Capítulo 11

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Samantha paralisou de medo. Recuou para trás. Parecia-lhe estar num filme de terror. Era como se estivesse encurralada e não houvesse nenhuma saída. Enfrentar o monstro não entrava nos seus planos nem nos seus sonhos mais loucos. Teria de tirar o chapéu a Ken, pois não sabia como é que o amigo poderia ter arranjado a força e coragem para enfrentar o tio.

Olhou para Ken. Não era preciso dizer nenhuma palavra para saber quem os esperava. Ken conhecia muito bem aquele olhar, aquela angústia e aquele medo. Eram demasiado familiares. Ao contrário de Samantha, sabia controlar o seu medo e enfrentar a ameaça, devido aos anos que trabalhara para a máfia tailandesa.

James continuava a bater repetidamente. Estava enfurecido. Pol olhou para Ken, esperando a resposta de Kinn. Engoliu em seco e sentiu um gosto amargo na boca. Ken estava por sua conta.
Fechou os olhos e respirou fundo. Não era a primeira vez que enfrentava o seu tio e não estava sozinho. James não o iria magoar com Samantha ali presente. Certo?

- Sam? - esperou que ela olhasse para si. - Eu vou abrir a porta, está bem?
Samantha olhou-o petrificado e balbuciou um leve "não".

Abanou a cabeça quase em pânico. Assim que viu Ken a avançar em direção à porta, agarrou-lhe no pulso com força, implorando-lhe.

- Shh, está tudo bem! Tem que ser, é melhor assim. - Ken disse alisando-lhe o cabelo. Viu os seus olhos a ficarem húmidos. - Eu vou ficar bem.

Assim que abriu a porta, James entrou como se estivesse numa corrida de cavalos. Quase o derrubou. Samantha recuou um passo, enquanto que Ken pensava no que iria dizer. Foi a muito custo que conseguiu sustentar o olhar do tio.

- O que raio pensas que estás aqui a fazer? Vieste por debaixo do teu amante?

Ken olhou-o incrédulo. Apesar de tudo o que o seu tio já lhe mostrara, ainda se conseguia surpreender.

- O quê? Não, não fales assim de Mark!

- Com ela, é que não foi! - disse levantando o polegar em direção a Samantha.

Nessa altura, Samantha era como uma estátua. As suas frontes eram tão brancas como a cal e o seu olhar estava perdido como um náufrago à deriva no mar. Ken perguntava-se se também ele espelhava aquela imagem ou se conseguia escondê-la. Esperava que sim. Não queria mostrar ao tio o poder que este tinha sobre si.

- Eu vou contigo, mas por favor, não faças nada.

James continuou a encarar Samantha.

- O que é que ela tem? Parece que viu um demónio.

"Por acaso, até viu". Apeteceu-lhe dizer, mas não o fez. Não o ajudaria em nada na situação. Temia pela amiga. Ver Samantha assim deixava-o muito apreensivo. Queria sair dali o quanto antes.

- Vamos, tio, por favor!

Os acontecimentos daquele dia passavam na sua cabeça como se fossem de um filme. Era de loucos e foi assim que se sentiu. Não conseguia dormir. Esperava que Pol fosse bem sucedido na sua missão e que Kinn voltasse a ter de novo o domínio dos seus negócios na Austrália. A bem da sua insanidade mental, queria que tudo aquilo acabasse.

Sabia bem que não poderia julgar James a respeito da sua vida oculta, porque também ele fizera coisas das quais não se orgulhava. Mas se alguém lhe desse o poder de voltar atrás no tempo, tinha a certeza que mudaria algumas coisas, mas não o facto de ter entrado na máfia tailandesa.

Conhecer Big foi e sempre será uma benção na sua vida, apesar de todas as mágoas que a sua lembrança lhe pode trazer. Não conseguia deixar de sorrir ao pensar nele, ao mesmo tempo que sentia a melancolia a apoderar de si.

Suspirou. Pôs o braço atrás da cabeça. Estava ansioso para estar com a sua tia Celestine. Sabia que podia sempre contar com ela. Tinha sempre um bom conselho para qualquer situação e uma palavra gentil para dizer. Sentia falta dos seus tios Margaret e Carl. Também era por eles que aguentava todas as provações que James o fazia passar.

Teria de ser forte agora. Teria de lutar por si, pela sua felicidade. Merecia isso. Talvez não. Mas que importa? Se Celestine o confirmasse, então faria disso o seu objetivo de vida e o receberia de braços abertos. Queria com todas as forças que fosse um redondo "sim", apesar de estar assustado. Era normal.

Achou engraçado que Austrália sempre fora o seu ponto de recomeço e o início de uma nova vida. Pela primeira vez, não se importou e estaria pronto para todas as adversidades que o esperariam.

Começava a aceitar Big como parte do seu passado. Sabia muito bem que bastava o outro dizer que correria para os seus braços. Mas sabia que não aconteceria. Não acreditava em Pol. Ele não sabia as coisas horríveis que o outro dissera nem a força e o tamanho da raiva que Big sentia. Simplesmente, não sabia e Ken compreendia. Ele traiu-os e pôs em risco a vida de todos, então porque o ajudariam agora e seriam sinceros consigo?

Ken concluiu que Kinn mostrara tanto interesse nele porque precisava dele. Precisava, novamente, de controlar os seus negócios na Austrália e Ken tinha as conexões que Kinn queria. Derrubando James, mostrava de novo o seu poder e deixava bem claro para as outras gangues quem é que mandava.

Estava tão perdido nos seus pensamentos que a notificação de uma mensagem assustou-o. Sentou-se na cama e lágrimas rolavam pelos seus olhos. Fechou os olhos com força. Só uma pessoa é que lhe chamava de anjo. O seu coração batia descontroladamente e toda a sua convicção tinha se esvaido pela terra. Ele até podia pô-lo no passado, mas poderia também por os seus sentimentos?

BigKen - Depois da traiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora