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3 horas

Jazem agora, três horas que estou em pé em uma fila de espera que parece nunca ter fim.Tem pessoas desesperadas aqui só para receberem uma assinatura em um papel idiota, os banqueiros sabem que a vida dessas pessoas dependem de uma caneta e de uma mão.
E as pessoas sabem que os banqueiros pouco se importam com o que depende a vida delas.

Desde que encontrei aquele papel dentre o cardume de fogo, corri para o Banco do centro da cidade.Dessa vez não fui no banco comum, não no que asseguravam minhas hipotecas só por saber que eu não tinham condições.
Fui em um banco onde milionários pisavam, onde só as melhores pessoas de Washington punham os pés com sapatos impecáveis.

Todos sabem que pessoas como eu entram em bancos como esse ou para roubar, ou para fazer algum escândalo.

Queria que fossem esses os motivos quais estou aqui.

Estou entrando ou talvez no meio de um estado de choque brutal há 5 minutos.

Meus pais trabalhavam na CIA, eles nunca trabalharam em uma loja de imóveis em que tinham que fazer viagens para vender casas.Eles faziam missões, missões como as de filmes de ação.Minha avó sempre soube onde eles trabalhavam, ela sabia que toda vez que eles saíssem pela porta de casa, poderiam correr o risco de jamais voltar.
Ninguém sabia que eu era filha deles até hoje, ninguém jamais soube que Janet havia ficado grávida de uma garotinha, nem mesmo os pais dela.

Eu fui registrada em um cartório pequeno, no interior de Washington.Quase nunca pediam meus documentos, eu quase nunca saia de casa.
Meus pais chegaram perto de me manter em segredo?Eu nunca fui alguém esses anos todos?

-Tenho que saber onde eles estão, sou filha deles.-O senhor por trás da banca me olhou, confuso.Assim como eu, ele não sabia quem eu era,

-Vou te dar o endereço do prédio da CIA, posso te aconselhar a ir lá.Mas eu sei como isso funciona, você vai dizer duas palavras e então eles vão dizer que é mentira, se insistir mais-

-Obrigada.-Peguei o cartão em mãos e sai para fora do prédio.

Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto mas eu não sabia mais se deveria senti-las.Minhas pernas já haviam pedido a força então me sentei nas escadas em que estava descendo.
Vergonha.
Tampei meu rosto com as mãos, sentia nojo de mim mesma por chorar.
Queria rasgar meu peito, acabar com o sofrimento, colocar uma bala na cabeça e dar fim nisso tudo.
Talvez eu encontrasse meus pais desse modo, com toda a certeza eles não estariam no céu.

O primeiro soluço veio quando as lembranças vieram, perfuraram minha mente em gatilhos.Meu cérebro é uma janela aberta para o caos do meu mundo.
Meu corpo é uma alma vagando por esse caos.
Sei disso porque estou no abismo, tento escalar de volta já faz um tempo, mas é impossível vencer a gravidade quando não tem ninguém para te dar a mão.
O concreto da escada está gelado e duro, me alerta dos meus afazeres quando começa a me congelar junto com ele.

Eu queria saber como é estar lá fora...
Fora do mundo em que vivo, no mundo em que o resto dos seres humanos vivem.Queria conseguir viver sem ter que só sobreviver,

Não sei se caminho ou corro até o outro lado do centro, só sei que duas mãos agarram meus braços quando passo por um beco.A pele é áspera é gelada, não tenho tempo de absorver a sensação do toque mas meu corpo fica em alerta.
Minhas costas batem contra o chão congelante e minha cabeça atinge uma lata de lixo, o sol não me ilumina aqui mas consigo sentir que estou dentro do Beco agora.
O cheiro podre do lixo me intoxica, as mãos em mim me intoxicam ainda mais.
Meu casaco está sendo tirado de mim e não adianta o quanto eu estapeie o homem, sei bem que ele não vai me soltar.
Sinto sua barba contra minhas mãos.
Sinto que não posso fazer nada diante da situação.
Chuto o ar mas ele agarra minha perna e senta por cima dela, meu outro casaco é tirado de mim e eu rezo pra Deus para que nada aconteça.
Deus não cuida de mim a muito tempo.
Suas mãos estão no meu seio, em formato de concha ele me apalpa.
Abro meus olhos e fecho meus pulsos, minha mão acerta seu rosto e o derruba no chão em seguida.Me encho de expectativa para conseguir lutar e escapar dá-lo.
Ele geme de dor e então eu junto meus pedaços e me levanto dali.
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Foram três segundos até que eu caísse no chão de novo depois que algo pesado atingiu minha cabeça.Minha visão fica turva e eu sinto meus lábios dormentes.
Luto contra esse desmaio mas sei que não vai dar em nada.
Meu rosto tomba para a esquerda e eu posso ver as pessoas ocupadas com suas vidas passando ao meu lado, nenhuma deles se preocupam em virar a cabeça e ajudar a pobre garota.
Minhas pernas são presas por duas mãos fortes e minhas roupas são rasgadas.
Solto um último soluço antes de morrer de vez.

The impossibleOnde histórias criam vida. Descubra agora