CAPÍTULO IV

62 14 119
                                    


Algumas pessoas possuem a sorte atrelada a seu nome e naquele momento Clara pensou ser uma delas.

Quando voltou para casa depois de uma caminhada um pouco mais árdua do que estava planejando, Clara subiu às pressas para seu quarto, ignorando todos os olhares curiosos dos criados que a viram chegar e implorando internamente a qualquer santidade que a ouvisse para que seu pai não cruzasse seu caminho naquele momento, lidar com os mexericos na cozinha seria infinitamente mais fácil do que convence-lo de que daquela vez o estado em que se encontrava de fato não havia sido sua culpa.

Um suspiro de alívio escapou de seus lábios quando ela enfim se fechou no quarto, seguido é claro de um agradecimento aos céus por não ter sido pega, ao menos ela achava que não.

— Clara? — Chamou uma voz conhecida. — Por tudo que há de mais sagrado, o que aconteceu dessa vez?

Mary a olhava dos pés à cabeça sem saber se dava mais importância ao penteado, feito com tanto esmero, que estava destruído, ao suor que escorria em seu rosto avermelhado, às manchas em seu prestimoso vestido ou aos bordados delicados e agora destruídos de sua saia.

— Tive um imprevisto.

— Posso ver, mas não sei se chamaria isso de imprevisto, seu pai a viu nessa situação?

— Não, devo estar me aprimorando em minhas orações, nem ele nem lorde Clifford estavam em meu caminho.

Clara começou a desfazer os laços que ainda estavam inteiros de seu vestido e a buscar pelos grampos que ainda restavam presos em seus cabelos e Mary logo veio ajudá-la.

— Devo perguntar o que de verdade aconteceu ou é melhor me preservar para não mentir quando for inquirida? Não quero ser cúmplice de nenhum crime criança.

— Não será, a não ser que a felicidade alheia precise ser julgada pela corte.

— Como uma jovem como a senhorita pode estar feliz nesse estado?

Clara não respondeu, nem ao menos sabia se poderia pôr em palavras a euforia que tinha por dentro, Mary também não voltou a questioná-la, se conformando em encobrir o sumiço de mais um vestido arruinado.

Não tão longe dali, Edward voltava para casa com sua bolsa de caça vazia mas com um sorriso tão grande que não cabia em seu rosto, Duque o seguia ainda saltando e brincando entre as patas do cavalo, se soubesse o quão proveitosa aquela saída seria teria passado a noite do lado de fora apenas esperando por aquele momento. Seus pensamentos se mesclavam entre a euforia e a surpresa. Ao longo de sua vida conheceu todo tipo de gente, diversas famílias da alta sociedade britânica, tinha amigos de colégio, homens também nobres, comerciantes, aldeões com famílias numerosas, e em certo momento foi apresentado a um príncipe durante um dos bailes que frequentou, mas em todos esses anos, nos mais diversos eventos e nas mais diferentes situações nunca havia conhecido alguém como ela.

Uma jovem claramente pertencente a alta sociedade, mas que ao mesmo tempo parecia menosprezar tudo o que aquilo representava, uma dama de penteados rebuscado e vestidos caros e bonitos mas que sorria enquanto ele era arruinado por um banho de chuva ou destruído pelo "ataque" de um cão descontrolado, um belo sorriso por sinal. Edward nem ao menos se dava conta, mas a simples lembrança daquela jovem tão diferente também o fazia sorrir, e ele vinha sorrido muito nos últimos dias, mais precisamente, desde que chegou em casa lavado por uma chuva primaveril.

Não saber quem de fato era ela talvez pudesse explicar todo esse encanto, o mistério a respeito de sua identidade, seu nome, não que isso fosse mudar a impressão que ela lhe causou, os olhos expressivos e o sorriso fácil e encantador ainda possuiria a mesma dona, mas nomeá-la era algo importante se quisesse tornar aqueles encontros acidentais mais rotineiros.

Pelo amor da minha duquesaOnde histórias criam vida. Descubra agora