CAPÍTULO II

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Edward nunca fora de reclamar, na grande maioria das vezes buscava o melhor de cada situação que vivenciava, quando chegava em Londres para tratar de algum assunto procurava pela companhia de velhos amigos nas horas vagas e se refugiava nos melhores clubes de cavalheiros que a capital tinha a oferecer, suas noites eram sempre regadas de bons whiskys, bons charutos e por vezes, de boas e agradáveis companhias femininas.

No campo seus prazeres eram outros, gostava de atirar, de caçar e de cavalgar livre em suas terras, além de cuidar de sua propriedade e dos que viviam nela. Sempre que estava ali resgatava suas memórias de menino quando escapava de alguma atividade que não o agradava e se refugiava na copa alta de alguma árvore abastada o suficiente para o esconder por entre seus galhos. Mesmo tentando aproveitar o melhor de mundos tão distintos, Edward não poderia negar, estar no campo tinha sua maior afeição.

Assim que chegou de Londres, Edward embarcou por inteiro em todo o trabalho que sua propriedade exigia, por mais que fosse libertador estar de volta não se eximiria de suas obrigações, logo se reuniu com seu administrador e partiu para visitar seus arrendatários e vistoriar o bom estado de suas casas, de suas plantações e do gado que criavam, gostava de ter a certeza do bom funcionamento e da produtividade daquelas terras assim como da qualidade de vida dos que moravam ali.

Edward era querido por seus arrendatários, seu trabalho duro trazia recompensas que iam além da boa renda financeira, parte desse respeito e dessa consideração por vezes era convertido em presentes, era comum Edward voltar para casa carregado com cestas de ovos, cenouras recém colhidas, pães ainda quentes e todo o tipo de produção que lhe podiam oferecer, todavia, uma de suas visita o havia premiado com um presente um pouco inusitado.

O sol da manhã acertava seu rosto em cheio enquanto cavalgava, aquecendo e avermelhando sua face, Edward gostava daquele horário da manhã, do silêncio, da calma e de poder estar sozinho, mas o ruído que pode ouvir logo atrás de si o vez lembrar de que não estava assim tão só. Uma roliça bola de pelos corria por entre as patas de seu cavalo o fazendo ter de desviar a todo instante.

Duque, um labrador de tamanho considerável era a grande ironia de sua vida. O cachorro, que havia sido batizado em sua homenagem, lhe foi dado de presente por um de seus arrendatários com a promessa de se tornar um exímio cão de caça, mas essa não era sua atual realidade.

Edward o havia treinado desde cedo para o esporte que tanto gostava, ao menos tentara, pelas duas, três, quatro ou talvez cinco vezes em que saíram para praticar mas em todas acabava o dia o vendo se esfregar de costas na grama com as patas para o ar, o cão parecia se dedicar mais a trançar por entre as patas de seu cavalo e de por vezes latir e saltar em direção aos pelos longos do rabo que o cavalo balançava durante a caminhava, ainda lhe faltava a calma e a sutileza necessária para uma emboscada bem sucedida, mas logo se embrenharia na mata mais fechada e esperava, dessa vez, ter um pouco mais de sorte com as habilidades de Duque.

O sol mal havia se descoberto quando Clara pulou da cama, depois de dias seguidos de tempo cinza e dias chuvosos esperar que o café da manhã se encerrasse para finalmente aproveitar uma caminhada lhe parecia mais uma prova de resistência física.

Clara havia dado pulos de alegria quando o pai lhe informou que passariam alguns dias na residência de campo de lorde Clifford, com quem tinha assuntos importantes a tratar, não que Londres a desagradasse, mas estar ali antes da temporada fazia seu coração palpitar em ansiedade.

Seu pai nem por um instante cogitou deixá-la em Londres enquanto tratava de seus assuntos, por tudo que conhecia da filha corria sérios riscos de que, quando retornasse, não encontrasse mais Londres como um dia fora.

Quando viu seu pai começar a se movimentar para deixar a mesa de café, acompanhado de lorde Clifford, Clara também começou a se preparar e assim que ele se virou de costas ela logo ficou de pé, mas antes que pudesse sair ele cobrou sua atenção.

— Clara! — Ele a chamou ainda estando de costas.

— Sim meu pai?

— Talvez deva subir e praticar seu bordado.

— Assim farei, apenas planejava me sentar no jardim um pouco para aproveitar o dia.

— Deixe a menina Wood, minhas terras são seguras, não há perigo em explorar as redondezas.

— Não diria isso se conhecesse bem minha filha, os caminhos por onde passa costumam não mais serem como antes.

— Deixe de bobagem, o que uma jovem tão delicada poderia fazer de mal em uma caminhada?!

Lorde Wood respirou fundo, mais uma vez vencido pelas vontades da filha.

— Mantenha-se nos limites da propriedade ouviu bem!

— Sim meu pai!

Clara se virou já com um sorriso nos lábios, mas seu pai mais uma vez a chamou.

— Clara! — Ela se virou para ele mais uma vez. — Nada de surpresas dessa vez!

Ela apenas assentiu e logo saiu pelas portas largas não querendo correr o risco dele mudar de ideia, ainda não havia lhe dado o devido tempo para se esquecer da imagem da filha chegando em casa ensopada depois de ter atravessado todo o Hyde Park naquela situação para quem quisesse ver, para sua sorte a chuva havia espantado a maioria das pessoas para a segurança de suas carruagens ou casas.

Clara correu por entre arbustos e folhagens, a trilha geralmente usada para caminhadas revigorantes a tempos não era vista por ela, afinal, qual seria a graça de conhecer caminhos já conhecidos, de explorar paisagens já vistas, não haveria aventura nenhuma em descobrir o que fora descoberto, a emoção da surpresa e da liberdade era uma de suas preferidas.

Era bom estar no campo, se ver um pouco longe das regras da alta sociedade, das cobranças e dos olhares carregados de julgamento, era bom poder voltar para casa com os rosto avermelhado pelo sol, com as gotas de suor começando a se formar em sua pele, com as barras do vestido sujas e com o cabelo um pouco desalinhado, e era exatamente assim que Clara estava naquele momento.

Praticamente impossível era precisar a quanto tempo caminhava, uma hora talvez, duas no máximo, ela não saberia dizer, tão pouco sabia quais eram os limites daquela propriedade, nem ao menos havia se dignado a perguntar antes de sair apressada, não poderia se demorar, sabendo que corria o risco do pai mudar de ideia sobre sua permissão, a distração por querer fazer o que realmente gostava levava toda a culpa por tal falha, bom, talvez também devesse atribuir algum credito a sua costumeira falta de prudência. A ausência daquela qualidade tão apreciada chegava a ser sentida por ela mesma quando se via em situações inusitadas e pouco costumeira para um membro da nobreza, situações como a que vivia naquele momento.

Ao longe se ouvia o comumente ruído da vegetação, galhos se partindo, folhas secas sendo esmagadas por algum animal, algum pequeno certamente, tendo em conta a proximidade da propriedade de lorde Clifford, Clara caminhava ainda hipnotizada, vasculhando com os olhos cada detalhe de onde passava, cada nova árvore, cada nova flor que encontrava pelo caminho, se concentrava em cada novo som, cada canto, a procura do pássaro que seria seu dono.

Havia sido um latido? Clara não teve tempo nem de pensar sobre já que no instante seguinte sentiu uma grande massa ser lançada sobre si a levando imediatamente ao chão, o impacto em suas costas fez um gemido escapar de seus lábios ao mesmo tempo em que seu rosto se retorceu pela dor, no instante seguinte sua face foi banhada pelo que pode imaginar ser um líquido quente e um tanto viscoso ao mesmo tempo.

Ainda que por um instante, Clara deu um pouco de razão a seu pai, quem diria que uma caminhada simples, ainda que por novas trilhas, poderia escalonar em poucos segundos? Os caminhos por onde passava certamente não seriam mais como antes.



Oi pessoal, segundo capítulo postado, espero de coração que gostem, pretendo estabelecer uma rotina de postagem pra não deixar ninguém ansioso, muito obrigada a cada um leu!

Um agradecimento especial a @JosiEndres pela minha primeira estrelinha no capítulo I!

Beijos e até o próximo !!

Pelo amor da minha duquesaOnde histórias criam vida. Descubra agora