House Of The Wolves - Joseph Quinn

O Convite

O vento soprava forte ao Norte de Westeros, se fazendo chegar até a capital. Na sua vastidão branca pela neve eterna se encontrava a fortaleza da Casa Stark, mais conhecida como Winterfell. O alto inverno sempre trazia fortes ventos e neve fresquinha para substituir a antiga, dando mais do seu branco à paisagem.

Descendo as escadas de pedra ancestrais, Efferth Stark faz seu caminho até os fundos do castelo de Winterfell. Enquanto avançava, vestia sua capa feita de pelos e pele de enormes animais. Podia estar agradável dentro do castelo, mas sabia o que o aguardava assim que atravessasse a pesada porta de madeira que o levaria para fora. Efferth estava um pouco irritado por ter que sair do seu confortável lugar e deixar a cerveja para trás, mas já estava acostumado com essas atitudes.

Assim que a sola de seu sapato encontra a neve branca, ele segue a trilha do Bosque Sagrado, um lugar escuro e rodeado por sentinelas, carvalhos, e paus-ferro, mas também espinheiros e pinheiros sentinela. Um lugar de culto por aqueles que seguem a tradição dos Primeiros Homens e rezam aos Deuses Antigos.

O vento batia impiedosamente contra o rosto do comandante, o fazendo estreitar os olhos enquanto andava, mas conforme adentrava o Bosque em direção ao centro, os uivos dos ventos cessavam, dando lugar ao silêncio. Antes que Efferth chegasse a Lagoa Negra, Cedrus vem correndo em sua direção, o lobo pardo quase o derruba com sua empolgação.

     - Cedrus! - Efferth fala com uma certa severidade, fazendo lobo o encarar em pleno rancor. Mesmo não sendo seu dono, ele sabia que deveria respeitar Efferth de qualquer maneira. - Me leve até ela. - Efferth ameniza seu tom de voz para fazer Cedrus obedecer.

Mesmo contra sua vontade, Cedrus guia Efferth em direção à Lagoa Negra. Pelo caminho o Comandante Stark avista Wires, Trenton, Salah e Besttia correndo entre as árvores, não ligando para a presença dele e nem a do seu irmão. Qualquer outra pessoa em seu lugar estaria apavorada na companhia de lobos gigantes que poderiam quebrar ossos facilmente com apenas uma mordida. Mas para Efferth a presença destes canídeos já era familiar e poderia ser dito o mesmo em relação aos animais.

Escutando o barulho da água ao se aproximar, finalmente chega à Lagoa Negra, que é um pequeno, escuro e frio lago com uma antiga árvore-coração à sua margem. O represeiro tem casca branca como osso, folhas vermelhas escuras, e um rosto longo e melancólico esculpido na casca, seus olhos profundos cortados, são vermelhos da seiva seca. Sentada às raízes do represeiro, Efferth a encontra, e mesmo um pouco irritado por ela tê-lo feito sair do castelo, não consegue deixar de sorrir ao olhar para a sua prima.

Bryel Stark limpava Gelo calmamente, uma espada larga de aço valiriano e uma herança da casa Stark. Mesmo não estando em tempos de guerra ou em qualquer cerimônia, a Lady da Casa Stark gostava de tocá-la e mantê-la sempre impecável. Nunca havia lutado com a espada, muito menos participado de uma guerra com ela. Manuseá-la durante as cerimônias era mais que o suficiente para sentir seu peso quase insuportável. Talvez fosse a baixa estatura de Bryel, mas isso não a fazia ser uma guerreira inferior, e Efferth sabia bem disso quando passa vários apuros ao treinar com a prima.

Não levou dois segundos para Lady Stark notar a presença de Efferth e de Cedrus, que parecia chateado com alguma coisa. Seu olhar frio se suavizou quando encontrou os de seu querido primo, que estava intrigado por ela ter notado sua presença tão rapidamente. Um barulho quebra a conexão entre os dois ao verem Cedrus se retirar dali para se juntar aos seus irmãos. O Stark limpa a garganta para se concentrar no motivo de sua vinda até aqui.

    - Chegam notícias da Fortaleza Vermelha para Winterfell. - Efferth anuncia a mensagem que trazia para Bryel.

    - O que o Rei Viserys I Targaryen deseja?

    - Os desejos são da Rainha Alicent Hightower. - As falas de seu primo fazem a Lady Stark franzir o cenho em confusão.

Com um assovio todos os cincos logos gigantes vêm ao encontro de sua senhora, e a mesma, após se levantar das raízes do represeiro, entrega Gelo para Efferth que a segura como se não pesasse nada.

    - Já foi difícil carregá-la até aqui.

Efferth não liga de ter que carregar Gelo de volta ao castelo, na verdade ele gostava de segurá-la e por mais que nunca tenha falado sobre isso com sua prima, ela sabia da paixão do seu primo pela Gelo. Sem esperar pelos Stark, os lobos saem do Bosque Sagrado e voltam ao castelo correndo em direção às suas tocas, localizadas às margens de Winterfell.

~~~

Ao chegarem ao castelo e entregarem seus mantos pesados aos guardas, os primos se dirigem à sala de reunião na grande Fortaleza, uma parte mais para dentro do castelo. Ao adentrarem o local o Meistre Aerling os esperava em pé, ao lado da grande mesa, com um longo pergaminho em mãos.

    - Desculpe a demora, Meistre. - Efferth expressa seu perdão, com Gelo ainda em mãos.

    - Não demoraram tanto assim, comandante. - o Meistre fala de maneira despreocupada.

    - Efferth me falou que chegaram notícias de Porto Real. - Bryel se aproxima do Meistre, segurando as mãos atrás das costas. O Comandante nota como a expressão de sua prima é dura, mesmo com traços tão delicados, o que fazia o mesmo a achar atraente.

    - Sim, sim, Lady Stark. A Rainha Alicent faz um convite para Winterfell. -  quando o Meistre Aerling nota que Bryel continua em silêncio, ele comunica. - A Casa Targaryen deseja que a Lady de Winterfell vá até a Fortaleza Vermelha para fazer uma proposta.

    - Que proposta? - a voz de Bryel soa ríspida quando passa pelo Meistre, indo em direção a janela aberta.

    - Não foi comunicado por carta. - o Meistre responde, se virando para a sua Senhora.

    - Obrigada, Meistre Aerling. Pode se retirar. - dessa vez sua voz sai mais suave, como um pedido de desculpas.

Ao se ver sozinha com Efferth, Bryel solta uma respiração pesada enquanto tenta se acalmar com o vento de inverno que atinge seu rosto. Não gostava muito de Alicent e seu primo sabia disso. Lady Stark havia conhecido a menina que se tornaria a futura rainha quando seu pai, Lorde Rickon, a levou até Porto Real para presenciar o torneio de ascensão de Rei Viserys I. Tinha apenas oito anos e era a primeira vez que pisava fora do Norte, por mais que sentisse falta do inverno, ainda assim ficou maravilhada com a Cidade Real e os dragões, e tinha memórias bem vividas sobre o lugar, apesar de nunca mais ter voltado a vê-la.

     - Devo enviar um corvo negando o convite? -  Efferth quebra o silêncio e tenta adivinhar a decisão de sua prima.

     - Não. A resposta pode ser mal recebida  - diz pensativa.

Bryel estava curiosa para saber a proposta da Rainha, que desde que se viram pela primeira vez, a futura Protetora do Norte sentia que a Hightower não era de confiança. Mas sabia que recusar poderia trazer consequências ruins para o futuro. A Casa Stark tinha feito um juramento em lealdade aos Targaryen e a promessa deve ser mantida. Os Stark nunca quebram seus juramentos.

Talvez nessa viagem encontraria com a futura sucessora do Trono de Ferro, Rhaenyra, novamente e também queria visitar Porto Real com seu primo e mostrá-lo pessoalmente tudo o que havia contado à ele quando crianças.

    -  Envie a aprovação do convite. - a Protetora do Norte se vira, trocando a neve pelo rosto de seu primo. Efferth franze o cenho com a resposta inesperada da Stark. - E comunique também que o comandante de Winterfell, Efferth Stark, será meu acompanhante.