Vermelho: a cor do sangue

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" Eu costumava me perguntar o porquê
Por que eles nunca podiam ser felizes
Eu costumava fechar meus olhos
E rezar pra ter uma outra família
Sasha Sloan - Older "

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Martinne fechou a porta de seu quarto, ouvindo os gritos de seu pai contra sua mãe, sentindo repulsa ao testemunhar seu pai forçando a esposa ter relações sexuais, tudo na presença da filha. Ela se escondeu sob as cobertas, como sempre fazia quando seu pai voltava em um estado muito deprimente. No entanto, desta vez, o medo dela se intensificou, pois conseguiu ouvir a mãe rebatendo os insultos que lhe eram dirigidos. Sempre que isso acontecia, o pai a agredia e a trancava no baú, uma realidade horrível para a menina.

Sua respiração começou a falhar, não apenas devido ao pequeno espaço confinado em que se encontrava, mas também devido aos sons de tapas. Os tapas se intensificaram, transformando-se em socos. Martinne sentiu uma urgência em descobrir o que estava acontecendo e saiu de seu esconderijo, que de seguro não tinha nada.

Ela abriu a porta com cuidado, mas o assoalho antigo rangeu, assustando-a. Ela ficou chocada ao ver sua mãe espancando seu pai, mas de uma forma diferente. Surpreendentemente, ela não sentiu medo; pela primeira vez, desejou que sua mãe continuasse. No entanto, assim que sua mãe notou sua presença, ela se afastou, olhando-a com perplexidade. Martinne não conseguia acreditar que sua mãe havia feito isso.

[...]

Ao acordar atordoada, a garota percebeu que era apenas um pesadelo. Ela respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado, enquanto olhava ao redor, buscando algum sinal reconfortante de realidade. As sombras dançantes na parede e o suave chiar do ventilador acima dela lentamente dissiparam a sensação sufocante do sonho. Ela fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens assustadoras que persistiam em sua mente, desejando encontrar um refúgio em pensamentos mais tranquilos e reconfortantes. Com um suspiro de alívio, ela se convenceu de que tudo não passava de uma criação de sua mente, e que a segurança de seu quarto era, de fato, a realidade que ela tanto ansiava.

Ela se levantou com cuidado, notando que Erick e Jacob estavam abraçados em sua cama. Há algumas noites, o pai deles havia desaparecido, deixando um envelope com dinheiro antes de sumir. Naquela noite, a polícia de Sultern bateu à porta dos Austins em busca do pai, mas ele não foi encontrado. Durante a busca, encontraram uma pistola calibre 22 e outras armas desconhecidas, além de 40 mil dólares em espécie e quase 5 quilos de drogas no baú onde Martinne guardava memórias sombrias. Seu pai, Joseph Austin, foi preso enquanto tentava fugir do país, deixando Martinne com o fardo de lidar com a situação.

Havia se passado dez dias desde que o homem havia arrumado o trabalho, mas parecia que tudo se desmoronou.

Embora Joseph estivesse sóbrio há algumas semanas e tivesse conseguido pagar os atrasos de aluguel, água e luz, além de comprar comida, Martinne se sentiu feliz, por mais que não soubesse de onde vinha o dinheiro. Ela acionou um advogado público, o Advogado Leighton, que viria aquela manhã para conversar com ela.

No banheiro, Austin examinou seu reflexo no espelho. Seus cabelos estavam ligeiramente mais curtos do que o normal, resultado de uma tentativa de mudança que não deu certo. Embora seu rosto parecesse saudável, havia uma aura de preocupação que a consumia. Ela passara as últimas 48 horas tentando não se preocupar com o pai, mas estava claro que era uma batalha perdida. Enquanto ela se preparava para o dia, sentiu o peso do mundo sobre seus ombros, especialmente por saber que teria que enfrentar o advogado em breve.

Austin acordou Jacob, cujas aulas começavam mais cedo do que as de Erick. Os dois meninos não sabiam o que esatava acontecendo, e Martinne fez questão de esconder a verdade para protegê-los. Eles já haviam perdido a mãe cedo demais, e não seria fácil contar que seu único laço de sangue paterno estava indo embora também.