Um desfile infindável de chapéus, cartolas e laçarotes já se fazia presente nas movimentadas e enlameadas ruas londrinas. A abertura oficial da temporada seria dentro de alguns dias, mas as famílias mais tradicionais, ou as mais desesperadas, já abriam as janelas de suas residências a tanto tempo fechadas, deixando se esvair a poeira e entrar a brisa quase sempre fria e chuvosa.
Uma época marcada não somente pelas reuniões do parlamento, mas também pela presença acentuada de visitantes e sócios nos clubes masculinos, pelas idas frequentes às modistas mais conceituadas da cidade, pelos chás regados a doces finos e línguas afiadas e pelos tão falados e ostensivos, bailes luxuosos.
Alguns aguardavam ansiosos por essa data, era grande a oportunidade de se fazer um grande negócio, seja vendendo uma propriedade, um cavalo, ou uma filha.
Essa era a opinião, um pouco impopular, de Clara enquanto parecia ouvir atentamente todo o discurso que seu pai fazia em seu escritório.
— Esperei até hoje para que fizesse sua escolha, nós dois sabemos como lhe dei liberdade em todos esses anos. — Clara o olhava enquanto fingia bebericar de sua xícara já fria. — Não pense que a trato como um de meus cavalos.
— Nem ousaria.
— Não estou lhe vendendo, sabe que não preciso desse dinheiro, pelo contrário, devo cuidá-la, você, assim como suas irmãs sempre serão minha prioridade, acredite em mim quando digo, o futuro de uma mulher que não aproveita sua juventude para se casar, para construir a própria família é muito triste, não quero algo assim para você!
Por mais que quisesse discordar Clara não podia, sabia que tudo que seu pai dizia era verdade, o futuro de uma mulher solteira era acabar servindo na casa de outros nobres, seja como preceptora ou como governante, e ela não queria algo assim para si, não queria ter que cuidar dos filhos dos outros, queria sua própria família, Deus sabe como queria, mas em todos esses anos não havia encontrado alguém que realmente lhe parecesse qualificado o suficiente par estar nesse futuro com ela. Não colocaria em sua vida alguém que a visse como um contrato.
Não que acreditasse no amor, ao menos não no amor retratado em alguns dos livros que lia, no encantamento cego e na devoção plena de um para o outro, mas acreditava na amizade, no carinho e no companheirismo que um casal podia compartilhar dentro de uma relação, e era isso que queria, apenas não havia encontrado a promessa de algo assim nos pretendentes que a procuraram, não até agora.
— Como já lhe disse, quero que tenha a oportunidade de escolher seu marido, assim como suas irmãs fizeram, quero que opine na escolhe daquilo que será seu futuro, mas se não o fizer nessa temporada terei que tomar as rédeas da situação!
— Isso é uma ordem?
— Se fizer com que se case nessa temporada, sim, é uma ordem! Vá aos bailes, frequente a ópera, o teatro, seja vista e se mostre receptiva, sem exageros é claro, aceite os cavalheiros que se aproximarem e a convidarem para dançar, se dê ao menos a chance conhecê-los, me apresente um pretendente aceitável nessa temporada, ou enviarei um anuncio de noivado com seu nome antes de voltarmos para o campo.
Apesar de certa dureza em sua fala, Clara sabia do carinho e da preocupação de seu pai, sabia que aquele ultimato nada mais era que um pedido silencioso para que não o abrigasse a tomar atitudes que obviamente não queria, mas que infelizmente logo, logo seriam necessárias.
Poderia o casamento ser algo aceitável? Prazeroso até? Edward nunca achou que algum dia teria essa dúvida, mas havia se pegado pensando nessa possibilidade em mais vezes do que queria admitir.
Não achava mais tão difícil assim se imaginar ao lado de alguém em definitivo, desde que esse alguém fosse dotado de certas habilidades como a capacidade de desenvolver um bom diálogo, de preferência com respostas rápidas e espirituosas, alguém com quem pudesse de fato se entreter, também se importava com seus dotes físicos, um rosto agradável aos olhos e um corpo que lhe despertasse não seria mal, mas confessava que de uns tempos para cá havia criado uma certa predileção para olhos brilhantes, boca pequena e delicada e cabelos longos tão escuros que parecessem mudar de cor de acordo com a luz.
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Pelo amor da minha duquesa
RomanceQuando Edward Christopher Kilmar, Duque de Cambridge, decidiu se casar não buscava, tampouco esperava encontrar um grande amor, tudo o que queria era cumprir mais uma das tantas regras que a alta sociedade lhe impunha, porém, toda sua aversão a cont...