CAPÍTULO IX

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 O som das rodas sobre o cascalho inundava todo o ambiente, o farfalhar do tecido sobre o estofado e até o relinchar dos cavalos que puxavam a carruagem completavam a sinfonia ouvida, mas o barulho não era alto, poderia até passar despercebido se não fosse pelo silêncio ensurdecedor que ali reinava, pela janela se via a poeira da estrada nublar um pouco a vista, mas mesmo assim se podia ver a infinidade de árvores altas, baixas, tortas ou esguias, se repetindo em um carrossel entediante e previsível, mas que por algum motivo prendia a atenção de Clara que ali fixava sua mirada desde o momento que embarcaram.

Ela não havia falado muito até aquele momento durante a viagem, um ou outro comentário sobre o clima ou sobre a paisagem que desfilava por sua janela mas nada muito além disso, diferente da jovem com quem se encontrou tantas outras vezes, mas Edward compreendia aquele mutismo, damas recém casadas certamente se tornavam introspectivas nos momentos que antecediam sua primeira noite, o nervosismo e o medo da intimidade provavelmente as faziam se recolher, mas Edward seria paciente, mesmo sonhando com aquele momento a tantas noites seria calmo é compreensivo, mostraria a Clara todos os prazeres que os momentos a dois poderiam lhe proporcionar, a ajudaria a perder o medo, a se entregar e a desfrutar ao máximo daquele encontro.

Clara era uma jovem moderna, à frente de seu tempo podia-se dizer, tinha ideias nada convencionais para uma dama de sua posição, tinha sonhos inconvenientes, anarquistas até. Mas Edward sabia que toda essa modernidade tinha um limite, parte de si se mantinha conservadora, apesar da idade avançada em comparação às debutantes daquela temporada, tinha certeza que Clara pouco sabia sobre a vida, principalmente sobre questões práticas da vida a dois, os beijos trocados que acenderam ambos os corpos revelavam isso, Edward podia sentir sua curiosidade e o descobrimento de sensação novas naquelas simples carícias, podia sentir as mãos que lutavam contra o desejo interno de toca-lo, de explorar seu corpo. Essa luta era compartilhada.

Edward também lutava contra si mesmo cada vez que seus olhos recaíam sobre Clara, lutava contra o desejo constante de mais uma vez provar seus lábios, de mais uma vez tocar sua pele, lutava contra a vontade de arrasta-la pra um lugar isolado, longe dos olhos curiosos e julgadores, de avançar sobre os botões forrados e delicados de seu vestido, de ver o amontoado de tecido aos seus pés e finalmente apreciar a visão de sua Afrodite, sua deusa esculpida em mármore.

Essa luta se encerraria em poucas horas e dela sairiam dois vencedores, Edward mal podia esperar.

Respirar ali dentro parecia cada vez mais difícil, mesmo com ambas as janelas abertas o perfume de Clara tomava conta de todo o espaço, impregnado em toda parte, senti-lo tão forte assim acendia ainda mais seu corpo já desperto, já faminto. Tudo nela o avivava, até mesmo a simples forma como ela comprimia os lábios o deixava de boca seca.

Não haviam mais amarras poderia naquele momento trazê-la para seu colo e descobrir os diferentes sabores que sua pele possuía ao longo de seu corpo, mas não, não consumaria seu casamento nos bancos de uma carruagem luxuosa em movimento, sua primeira noite de comunhão merecia a plenitude de seu quarto, a carruagem seria uma opção futura. Edward seria forte, lutaria mais essa batalha, guardaria nos bolsos as mãos afoitas pelas horas de viagem que ainda restavam, afinal, o que seriam poucas horas de espera quando comparadas às noites que estavam por vir.

Horas.

Estava a horas naquele mesmo maldito ponto da estrada, ao lado daquela maldita carruagem que havia quebrado umas das rodas, daquela maldita roda que havia se partido ao passar em um buraco e daquele maldito buraco responsável por todo contratempo.

Profanas eram as palavras murmuradas por ele enquanto, livre de sua casaca e com as mangas arregaçadas, ajudava seu cavalariço a encaixar a roda sobressalente de volta ao eixo, trabalhos braçais não o amedrontavam sobretudo quando tinha um objetivo maior em mente.

Pelo amor da minha duquesaOnde histórias criam vida. Descubra agora