Capítulo 2: - Flavus -

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Ao despertar, encontro Monaurum aninhado em meu colo, descansando serenamente. Durante a noite, alguns frutos caíram da árvore devido à brisa suave, proporcionando-me, finalmente, a oportunidade de saciar minha fome desde o vilarejo.

Aproveitando o momento, pego o livro que repousava ao meu lado enquanto dormia e começo a percorrer as palavras ali inscritas até o momento; entretanto, minha atenção é rapidamente direcionada para um parágrafo isolado, escrito em vermelho e assinado por "Soahc".

Surpreendentemente, esse trecho não estava presente em meus pensamentos ou sonhos noturnos.
"Na terra onde os andarilhos dão início às suas jornadas", pondero sobre o significado dessas palavras enigmáticas. Será que não estou fazendo uso adequado do livro?

Questionamentos brotam como sementes, germinando dúvidas que crescem a cada momento. Quando Monaurum acorda, compartilho com ele alguns frutos antes de seguirmos novamente em nossa trajetória.

Ao longo de dois dias e meio de percurso, intercalando pausas noturnas para alimentação e descanso, atravessamos planícies com uma tapeçaria multicolorida de flores, que iam desde as modestas margaridas até as majestosas violetas.

Finalmente, alcançamos os portões de um grande reino. Guardas uniformizados nos recebem com postura imponente, identificando-se como os cavaleiros de Typhon, defensores do Reino de Procellae.

Enquanto adentramos o reino, somos questionados sobre nossa presença ali e nossas intenções, perguntas que lamento não ser capaz de responder de maneira satisfatória.

No entanto, um acontecimento à margem da entrada atrai a atenção dos guardas, permitindo que Monaurum e eu avancemos sem maiores obstáculos. Contudo, a urgência do momento obscurece minha avaliação quanto às dificuldades que enfrentaríamos em terras desconhecidas: a ausência de alimento e recursos monetários, combinada com nossa entrada não autorizada, nos colocava em um dilema desafiador.

Ao mergulhar naquele novo ambiente, meus olhos absorvem cada detalhe com fascinação. A cidade se divide em três níveis de elevação: o primeiro, o maior deles, abriga a zona residencial e comercial, onde os cidadãos levam suas vidas.

O segundo, detalhes não tão nítidos à distância, são melhor compreendidos através de um mapa próximo à entrada, revelando ser a base dos cavaleiros de Typhon, com suas áreas de treinamento e atividades correlatas.

O último nível, o mais elevado e imponente, coroa a cidade com o castelo do guardião do reino, Typhon.

As ruas de Procellae pulsam com uma variedade de comércios, desde bibliotecas e mercados até aconchegantes tabernas e forjas habilmente trabalhadas.

Entretanto, fica evidente que, por enquanto, minha experiência nesse ambiente é observar, não participar.

As casas, erguidas com madeira, exibem tamanhos convencionais e ostentam tons de branco ou bege, enquanto janelas guarnecidas por telhados triangulares completam a arquitetura típica de um reino medieval.

Com a tarde cedendo espaço à noite, e sem abrigo seguro, somos compelidos a procurar refúgio em uma taberna que se ergue à nossa frente. As tábuas escuras de carvalho compõem sua estrutura, ornamentada por panfletos de comércios locais e anúncios dos cavaleiros de Typhon que enfeitam suas paredes externas. Sustentada por robustas correntes, uma placa pendente com a imagem de um copo repleto de cerveja sinaliza a natureza do estabelecimento. Com Monaurum a meu lado, adentro o recinto e ocupo um assento diante da bancada.

O barman, um jovem alto e imponente, me cumprimentou com uma expressão franca, seus olhos castanhos irradiando uma mistura de curiosidade e serenidade. Seus cabelos curtos, escuros como a noite, apresentavam uma única mecha dourada que repousava sobre sua testa, conferindo-lhe um toque de singularidade. Uma cicatriz marcava sua face, um testemunho silencioso de experiências vividas, enquanto seu olhar profundo transmitia uma sensação de firmeza e compreensão.

O Conto de Alguém Sem NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora