eu luto com tudo que tenho e então volto a respirar esse ar gelado gelado e desgostoso que é aqui em cima.
Sempre estive nesse ar, não quero sentir a água em mim.
Meu coração se enrijasse e eu me contraio.
Tenho nojo desse contato, desses braços, das mãos, da respiração perfeita e dos olhos que ME QUEBRAM.—Porquê?—Arfo, quase morta.
—Quinn?—Ele sussurra.
—É porque sua mãe morreu?Porque eu sou a única que pode consola-lo?
SE AFASTE, sE AFASTE,se AFASTE, se aFASTE, se afASTE, se afaSTE ,se afasTE, se afastE, se afaste.
Ele se afasta, me empurrando para longe e respirando fundo.
Puxa o cabelo entre os dedos e bufa, indo até a porta.
Parado na batente da grande porta de vidro, ele se vira e me encara.
Dois tiros no meu peito.Sangro até a morte.
Os olhos me matam com duas rajadas.
Eu não estou mais em seus olhos e acho que não vou mais estar.
Meu coração suspira.Encosto minhas costas na parede assim que a porta se fecha, minhas costas deslizam até o chão na mesma velocidade que as lágrimas em minha bochecha.
Sinto falta dos meus pais, sinto falta de Aubrey e sinto falta da vovó.Sinto falta de quem eu era antes.
——————————————————————————
"Tínhamos uma conexão inexplicável mas isso não era o suficiente para dar certo."
Quinnzinha e Vinnie vão viver essa frase até o resto da vidinha, infelizmente.
Vinnie já é babão nela mas ela...Ein...
Tem que ter muito desenvolvimento desses dois ainda...

VOCÊ ESTÁ LENDO
The impossible
RomantizmQuinn Boeth, uma garota de 16 anos, acaba descobrindo que os pais que não aparecem em casa quase nunca, são agentes especiais.Tomada pela curiosidade e pela raiva, ela vai até a agência onde os responsáveis trabalham e procura por eles.A garota acab...