Capítulo 04.

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Boa leitura!

Acordo na enfermaria, uma mulher de branco que provavelmente é a enfermeira, - o que na minha opinião rapidamente formada parecia um fantasma - verificava meu pulso quando a olhei.
__O que houve?
__Você desmaiou.
Me imaginei desmaiando, meus pés saindo do chão, o barulho do meu corpo quando tombasse e gargalhei, sem privações simplesmente gargalhei, bati os pés na cama como uma criança de tão grande que era a minha diversão. A enfermeira só me olhou como se eu fosse louca. Talvez eu tenha perdido um parafuso na queda.
Mas quando a realidade da situação pesa sobre mim a diversão evapora, e quero chorar. Então choro, deixando a enfermeira confusa e sua confusão me traz uma nova rajada de gargalhadas. Lágrimas e risadas. Meus sentimentos então desordenados.
__Acho melhor eu dar um calmante.
__Não!__grito quase soltando a agulha na parte de trás do cotovelo.__eu só fui demitida à poucas horas por vingança, e não sei o que vai ser de mim.
Pode parecer dramático, eu não me importo.
Ela me lançou um olhar que dizia que aquilo não era da conta dela e saiu. Ela me deixou falando sozinha essa.... Se acalma Luana! Arranco aquela agulha enorme da minha veia e sinto uma dor repentina no meu braço. Não importa agora. Só quero sair daqui, eu me sentia sufocada, era um lugar quase claustrofóbico. Tenho coisas para fazer, mas a única que me convém agora é comprar uma lata de sorvete e afogar em lágrimas.
Me levantei daquela maca dura e sai da sala, eu sei, talvez eu tenha mesmo perdido um parafuso na queda, mas isso não era muito importante agora, eu só tinha que me despedir da minha sala.
Quando chego lá minha fúria é tremenda. A minha querida sala.
Entro sem bater, faço isso mais por instinto do hábito, e dizer que eu fiquei chocada foi pouco. Eu fiquei mortificada.
A minha sala!
O que... Ai meu Deus, a  sala estava diferente, a minha querida sala tinha perdido seu ar feminino e estava completamente masculina. Odiei aquele tom escuro que ela transbordava, era tudo preto. Os sofás, as poltronas, o tapete e até o computador. Mas o que me chamou atenção foi o palhaço, com seu sorriso vermelho sangue e seus olhos divertidos, aquele era o meu palhaço e ele roubou. Um barulho de rosnado que parecia de um gato em defesa saiu da minha garganta.
Meus pés pareciam ter vontade própria e andaram até a mesa nova de vidro.
Fiquei ali parada tremendo de ódio, eu queria fazer algo, queria machuca-lo. Tinha quantas horas que eu sai daqui? E ele já fez tudo isso, na mesa organizada havia alguns contratos importantes. Um sorriso cruel repuxou meus lábios.
Nao! Aaa sim.
Peguei uma caneta e fiz um pequeno rabisco, eu sei é inútil, e talvez até infantil, mas eu já me sentia bem melhor, e vingada. Depois olhei o palhaço sorridente.
__Acho que você não quer ficar aqui com esse monstro .__sussurro maldosamente e por essa distração eu não ouvi o pequeno Click da porta.
__Que monstro?
Tarde demais, ele estava ali. Eu nem precisava ver, sua presença enchia o ambiente como antes, mas agora era mais intenso. Não quero me virar, eu sei que fui pega no fraga.
__Acho que é meio óbvio, não?__sussurro destilando veneno da minha voz.
Ouço seus sapatos chiques se aproximando e resolvo me virar, era bom ter o inimigo sempre exposto ao seu olhar, ou então eles te apunhalavam pelas costas. Haaaa mais ele não parecia um inimigo, poderia enganar qualquer um com sua beleza iminente, seu corpo forte e em forma, seu cabelo castanho escuro e sua pele morena. Sim podia enganar qualquer um. Menos a mim.
__O que faz aqui senhorita Silva, essa é a minha sala.
Sua arrogância era irritante, fazia eu me sentir um nada.
__Vim me despedir da minha sala.
Ele levanta uma sobrancelha. Será que alguém pode mandar ele parar com aquilo? Tinha muito efeito sobre mim.
__E gostou?
Dou uma risada amarga.
__Não, ainda não. Creio que não vai ser possível.
__Porque?
__Porque essa não é a sala que eu trabalhei.
Ele se aproxima e vejo que ele é bem maior do que eu imaginava.
__Não gostou da decoração?
Me vejo na obrigação de me afastar, ele não precisava chegar tão perto, pelo amor de Deus, eu tive que inclinar minha cabeça para trás para poder encarar ele nos olhos.
__Eu? Gostar disso? Não. Porque tem que ser tudo preto?
__Porque é minha cor favorita.
Claro, sombrio como era essa cor é perfeita.
__Bem já vou indo.
Ando em direção a porta mas suas palavras me param.
__Achei que você veio aqui me agradecer.
O que? Ele era louco né? Agradecer o que? Por ele ter me despedido? Jamais.
__Agradecer o que?__pergunto desafiando o seu olhar frio que me sondava.
__Por eu ajudar você.
Hãn?
__Não estou entendendo.
Ele solta o ar impaciente, pelo menos eu consegui irritar ele. Mas não era deliberado, eu não fazia a mínima ideia do que ele estava falando.
__Você acha que chegou sozinha a enfermaria?
Há isso.
__É claro que não. Obrigado por chamar a enfermeira para mim.__agradeço.
O que? Sou vingativa mais não má educada.
__Eu não chamei a enfermeira, tive que levar você até lá.__e depois dessa bomba ele sorri. Sério aquele sorriso que é só dentes, e que se não fosse a minha descrença e choque teria roubado meu fôlego.
Recuo um passo para trás horrorizada, ele não podia ter feito isso, ele não era tão forte, o que significava que ele estava zombando de mim. Zombando de mim, zombando de mim... Essas palavras giravam a minha volta me hipnotizando. E a raiva acendeu, e como ascendeu. Era como o fogo jogado na gasolina que rapidamente ascendia e melhor ainda, se alastrava. Dei um passo.
__Não basta o que você fez?__ele ia fazer um comentário sarcástico mas parou quando viu minha raiva. Ele ficou em silêncio, que bom pra ele.
Dei outro passo.
__Me despediu.
Mas outro passo.
__Pegou a minha sala.
E mais outro.
__E ainda zomba de mim.
Paro de frente a ele, arfando como se eu tivesse corrido uma maratona e não dado apenas  4 passos. Ficamos nos encarando e pela primeira vez não havia arrogância no olhar dele, havia surpresa e descrença.
__Primeiramente senhorita Silva__começa dando um passo, o que me faz recuar__eu não despedi ninguém. 
Isso era mais uma das brincadeiras dele?
__Foi..
__Segundo, eu peguei a sua sala porque eu me agradei do ambiente.
Ai. Meu. Deus. O que era aquilo no olhar dele? Fúria? Triunfo? Desafio? Bem, nenhum desses me agrada.
__Terceiro e último, eu não zombo de ninguém. Eu gosto de ser respeitado e pra isso eu tenho que respeitar, não acha?
Abaixo meu olhar submissa. Será que eu tinha errado nas minhas suposições? É o meu fim. Definitivamente.
__Sim senhor.
Eu havia recuado muito, agora estava quase na parede. E mais uma vez ele ganhou.
E desde de quando isso é um jogo?
E esse silêncio agora, odeio quando esse silêncio cai. É estranho para mim, não consigo pensar quando ele se instala, parece me obrigar a dizer algo e eu não tenho nada a dizer a não ser...
__Me desculpe.
Parecendo satisfeito com minha submissão e aceitação dos fatos ele se senta na mesa. Ele sempre venceria.

O que fazer agora? Não sei se depois desse confronto eu ainda tinha um emprego, e eu não queria perguntar, minha voz sumiu e minha garganta parecia um deserto.
  Agora sim eu estava ferrada.
__Senhor Ross... Eu-eu, queria saber se ainda tenho um emprego.
Ele sorri largamente.
__O que você acha?
__Que sim?
Ele exala um suspiro, e tem humor no seu olhar. Humor! Com certeza aquele humor não me beneficiaria.
__Certo,você tem um emprego, mas não o mesmo cargo.
Suspiro aliviada. Depois eu iria me arrepender disso.
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Não se esqueçam das estrelas.
Até...

Luana.Onde histórias criam vida. Descubra agora