14. Invisible

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Minha trajetória havia sido consideravelmente atrasada, mas não foi o suficiente para que conseguissem me prender definitivamente naquele mundo cheio de pessoas insignificantes. Upside down nunca foi um universo alternativo louco em que você podia encontrar o seu gêmeo do mal ou qualquer coisa tosca que a ficção mundana inventou para entreter os menos desavisados.

Tudo se tratava de um jogo de ego, inveja, ânsia de poder. Brincar com a vida alheia como um Deus. A ryujin real não tinha a vida que eu desejei, era um tanto clichê na verdade, mas em uma realidade ao qual estava aprisionada sem quaisquer privilégios o pouco que ela tinha foi o suficiente para me vislumbrar e a possibilidade de fazer meu próprio destino me intrigava. Um lugar onde eu poderia ascender, ter sempre o que eu quis estava ali tão acessível. Eu só precisava convencer, usar minha melhor máscara e mover os peões certos para enfim achar a saída.

Aquele buraco na parede significava mais do que liberdade, significava uma outra alternativa e eu faria de tudo para não perde-la outra vez. Aquela casa caindo aos pedaços significava meu recomeço.

A saída dali sempre foi clara para mim, não era primeira vez que eu escapava de Upside down. Porém pela falha de uma inútil eu fui confundida com a ryujin real e arrastada de novo para esse inferno, para minha antiga vida.

O caminho de volta para a superfície que sempre sonhei não era lá os dos mais cômodos, para não causar muitas suspeitas ele era bem sutil e cheio de presenças indesejáveis. A luz quadrada refletida nas paredes daquele túnel me dava certeza que estava indo pelo caminho certo. Com certa dificuldade eu pulei e me segurei com toda a força que tinha nos braços na borda daquela abertura que ficava á quatro palmos acima de mim, a tentativa de ejetar meu corpo pra frente quase foi falha mas conseguir subir e puxar o resto do meu corpo para cima. O espaço ali não era o dos mais agradáveis, muito menos o cheiro e a textura úmida de lama e folhas ao qual tive que rastejar por cima. Quanto mais avançava até a tampa quadriculada que dava saída para o jardim, mais ouvia o estrondo de uma música eletrônica super alta, meu palpite apontava que estava vindo da casa. Mas quem seria o louco de fazer uma festa ali ? E mais, quem seriam os loucos de irem ?

Ainda confusa com aquela possibilidade, empurrei a grade com as mãos, engatinhando para fora do buraco enquanto torcia para que minhas roupas não estivessem sujas demais para me misturar no meio daqueles adolescentes.
Meu plano era seguir para a casa do meu "eu" da terra, não ficava muito longe dali, mas o caminho ainda era arriscado pelo simples fato de terem pessoas conhecidas circulando e havia a possibilidade da nossa querida Ryujin estar ali e não em casa.

Para evitar muitos olhares decidi e entrar pela porta dos fundos ao qual dava acesso á cozinha, entrando logo atrás de duas garotas que haviam passado na minha frente. Haviam pessoas por todo lugar, a cozinha em especial estava insuportavelmente cheia, parecia ainda menor do que realmente era pela quantidade de gente bebendo e comendo porcarias por ali.

⸺ A verdade é que ele não aceita perder, você viu quantos pontos eu tinha! Eu até mesmo tenho skins muito melhores que as dele

Pude ouvir a garota de cabelos vermelhos resmungar com a outra morena de maria chiquinha á minha frente, apesar da música alta e as risadas.

⸺ Eu sei que é, nini! ainda quero uma revanche com aqueles dois. O beomgyu destruiu minha casa no mine!

Afirmou a outra que de relance pude reconhecer como Gisele, nem eu e nem a ryujin verdadeira tínhamos proximidade com ela mas nos esbarramos de vez em quando por causa da Karina. De fato aquela conversa não me interessava muito, mas o fato do beomgyu verdadeiro ainda estar por aí me deixava inquieta. O elo havia sido quebrado antes de eu matar o wannabe, mas essa conexão ainda era um tanto curiosa e o fim dela mais suspeito ainda.

⸺ Ryujin?

Chamou uma voz de algum canto do cômodo que eu não consegui identificar até notar a figura loira e alta se aproximar de mim, fazendo menção em me abraçar porém recuando antes mesmo do contato ser realizado.

⸺ Amiga, eu não sei onde você se enfiou mas arruinaram de vez com seu look! Toma, vai ajudar um pouco.

Falou Somi, após me olhar de cima á baixo me entregando em seguida o que percebi ser um lenço umedecido. Eu devia estar uma bagunça mas não tinha muito o que fazer, eu precisava acabar com isso logo.

⸺ Ah... obrigada! Eu estava indo no banheiro mesmo me limpar

Agradeci sorrindo amarelo, me despedindo da mais alta enquanto passava o lenço no rosto e outras partes do corpo expostas. Um pouco mais adiante na sala, mesmo em meio á tanta gente pude reconhecer a cabeleira escura e curta, com mecha azuladas caminhar rapidamente para o andar de cima e adentrar o corredor dos quartos.
Com medo de causar estranheza por quem passava no recinto e após nos blocos da escada de madeira, eu me mantive cabisbaixa, nunca erguendo o olhar para quem quer que fosse que estivesse na minha frente. Era uma boa forma de me manter invisível e estava funcionando.

O corredor estava vazio, todas as portas estavam fechadas o que tornava minha busca ainda mais arriscada afinal seria bom demais pra ser verdade todos 5 quartos estarem vazios em exceção ao banheiro bem aos fundos que parecia ser um tanto inofensivo porém uma boa alternativa para se esconder. Porém ainda devia verificar todos os cômodos, então como quem não queria nada levei a mão em uma das fechaduras e com delicadeza girei a maçaneta. Porém não cheguei á empurrar por sentir a pressão de alguém fazendo o mesmo do outro lado seguido de uma voz masculina

O que me fez correr e entrar no primeiro quarto atrás de mim, torcendo para a porta que foi fechada com certa agilidade não ranger para chamar atenção. E pela pequena brecha que deixei para observar a movimentação no corredor, observei soobin sair do quarto segurando beomgyu ao qual não parecia muito bem e ryujin sair logo atrás dele

Meu impulso era sair atrás, mas haviam muitas pessoas junto com ela. Ter mais de um alvo só me traria mais problemas naquele momento. Então esperei eles descerem e quanto finalmente me senti segura de sair daquele quarto senti algo gélido e afiado ser pressionado contra minha garganta enquanto a voz familiar em tom irônico sussurrou próximo ao meu ouvido.

⸺ Onde pensa que vai, impostora?

Porra, era o Yeonjun.

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Olá dengos! A atualização demorou dessa vez eu sei, espero que tenham gostado da nova fase. Até o próximo capítulo

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