Não vou me esquecer daquela cena.
Nunca.
Linda, linda de morrer.Me olhando pela janela, com os olhos tão furiosos quanto a chuva lá fora.No começo, quando a vi me encarando, sentada na sala de treinamento, achei que estava fazendo isso para me provocar; de algum modo.
Mas depois, percebi que ela achava que o vidro era espelhado, que eu não conseguia vê-la dali.Ela, Deus, ela...
Linda, linda, linda.Queria atravessar aquele vidro e dizer tudo, falar sobre tudo.
Dizer que me sinto preso perto dela porque ela me cativa, me usa, me joga em um abismo tão profundo e tão infinito.
E é assim que me sinto, infinito.Penso nisso o tempo todo enquanto a vejo comer no jantar, com as mãos desajeitadas e a fome de um leão.
O cabelo molhado e as bochechas rosadas.
Rossel está falando com ela, mas ele nem é do nosso esquadrão.Apesar desse fato me deixar um pouco irritado, penso que é bom pra ela pois está convivendo conosco.
Ela sorri algumas vezes com algumas coisas que ele diz, e até esconde uma risada.
Não esconda, quero tanto ouvi-la.
Fico feliz por falar com ele e não com Ben ou Mark, acho que Rossel não tem nenhuma intenção por trás dessa conversa.
E se tiver, será cautelosa.—Pare de olhar para ela, cara.—Ben sussurra, me dando uma cotovelada.
—Estou vendo oque eles estão falando.
—Mentiroso.—Cora resmunga, passando a mão dentre o cabelo.
Olho para ela, também posso olhar para ela se quiser.
Cora é minha amiga, mas ela dorme comigo, me beija, as vezes me dá sua mão.
Nunca dei expectativa a ela, e as vezes me sinto mal por isso.
Nós fazemos missões juntos, e quase sempre ela gosta demais de mim durante esse tempo. Conheço-a a tempos, desde de criança. Sempre foram nos três; eu Ben e Cora, correndo pelos corredores e arrancando flores dos jardins dos prédios da CIA.
Temo que, se eu explicasse a ela que estou prestes a amar Quinn, ela se afaste para sempre.
E isso é uma merda.—Posso olhar para você também.—Sorrio, colocando o garfo na boca.
—Mas não para as duas ao mesmo tempo.—Cora me encara, o olhar sério e frágil, lábio inferior subitamente trêmulo e os ombros tensos.
Arqueio uma sobrancelha, mastigando.
Não.—Oque foi?—Ben ri, olhando para nós dois.
Cora chuta meu pé por baixo da mesa e suspira, batendo o garfo no prato várias vezes.
A olho mais uma vez com firmeza, só para ter certeza que é isso mesmo que quer.—Ei, vocês dois...Vão ficar se encarando?A mulher afirma, deixando uma mecha de cabelo cair sobre o rosto.
Então, bem ali, naquele instante, percebo que não posso fazer isso.
Não posso escolher entre uma das duas, não agora.Conheço Cora a anos e a amo, mas como amiga.Nos comemos juntos , lutamos juntos, conversamos paralelamente juntos e por fim, sexo.
Mas com Quinn, é diferente.
A conheço a tão pouco tempo mas isso parece ser anos, me sinto tão bem perto dela como nunca me senti na vida.
E mesmo daquele jeito, mesmo ela afastando os sentimentos e se recusando a aceitar meu amor, sinto que me ama também .
E vou fazer.
Vou fazer com que se apaixone por mim, porque não consigo, não consigo pensar em uma maneira de fugir desse sentimento, que me prende, me agarra, me afunda.
Não posso pensar em outra forma de lidar com toda essa paixão do que fazendo-a sentir o mesmo por mim.Até que nossos corações batam em um peito só.Até que sejamos um só, um completo.
O infinito.Olho para Quinn enquanto penso nisso, gosto dela enquanto penso, gosto dela a cada segundo.
Quando o jantar acaba, meu coração começa a bater rápido e penso em ir atrás dela e explicar algumas coisas.
É terrível pois, assim que a vejo andar com o nariz empinado em direção a porta, meu coração desacelera.

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The impossible
RomanceQuinn Boeth, uma garota de 16 anos, acaba descobrindo que os pais que não aparecem em casa quase nunca, são agentes especiais.Tomada pela curiosidade e pela raiva, ela vai até a agência onde os responsáveis trabalham e procura por eles.A garota acab...