CAPÍTULO I

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Londres, 1818

O silêncio e a calmaria incomum inundava as ruas do centro da cidade, essa paz momentânea era apreciada pelos que calmamente circulavam por ali já que em poucas semanas aquelas mesmas ruas não seriam nem sequer a sombra do que eram naquele momento. Em poucas semanas as ruas seriam tomadas por cavalos fortes puxando carruagens grandiosas e na porta de cada uma das suntuosas residências haveriam criados que em fila carregariam os baús repletos de fitas, laços, chapéus e vestidos elaborados, era assim em todos os anos quando era dada a largada da temporada na grandiosa Londres.

Edward sabia de tudo isso, enquanto caminhava pela calçada vazia já podia imaginar o congestionamento de chapéus rebuscados de que teria a visão privilegiada em algumas poucas semanas. Não havia como evitar, tinhas obrigações a cumprir na cidade que não poderiam mais ser adiadas. Possuidor de um dos ducados de maior honra e prestígio de que se tem notícia, Edward Christopher Kilmar, Duque de Cambridge, sabia de seus deveres, soubera de todos eles quando suas calças nem ao menos tocavam o chão, tinha terras para administrar, um lugar no parlamento para ocupar e herdeiros a gerar.

Suas terras pareciam ter sido abençoadas, não haviam reclamações dos arrendatário, era como se até mesmo o gado que dali se alimentasse crescesse e se multiplicasse em uma velocidade anormal, seu lugar no parlamento estava seguro, ainda que não frequentasse tão assiduamente a corte, recebia relatórios de cada uma das sessões enviados por seu representante. Restava apenas uma área de sua vida que naquele momento exigia maior atenção.

Mas essa talvez fosse sua maior dificuldade, não que a companhia feminina de algum modo o dessagrasse, pelo contrário, sempre foi cliente assíduo de certas casas voltadas ao prazer masculino, mas aturar mães casadouras e jovens insípidas em bailes com salões lotados, bebida quente e comida ruim não estava entre suas virtudes. Ser apresentado à alguém que sorri e gesticula em concordância enquanto uma outra pessoa lista suas excepcionais características nunca lhe pareceu algo animador. Não se imaginava ao lado de alguém assim compartilhando nem sequer uma xícara de chá, o que dirá o resto de sua vida, não que buscasse amor, nem ao menos acreditava nele, se encontrasse uma jovem que o aceitasse e que lhe agradasse ao invés de o enfadar já se consideraria um homem de sorte.

O dia estava cinza, o que combinava perfeitamente com seu humor naquele momento, depois de uma reunião absolutamente inútil Edward decidiu voltar caminhando para casa, infelizmente o caminho fora o curto para se livrar da raiva que sentia pelo tempo perdido, o fazendo pegar o primeiro cavalo selado que viu quando chegou em casa e já partir para uma corrida no Hyde Park, precisava aproveitar daquele lugar enquanto não era tomado pelos grupos que logo mais chegariam na cidade.

Não tão distante dali, uma certa jovem recitava mentalmente alguns trechos de suas peças teatrais preferidas que pela repetida leitura havia decorado enquanto tentava dissuadir sua mente de se concentrar na dor dos puxões que sentia enquanto seus cabelos travavam uma batalha sangrenta contra a prisão de grampos e laços a qual tentavam submetê-los, o que, para Clara, não fazia sentido, já que logo após o penteado rebuscado ser finalizado um grande chapéu de abas largas foi posto em sua cabeça.

O que uma dama espera de sua temporada? Encontrar o amor verdadeiro provavelmente será a resposta de todas elas, mas após alguns anos de incansável procura Clara não tinha mais tanta certeza de que ele realmente exista. Por todos esses anos vinha observando, conversando e dançando com incontáveis cavalheiros perfeitamente apropriados para o cargo de seu futuro marido, mas em nenhum deles encontrou algo que de fato mexesse com seu coração, algo que a deixasse com as mãos suando e as pernas trêmulas, ou que ao menos a fizesse ansiar por um segundo encontro, ao invés de sempre desejar copiosamente o fim do que mal havia começado.

Pelo amor da minha duquesaOnde histórias criam vida. Descubra agora